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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/07/2010 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora

Encontro Explosivo
Knight and Day

Dirigido por James Mangold. Com: Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard, Jordi Mollà, Viola Davis, Paul Dano, Marc Blucas, Maggie Grace, Celia Weston.

Um longa de ação repleto de seqüências burocráticas de lutas, perseguições e tiroteios. Uma comédia romântica sem muita graça e que traz um casal unidimensional cujo envolvimento jamais importa de fato para o espectador. Uma superprodução sabotada por efeitos visuais embaraçosos. É triste constatar isso, mas Encontro Explosivo falha em basicamente tudo que se propõe a fazer, só não se tornando um fracasso completo graças ao carisma de seus protagonistas – que, ainda assim, estão longe de exibir o charme que conferiam aos seus trabalhos quando se encontravam no clímax de suas respectivas carreiras.

Partindo de um roteiro original do estreante Patrick O’Neill que eventualmente seria reescrito por oito profissionais diferentes, o filme traz Tom Cruise como o agente da CIA Roy Miller, que, perseguido pelos próprios colegas, acaba se envolvendo por motivos obscuros com a civil June Havens (Diaz) ao vislumbrá-la em um aeroporto. Perseguidos pelo determinado Fitzgerald (Sarsgaard) e pelo traficante espanhol Antonio Quintana (Mollà), os dois iniciam sua aventura em um avião apenas para acabarem percorrendo meio mundo em carros, trens e lanchas enquanto tentam proteger um dispositivo batizado de Zefir – uma espécie de MacGuffin que poderia ser substituído pelo Krytron de Busca Frenética (com o qual até se parece) ou pela maleta de Pulp Fiction. (O objeto só não é um MacGuffin típico porque acaba sendo utilizado pelo herói para... bom... sem querer revelar nada, digo apenas que em certo instante ele deixa de ser apenas algo que todos perseguem e exerce certa função, o que o distancia da definição clássica de Hitchcock.)

Mantendo os protagonistas em constante movimento para tentar despistar o fato de que não há muita história a ser contada, os nove roteiristas* (sempre um péssimo sinal) até conseguem estabelecer uma certa lógica interna à narrativa, embora jamais consigam explicar de forma totalmente satisfatória a razão que leva June a se tornar tão importante para Ray. Sempre desconfiando da inteligência do espectador (não que muita seja necessária para acompanhar este filme), o roteiro chega a cometer a velha ofensa de obrigar um personagem a explicar em voz alta o que irá fazer, já que certamente teme que tenhamos esquecido de que a mocinha acabou de aprender a usar um determinado golpe para se livrar de seus agressores.

Comandado pelo normalmente eficiente James Mangold (Cop Land, Identidade, Os Indomáveis), Encontro Explosivo tem início de forma promissora ao se concentrar nos personagens que acompanharemos ao longo das duas horas seguintes – e a conversa calma, em tom baixo, mantida pelo casal no avião serve como um excelente contraponto à ação que toma conta da tela nos momentos seguintes. Da mesma maneira, o cineasta estabelece de maneira rápida e divertida a eficiência maluca de Roy como agente numa ótima seqüência em que June, drogada, apenas entrevê flashes das várias aventuras vividas pelo sujeito ao tentar salvá-la de seus perseguidores. Para completar, Mangold ainda faz uma brincadeira inspirada com o irritante clichê do motorista que, ao manter uma conversa com alguém em um carro, jamais parece olhar para a estrada ao dirigir, o que se revela uma grata surpresa.

Buscando se restabelecer como herói de ação depois de passar os quatro últimos anos investindo em projetos que comprometeram sua velha reputação de campeão de bilheterias (não que isso deva importar para os cinéfilos de verdade), Tom Cruise volta a exibir o velho charme e a confiança de um sujeito seguro de si mesmo – algo fundamental para o papel. Além disso, a aparente instabilidade psicológica de Roy é ressaltada pelo excesso de energia costumeiro do ator, que há muito não se mostrava tão à vontade diante das câmeras (a exceção fica por conta de Trovão Tropical, mas considerando que Cruise estava sob quilos de maquiagem e fazendo apenas uma pequena participação, seria preciso voltar 11 anos no tempo, até Magnólia, para ver o ator tão solto e interessante em cena). Capaz de conquistar a simpatia até mesmo daqueles que são por ele baleados, o agente Miller é um homem sempre pronto para a ação – algo bem ilustrado, por exemplo, no instante em que ele agarra uma corda sobre uma mesa sem nem mesmo parar para pensar no que está fazendo. Além disso, Roy tem uma vantagem diante de seus oponentes: ele sabe que está jogando no “modo Deus” e que, portanto, é indestrutível – o que lhe permite encarar, sem qualquer proteção, os inimigos que disparam metralhadoras em sua direção.

Porém, se isto não deixa de ser divertido, é também um ponto fraco do filme, já que jamais tememos de fato pelo destino dos personagens. Como se não bastasse, Cameron Diaz basicamente se limita a gritar e a bancar a mulher apavorada e confusa durante a maior parte do tempo – além, claro, de repetir a velha rotina de narrar para o espectador tudo o que está fazendo ao usar um computador (vide O Amor Não Tira Férias). E se Peter Sarsgaard chega a parecer envergonhado por ter se envolvido com este projeto, o espanhol Jordi Mollà basicamente se contenta em encarnar uma caricatura, ao passo que Viola Davis, tão brilhante em Dúvida, aqui se transforma numa coadjuvante de luxo. Fechando o elenco, Paul Dano (Sangue Negro) até tenta conferir algum interesse ao cientista Simon Feck, mas seu pouco tempo em tela se encarrega de frustrar seus esforços.

No entanto, o que mais assusta nesta produção é a péssima qualidade dos efeitos visuais: do acidente de avião visto no início da projeção aos touros que disparam pelas ruas no terceiro ato, basicamente todos os planos envolvendo os efeitos digitais se revelam artificiais ou mesmo pedestres. Aliás, até mesmo o mais básico destes efeitos, que se resume a substituir o greenscreen por um cenário visto ao fundo enquanto Cruise e Diaz conversam em uma “varanda de hotel”, surge terrivelmente falso, escancarando a realidade de que nem mesmo as locações verdadeiras são vistas em cena na maior parte do tempo.

Parecendo bem mais longo do que seus 109 minutos de duração poderiam sugerir, Encontro Explosivo não chega a ser um desastre ou mesmo uma experiência torturante, mas certamente está longe de representar o retorno à boa forma que Tom Cruise ou mesmo Cameron Diaz desejavam exibir. Não é à toa que Cruise já anunciou sua volta à franquia Missão: Impossível, ao passo que Diaz... bom, quem sabe ela não consegue convencer a DreamWorks a produzir um Shrek 5?

* Os oito roteiristas que trabalharam no projeto depois de O’Neill acabaram não sendo creditados pela WGA, já que basicamente atuaram como script doctors. Péssimos “doutores”, por sinal.

16 de Julho de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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