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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/05/2010 01/01/1970 1 / 5 2 / 5
Distribuidora

A Hora do Pesadelo
Nightmare on Elm Street

Dirigido por Samuel Bayer. Com: Jackie Earle Haley, Rooney Mara, Kyle Gallner, Katie Cassidy, Thomas Dekker, Kellan Lutz, Connie Britton, Clancy Brown.

Nos últimos anos, o diretor Michael Bay passou a produzir, através de sua empresa Platinum Dunes, uma série de refilmagens de obras de terror consagradas nas décadas de 70 e 80, como O Massacre da Serra Elétrica, Terror em Amityville, A Morte Pede Carona e Sexta-Feira 13 – e se há algo que todas estas “releituras” têm em comum é o fato de ficarem abaixo da média e de parecerem ter sido dirigidas pela mesma pessoa, tamanha a falta de personalidade e inventividade dos projetos. Voltando a atacar com este A Hora do Pesadelo, o cineasta responsável por bombas como Transformers 1 e 2, Pearl Harbor, A Ilha e Bad Boys 2 parece agora ter o propósito maligno de expandir suas fronteiras e destruir um novo gênero, tornando-se o... ora, o Michael Bay do horror.

Mantendo-se relativamente fiel ao ótimo original de Wes Craven (que, ao lado das partes 3 (Guerreiros dos Sonhos) e 7 (O Novo Pesadelo), figura em minha lista de favoritos da franquia), o roteiro de Wesley Strick e Eric Heisserer acompanha os adolescentes de Springwood enquanto estes passam a ser atormentados por pesadelos recorrentes protagonizados por uma figura que exibe o rosto desfigurado pelo fogo, chapéu, luva com garras metálicas e uma velha camisa rubro-negra: Freddy Krueger (Haley). Entrando nos sonhos dos jovens, a criatura consegue machucá-los durante o sono, provocando ferimentos que se revelam reais quando suas vítimas acordam ou mesmo matando-as nos pesadelos. No entanto, se os adolescentes do original já não eram particularmente inteligentes, suas novas versões se estabelecem como quase deficientes mentais – como descobrimos já no início, quando a assustada Kris (Cassidy) pergunta para um amigo: “Dean disse que aquilo não era real. Você sabe o que isso significa?”. Minha resposta: “Que você deveria comprar um dicionário e abri-lo na letra ‘R’”.

Capazes de buscar no Google os nomes das demais vítimas de Freddy Krueger, mas, ao mesmo tempo, inacreditavelmente tapados a ponto de não usarem a mesma ferramenta com o objetivo de descobrirem quem era o sujeito e o que aconteceu com ele, o casal de heróis vivido por Rooney Mara (irmã de Kate) e Kyle Gallner (irmão de alguém que deve estar envergonhado) prefere, em vez disso, fuçar gavetas em busca de fotos antigas, limitando sua “investigação” a algumas perguntas feitas à mãe da mocinha – alguém que eles já sabem ter mentido no passado. Lutando contra o sono que, sabem, será fatal, eles ainda assim acabam sendo vítimas freqüentes das “microcochiladas” estabelecidas pelo roteiro com o único objetivo de poder introduzir os pesadelos em qualquer instante da projeção – mesmo que isto implique em  momentos  hilários como o do rapaz que (juro!) dorme durante o treino de natação.

Responsável por comandar a empreitada, o diretor Samuel Bayer se mostra claramente perdido no desenvolvimento de uma narrativa mais longa, o que talvez seja explicado pelo fato de ser mais conhecido por seu trabalho em videoclipes - seu projeto imediatamente anterior a este foi uma coletânea dos clipes que dirigiu para a banda Garbage, que, intitulada “Absolute Garbage”, poderia ser também o título desta refilmagem. Conseguindo a proeza de já cometer um erro grosseiro no primeiro plano do filme, quando usa um “establishing shot” para uma seqüência de pesadelo (como se o dono do sonho precisasse saber onde este se passará), Bayer se revela incapaz até mesmo de compreender o mais básico comportamento humano, já que, na cena em que Kris acorda gritando histericamente em sala de aula, ele logo corta para um plano conjunto que traz praticamente todos os colegas da moça já novamente concentrados em seus livros – quando, obviamente, qualquer um ficaria com os olhos grudados na louca que interrompeu a aula aos berros. E o que dizer do momento em que determinado personagem é preso e, segundos depois, já é visto usando um uniforme laranja e dividindo a cela com um presidiário, saltando, na mesma noite, de “suspeito” a “preso condenado”?

No entanto, o maior problema do novo A Hora do Pesadelo reside em seu vilão-astro: sem exibir qualquer sinal do humor negro e do sarcasmo repleto de sadismo que caracterizavam a composição de Robert Englund, Jackie Earle Haley é limitado por um roteiro que encara Freddy Krueger como mero instrumento para as cenas que trazem mortes violentas. Preso numa máscara que, ao contrário daquela usada por Englund, claramente limita sua expressividade (percebam como sua boca mal se mexe quando ele fala), Haley investe num tom de voz monótono que, em vez de ameaçador, soa apenas entediante. Além disso, este novo Krueger é um monstro sem qualquer imaginação: embora possa criar o pesadelo que quiser para suas vítimas (algo que os efeitos digitais modernos executariam com facilidade), ele se limita a dois ou três cenários, executando os adolescentes rapidamente em vez de torturá-los com seus jogos do passado – como na inesquecível parte 3, quando transformou um pobre diabo em marionete. Aliás, o único instante em que esta refilmagem parece realmente explorar o conceito fantástico dos sonhos ocorre na cena em que a mocinha percorre um corredor cujo chão se converte em água sob seus pés – mas mesmo este exemplo se revela frustrantemente breve.

Já o restante do elenco desempenha de maneira razoável sua função: Mara é uma mocinha virginal adequada; Gallner, com visual branquelo e despenteado de vampiro emo, ilustra com certa eficiência o desespero do mocinho; Cassidy grita bem e Clancy Brown, homenageado com o crédito de “e com...” nos letreiros iniciais, até que impõe certo peso às suas cenas. Ainda assim, não estou muito certo de que um futuro Johnny Depp (A Hora do Pesadelo) ou um novo Kevin Bacon (Sexta-feira 13) sairá deste projeto, embora seja possível que dele saia um novo Clancy Brown – mesmo o velho já seria lucro.

Desperdiçando ótimas idéias (como o conceito de que, mesmo depois de tecnicamente mortas, as vítimas poderiam ser torturadas por Krueger durante seis minutos adicionais até que seus cérebros parassem de funcionar), este A Hora do Pesadelo ainda é vitimado pela hipocrisia do código de censura norte-americano, que, refletido também no brasileiro, permite todo tipo de violência mais grosseira, mas procura evitar a nudez das atrizes a todo custo – justamente algo que poderia tornar o projeto mais interessante ou, no mínimo, menos enfadonho.

Pois o fato é que, caso existisse, Freddy Krueger poderia usar este filme como um ótimo recurso para levar suas vítimas ao sono.

07 de Maio de 2010

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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