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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/09/2006 08/07/2005 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Direção

Neil Marshall

Elenco

Shauna Macdonald , Natalie Mendoza , Alex Reid , Saskia Mulder , MyAnna Buring , Nora-Jane Noone

Roteiro

Neil Marshall

Produção

Christian Colson

Fotografia

Sam McCurdy

Música

David Julyan

Montagem

Jon Harris

Design de Produção

Simon Bowles

Figurino

Nancy Thompson

Direção de Arte

Jason Knox-Johnston

Abismo do Medo
The Descent

Dirigido por Neil Marshall. Com: Shauna Macdonald, Natalie Jackson Mendoza, Alex Reid, Saskia Mulder, MyAnna Buring, Nora-Jane Noone.

Em mais uma destas coincidências que geraram dobradinhas como Formiguinhaz-Vida de Inseto, Procurando Nemo-O Espanta Tubarões e Armageddon-Impacto Profundo, o ano de 2005 testemunhou a produção de nada menos do que três longas do gênero terror que ambientavam suas narrativas em cavernas sombrias habitadas por estranhas criaturas: os norte-americanos A Caverna e A Caverna do Medo e o britânico Abismo do Medo – e, entre estes, o último é claramente o que merece destaque, já que, tenso e claustrofóbico, funciona como um exercício de estilo incrivelmente competente por parte do diretor Neil Marshall.


Estrelado por um elenco relativamente desconhecido (alguns talvez se lembrem de Nora-Jane Noone por seu belo desempenho no triste Em Nome de Deus), Abismo do Medo gira em torno de um grupo de amigas que decidem explorar uma caverna e acabam presas depois de um desabamento – o que já cria uma atmosfera terrivelmente incômoda entre as mulheres, que se reuniram justamente para tentar animar a pobre Sarah (Macdonald), que perdeu o marido e a filha em um acidente trágico há apenas um ano. Como se não bastasse, enquanto tentam encontrar uma outra saída, elas passam a ser perseguidas por seres aparentemente mutantes... e canibais.

Logo de início, Abismo do Medo se mostra diferente de tantos outros exemplares do gênero ao focar-se exclusivamente em personagens femininas; não há, aqui, um herói forte e corajoso que segure as mocinhas indefesas e trêmulas pela mão enquanto correm do vilão. Em vez disso, o filme nos apresenta a mulheres perfeitamente capazes de se defenderem sozinhas: até mesmo a médica Sam (Buring), que inicialmente surge como a mais frágil e despreparada do grupo, tem a oportunidade de exercer seus conhecimentos profissionais em momentos importantes da projeção – e, de uma forma ou de outra, todas se mostram fortes e decididas quando necessário. Além disso, Marshall é hábil ao ilustrar a boa dinâmica entre as moças, que estabelecem um clima de camaradagem verossímil e importante para o desenvolvimento da história.

Mas o trabalho do cineasta passa a impressionar mesmo a partir do instante em que a narrativa se desloca para o interior da caverna: mantendo a câmera sempre próxima das atrizes e o ambiente ao fundo mergulhado na escuridão, Marshall cria uma sensação sufocante, evocando com talento o confinamento que elas estão vivenciando. Da mesma forma, quando as personagens são obrigadas a se arrastar em pequenos túneis, o diretor desce a objetiva até o chão e, em planos fechados, enfoca os rostos das garotas colados no solo e a poeira que é erguida pela respiração destas. Enquanto isso, a fantástica direção de arte evita o erro comum de criar cenários implausivelmente limpos e secos; como em cavernas reais, há sempre uma intensa umidade incomodando as  heroínas, que também são forçadas a carregar desajeitadamente seus equipamentos através de espaços freqüentemente estreitos.

E mais: revelando-se excelente diretor de gênero, Marshall toma grande cuidado para não escancarar a natureza pavorosa de seus vilões antes do tempo, forçando o espectador, durante a primeira metade da projeção, a usar a imaginação para tentar compreender o que está vendo. Para isso, o cineasta apresenta as criaturas calmamente, revelando gradativamente sua aparência: inicialmente, vemos apenas sombras que desaparecem da tela rapidamente antes que tenhamos chance de enxergá-las um pouco melhor; e é somente mais tarde que o filme permite que vislumbremos o perfil de um monstro aqui ou o brilho pálido da pele de outro acolá – e quando finalmente conhecemos os tais mutantes, a ótima maquiagem, associada aos assustadores efeitos sonoros criados para as criaturas, compõe um ser inegavelmente repulsivo. Além disso, os atores sob os quilos e quilos de próteses e maquiagem conferem um ar animalesco aos vilões através de movimentos que lembram os de um predador durante a caça – e quando disparam fortes gritos, percebemos que estão tentando assustar suas presas a fim de levá-las a se mover e, conseqüentemente, revelar seus esconderijos.

Beneficiado ainda pelas excelentes atuações de todo o elenco, Abismo do Medo traz uma protagonista que, assim como a tenente Ripley de Sigourney Weaver na série Alien, percorre uma trajetória emocional impressionante, iniciando a trama como uma mulher frágil e deprimida até alcançar a brutalidade de alguém que aprende a se defender a todo custo – e a bela Shauna Macdonald encarna esta transformação com intensidade exemplar.  

Gráfico e extremamente violento, o filme também estabelece um clima de tensão crescente através da câmera cada vez mais movimentada, dos cortes gradualmente mais rápidos e de jorros de sangue que certamente levarão os fãs do gore à loucura. Com isso, Abismo do Medo se revela uma produção ambiciosa que, apesar da história absurda, foi realizada com inteligência suficiente para merecer figurar entre os melhores representantes do terror moderno – um feito realmente admirável.
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14 de Setembro de 2006

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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