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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/01/2007 01/01/1970 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
128 minuto(s)

Déjà Vu
Déjà Vu

Dirigido por Tony Scott. Com: Denzel Washington, Val Kilmer, Adam Goldberg, Jim Caviezel, Paula Patton, Elden Henson, Erika Alexander, Matt Craven, Bruce Greenwood.

Assim como o excelente O Grande Truque, que em seu terceiro ato surpreendeu o espectador com elementos de ficção científica em uma narrativa que até então não dera pistas de que isto aconteceria, Déjà vu é um thriller policial que, depois de uma introdução convencional ambientada em um universo realista, revela possibilidades fantásticas ao seu protagonista e ao público. E ainda que inclua uma daquelas explicações pseudo-científicas sobre como tudo o que estamos vendo é teoricamente possível, o que importa de fato é a maneira inteligente e criativa com que os roteiristas Bill Marsilii e Terry Rossio exploram os conceitos apresentados – e quando o personagem de Denzel Washington pergunta “E se isto tudo for algo maior do que a Física?”, é fácil percebermos os dois roteiristas piscando para a platéia, como se dissessem “isto é maior do que a Física; é Cinema”. E Cinema dos bons, diga-se de passagem.


Dirigido por Tony Scott, Déjà vu tem início com centenas de pessoas embarcando felizes em um ferry boat em New Orleans, durante o famoso carnaval promovido pela cidade. À medida que testemunhamos a alegria de todos através de inúmeros planos em câmera lenta, percebemos que algo terrível irá acontecer e, é claro, a embarcação logo é destruída em uma violenta explosão provocada por um terrorista, matando as mais de 500 pessoas a bordo. É então que entra em cena o inteligente Doug Carlin (Washington), convocado para ajudar nas investigações – e, depois de chamar a atenção de um agente do FBI com sua competência, ele é convidado a integrar uma equipe secreta que conta com um equipamento recém-desenvolvido: um computador capaz de exibir, em “tempo real”, os acontecimentos de quatro dias e meio atrás. Convencido de que o assassinato de uma bela jovem representa a chave do mistério, Doug passa a acompanhar os últimos dias de vida da moça e começa a questionar se o equipamento não poderia ser utilizado de uma forma mais ativa, permitindo que alterassem o passado.

Basicamente, portanto, Déjà vu apresenta um conceito diametralmente oposto àquele visto no também ótimo Minority Report: em vez de vasculharem o futuro em busca de crimes que ainda não foram cometidos, os detetives deste longa vasculham o passado por pistas que auxiliem suas investigações – o que dá origem a uma seqüência absolutamente fascinante na qual o herói, utilizando um visor que abre uma “janela” no tempo, persegue um suspeito 108 horas depois deste ter realizado determinado trajeto, num exemplo claro da ótima imaginação dos roteiristas (aliás, é a segunda vez que comento a originalidade de uma perseguição vista em um projeto de Denzel Washington: a primeira foi há cerca de oito anos, ao escrever sobre Possuídos).

Construindo a história com cuidado para evitar clichês (aqui felizmente não há um superior determinado a atrapalhar o mocinho; todos parecem decididos a colaborar para que as investigações sejam bem sucedidas), Déjà vu apresenta seus mistérios aos poucos, despertando a curiosidade do espectador sem revelar muita coisa: será uma coincidência o fato da frase “Você pode salvá-la” aparecer na geladeira de Claire (Patton), a garota assassinada? E o que significa a estranha conversa gravada na secretária eletrônica? E será que ela percebe estar sendo observada pelos agentes que a vigiam quatro dias e meio no futuro? Da mesma forma, a investigação feita pelo herói e sua equipe jamais soa enfadonha, embora, durante boa parte do tempo, se resuma a enfocar cinco pessoas trancadas em uma sala enquanto observam vários monitores – nestes momentos, a montagem eficiente (sem os delírios habituais de Scott, felizmente) e a rápida troca de diálogos mantêm nosso interesse no que está acontecendo. Ainda assim, devo confessar que, apesar de aceitar a premissa da “janela no tempo”, tive uma dificuldade maior em acreditar na potência dos computadores do FBI, capazes de acessar vídeos e de rastrear telefonemas em poucos segundos – e a idéia de rastrear uma mochila a fim de encontrar bolsas similares na cidade (algo feito em apenas três segundos) representou, por incrível que pareça, o único momento em que tive vontade de gritar “Truco!”.

Beneficiado por uma fotografia dessaturada e granulada que, ao lado das locações na devastada New Orleans pós-Katrina, confere uma atmosfera de crueza e realidade à história, o filme traz Tony Scott em um de seus trabalhos mais contidos: além de evitar os cortes freqüentes, a câmera histérica e as brincadeiras gráficas que marcaram seus últimos trabalhos, o cineasta consegue até mesmo criar personagens interessantes que se tornam importantes para o espectador: Washington, sempre brilhante, compõe Doug como um detetive competente, mas nada sisudo ou amargo. Brincalhão e sorridente, ele também é capaz de relaxar, ao contrário de maior parte dos investigadores cinematográficos, que parecem viver apenas para o trabalho. Enquanto isso, Paula Patton, a grande revelação do projeto, mostra-se vulnerável e real, explorando ao máximo seu menor tempo em cena para transformar Claire em uma jovem cujo destino trágico entristece o público. Da mesma forma, Val Kilmer, Jim Caviezel e Adam Goldberg encarnam seus personagens com competência, embora tenham menos chances de criar figuras mais complexas.

É claro que, apesar da complexidade da trama (ou seria melhor dizer “justamente em função desta”?), o roteiro apresenta sua parcela de furos. Por que, por exemplo, parte dos acontecimentos se mantém inalterada mesmo com a interferência dos heróis ao passo que outros incidentes são radicalmente modificados? Nestes momentos, a lógica falha de Déjà vu compromete a coesão da história, mas, de modo geral, o filme apresenta um conceito tão interessante que, confesso, a idéia de ver novas aventuras centradas nesta premissa é algo que me agradaria. E desejar assistir a uma continuação de um filme dirigido por Tony Scott é um sentimento com o qual vou demorar a me acostumar.

18 de Janeiro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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