Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/04/2005 03/08/2004 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
119 minuto(s)

Direção

Yimou Zhang

Elenco

Ziyi Zhang , Lau Andy , Kaneshiro Takeshi , Song Dandan

Roteiro

Yimou Zhang , Li Feng , Bin Wang

Produção

Yimou Zhang

Fotografia

Xiaoding Zhao

Música

Shigeru Umebayashi

Montagem

Long Cheng

Design de Produção

Tingxiao Huo

Figurino

Emi Wada

Direção de Arte

Bin Zhao

O Clã das Adagas Voadoras
Shi Mian Mai Fu

Dirigido por Zhang Yimou. Com: Zhang Ziyi, Andy Lau, Takeshi Kaneshiro, Dandan Song.

Quando O Clã das Adagas Voadoras tem início, somos informados de que a história se passa no fim da dinastia Tang, quando o grupo secreto que dá nome ao filme concentra todos os seus esforços para derrubar o corrompido governo e dar início a uma nova era na China. No entanto, depois de insinuar que poderá seguir o caminho trilhado pelo fabuloso Herói, filme anterior do cineasta Zhang Yimou, que se preocupava com o contexto político de sua trama, este longa acaba se entregando de corpo e alma ao romance de seu par principal, revelando que, na realidade, tudo não passara de mera desculpa para contar uma historinha de amor.

Não que haja algo de essencialmente errado com o envolvimento entre a garota cega Mei (a cada vez melhor Zhang Ziyi) e o oficial disfarçado Jin (Kaneshiro): além de exibirem uma boa química, os dois contam com uma forte presença em cena e desenvolvem uma dinâmica que desperta o interesse do espectador. O problema é que, excessivamente encantado pelo potencial romântico do roteiro, Yimou acaba deixando de lado todo o resto, desistindo da subtrama política assim que esta preenche sua função de reunir o casal – e, infelizmente, `desistir` é mesmo o verbo apropriado para o caso, já que o diretor simplesmente se esquece de oferecer qualquer tipo de desfecho para a explosiva situação envolvendo o tal clã das Adagas Voadoras, o que é, no mínimo, frustrante.

Ainda assim, é possível que muitas pessoas optem por ignorar esta óbvia deficiência do filme em função do visual impressionante concebido por Zhang Yimou e seu experiente diretor de fotografia, Zhao Xiaoding. Abandonando a inesquecível paleta de cores que transformou Herói em um espetáculo inigualável, Yimou investe em tons que se aproximam um pouco mais do `mundo real`, embora dê um destaque especial ao verde e, é claro, ilumine com abundância suas cenas, num efeito de quase superexposição que ressalta o aspecto idílico da narrativa - algo que também é frisado pela evocativa trilha sonora, que busca um sentimento onírico de paz e quietude, mesmo nas seqüências de ação.

Aliás, as lutas presentes em O Clã das Adagas Voadoras não decepcionam: coreografadas por Siu-Tung Ching, as batalhas envolvem lanças, flechas, espadas, adagas, bambus, tecidos e todo tipo de adereço que possa contribuir para aumentar o impacto. Em alguns momentos, diga-se de passagem, é como se os personagens estivessem apresentando um verdadeiro balé, movendo-se com sincronia e graça. (Outro detalhe curioso é que, enquanto em Herói o domínio das artes marciais era comparado/ressaltado pela arte de desenhar ideogramas, desta vez a analogia é feita justamente com a dança.) Em um filme recheado de ótimas seqüências de ação, duas merecem destaque: o encantador `Jogo do Eco`, visto logo nos minutos iniciais, e, é claro, o conflito que ocorre em um bambuzal e segue de perto as tradições fantásticas, míticas, do gênero wuxia pian, praticamente uma exclusividade da cultura chinesa.

É lamentável, portanto, que Yimou deixe o longa naufragar no terceiro ato: assim que as motivações reais de determinados personagens são reveladas e a história parece prestes a se entregar a um clímax emocionante, o roteiro decide voltar-se totalmente à resolução de um triângulo amoroso, mergulhando no pior dos melodramas. (É claro que o palco deste melodrama é um cenário de tirar o fôlego – o que, mais uma vez, pode desviar a atenção do público -, mas persiste o fato de que, afinal de contas, fomos mesmo enganados pelas intenções sentimentalóides do filme.)

Por outro lado, O Clã das Adagas Voadoras esconde ao menos um presente para aqueles que gostam de fazer leituras alternativas de tramas aparentemente superficiais: observem, por exemplo, como a personagem de Zhang Ziyi é capaz de enfrentar vários homens ao mesmo tempo, provando sua destreza nas artes marciais, mas revela-se inexplicavelmente indefesa sempre que os ataques assumem caráter sexual – nestes momentos, ela limita-se a gemer em protesto e a tentar afastar seus agressores fragilmente com os punhos, como uma garotinha vulnerável e frágil. E o que dizer do fato de que o `clã` é basicamente formado por mulheres, enquanto os oficiais do governo são, todos, homens? (E não é à toa que Yimou retrata os soldados avançando com suas espadas em riste quando estão prestes a enfrentar suas inimigas...)

Afinal, o que o cineasta quer dizer com este subtexto? Está fazendo um comentário sobre o eterno sexismo de um mundo governado por homens? Está observando a vulnerabilidade da mulher moderna, que, mesmo destacando-se em todos os setores da sociedade, continua a sofrer discriminações e a receber salários menores que os de seus pares do sexo oposto?

Seja como for, estas discussões são infinitamente mais interessantes do que o romancezinho que toma conta e, eventualmente, quase destrói O Clã das Adagas Voadoras.
``

08 de Abril de 2005

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!