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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/09/2011 01/01/1970 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
118 minuto(s)

Cowboys & Aliens
Cowboys & Aliens

Dirigido por Jon Favreau.Com: Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Paul Dano, Clancy Brown, KeithCarradine, Sam Rockwell, Adam Beach, Abigail Spencer, Ana de la Reguera, NoahRinger.

Uma das experiências cinematográficas mais interessantes que tive ocorreu em 1996, com Um Drink no Inferno: depois de ter entrado no cinema sem ter a menor ideia sobre a história do longa, envolvi-me profundamente com a jornada do pastor em crise vivido por Harvey Keitel e de seus dois filhos, julgando que o sequestro pelos irmãos Gecko viria a cimentar aquela relação – e quando o primeiro vampiro surgiu em cena na metade da narrativa, lembro-me de ter olhado para a cabine de projeção, confuso, esperando ver o projecionista em pânico por ter trocado os rolos do filme. Não foi à toa que me lembrei disso durante Cowboys & Aliens, já que, de certa forma, lamentei que seu título, embora chamativo, entregasse desde o início a mistura que o roteiro faria; creio que teria sido curioso experimentar o choque da chegada dos alienígenas ao lado dos personagens, já que este trabalho do diretor Jon Favreau encara o encontro destes ícones de gêneros tão distintos com seriedade absoluta.


Inspirado em quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg e escrito por nada menos do que cinco roteiristas (um dos piores sinais que qualquer produção pode exibir), o filme tem início de maneira intensa ao trazer o cowboy vivido por Daniel Craig despertando no meio do deserto sem saber como foi parar ali e trazendo um estranho bracelete de metal preso no pulso. Chegando a uma pequena cidadezinha mineradora, ele logo entra em confronto com o filho do poderoso rancheiro local (Ford) e acaba sendo preso – até que OVNIS surgem nos céus do lugarejo e todos decidem se unir para resgatar os habitantes abduzidos.

O espantoso quando consideramos a participação de cinco profissionais na elaboração do roteiro (todos bastante experientes) é perceber como nenhum foi capaz de contornar a estrutura formulaica da narrativa, que chega a empregar o velho e irritante clichê dos flashbacks que, surgindo convenientemente ao longo da história, fornecem informações importantes ao protagonista e ao espectador apenas quando estas são realmente necessárias. Sem contar com um único diálogo memorável e incluindo ao menos uma revelação que levanta mais perguntas do que oferece respostas, o roteiro é tão preguiçoso que nem parece perceber que usa exatamente o mesmo arco dramático para dois personagens diferentes, o bartender/médico vivido por Sam Rockwell e o garotinho interpretado por Noah Ringer, já que ambos têm que encontrar uma certa auto segurança a partir da utilização de armas.

Aliás, os roteiristas parecem ignorar até mesmo as regras mais básicas da profissão ao decidirem introduzir novos e importantes personagens ao longo de toda a história, apresentando-os sempre que se fazem importantes – como o antigo bando de Jake e os índios que, seguindo o clichê dos westerns, parecem dotados de poderes sobrenaturais, sendo capazes de preparar poções mágicas que resolvem qualquer problema. Como se não bastasse, esta falta de estrutura do roteiro é ressaltada pela montagem problemática de Dan Lebental e Jim May (sim, dois montadores), que aparentemente não se importam em mostrar a personagem de Olivia Wilde seguindo o herói por um bom tempo até ser enxotada por este, surgindo, já na próxima cena, de volta à cidadezinha e pedindo para acompanhar o grupo liderado por Harrison Ford (algo que ocorre não dias depois, mas na manhã seguinte). O mesmo problema, diga-se de passagem, pode ser observado quando Craig se afasta em seu cavalo e logo é visto conversando com pessoas que já deveriam estar bem distantes, retornando ao encontro de seus parceiros no espaço de alguns poucos momentos. Com isso, o espectador sente dificuldades de compreender até mesmo quanto tempo se passa ao longo da história: horas? Dois ou três dias? Dez?

Por outro lado, a trilha de Harry Gregson-Williams, embora genérica como boa parte de seus trabalhos, ao menos é eficaz ao remeter pontualmente ao gênero western, ainda que a ficção científica fuja de sua mira. No entanto, é mesmo o brilhante design de produção de Scott Chambliss que se destaca ao longo da projeção, desde a geografia da cidade de Absolution (belo nome) até o fantástico set do barco virado. Da mesma forma, é fascinante perceber como a equipe de Chambliss concebe a tecnologia alienígena como algo também pertencente ao passado, desde as abduções feitas a laço (como num rodeio espacial) até as naves que mais parecem caças terráqueos. Para completar, o design de som de David Farmer beira o brilhantismo ao trazer os estampidos das armas dos cowboys com uma fragilidade que ressalta ainda mais a força do arsenal extraterrestre (e é por isso que é decepcionante perceber como o grito das criaturas permanece como um grunhido convencional).

Mas é mesmo a força do elenco que torna Cowboys & Aliens tão divertido, a começar por seus integrantes secundários: percebam, por exemplo, como Sam Rockwell segura a rédea de seu cavalo desajeitadamente a fim de ilustrar o despreparo de Doc e como Clancy Brown corta com a boca a linha usada para suturar o herói e notarão o cuidado destes intérpretes com detalhes reveladores de suas composições. E se Daniel Craig traz toda sua crua virilidade como Jake, Harrison Ford cria um antagonista mais complexo do que o filme exigiria, iniciando a narrativa como um sujeito cruel e impiedoso apenas para gradualmente revelar traços de alguém que somos capazes de admirar. Já Olivia Wilde surge bela como de hábito, mas ainda sem conseguir encontrar uma personagem que lhe ofereça a chance de provar seu talento como atriz (vide Tron: O Legado).

Trazendo alguns bons toques de humor (como a apropriada insistência dos personagens em chamar os aliens de “demônios”), Cowboys & Aliens é uma diversão eficiente que, sim, poderia ter explorado sua ótima premissa com mais cuidado, mas que ao menos não a desperdiçou com “homenagens” tolas e auto referenciais como aquelas que comprometeram, por exemplo, o recente Super 8.

Mas bem que eu gostaria de ter entrado na sessão despreparado para a presença de extraterrestres.

08 de Setembro de 2011

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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