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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/11/1927 13/03/1927 5 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
153 minuto(s)

Metropolis
Metropolis

Dirigido por Fritz Lang. Com : Alfred Abel, Gustav Fröhlich, Rudolph Klein-Rogge, Brigitte Helm, Fritz Rasp, Theodor Loos, Heinrich George.

Metropolis é uma das maiores produções dos tempos mudos do Cinema. Realizado apenas um ano antes do lançamento de O Cantor de Jazz (primeiro filme falado realizado), o filme é um autêntico representante - provavelmente o maior - do expressionismo alemão.

Aqui, Fritz Lang nos mostra um cidade do século XXI, marcada pela brutal diferença entre classes. Enquanto os operários, fundamentais para a manutenção das máquinas e da própria cidade, vivem nos subterrâneos de Metropolis, os Mestres (a classe dominadora) vivem na superfície, levando uma existência de prazeres e despreocupação. É quando Freder, filho do poderoso Joh Fredersen, se apaixona por Maria, que é, na verdade, uma espécie de `pregadora` dos operários, que se reúnem para ouvir seus discursos pacifistas. Na verdade, Maria acredita que a mente e as mãos (Mestres e Operários) devem conviver de forma pacífica, desde que haja um coração, um mediador entre eles.

Freder, ao seguir Maria, acaba indo parar na Casa das Máquinas, que fica no subterrâneo da cidade (mas ainda acima da Cidade dos Operários). Lá, ele presencia um acidente, depois que um funcionário sucumbe à exaustão. A seqüência da `explosão`, com funcionários sendo atirados do alto da máquina, é fantástica, clássica. Ainda nos dias de hoje, quando computadores removem os cabos que se prendem a atores neste tipo de cena, a seqüência impressiona por sua qualidade técnica.

Freder fica horrorizado com o que viu e sofre uma espécie de alucinação durante a qual a máquina se transforma em uma espécie de monstro que devora os funcionários, numa espécie de metáfora daquilo que realmente acontece em Metropolis. Ele vai até seu pai, que parece não se importar com os funcionários mortos no acidente. Assim, o rapaz decide ir até a Cidade dos Operários atrás de Maria e, também, a fim de ajudar seus `irmãos`. Quando seu pai descobre a importância de Maria para os funcionários (e para seu filho), ele pede que o inventor Rotwang (Klein-Rogge) dê as feições de Maria ao robô que este acaba de construir, a fim de que ela possa incitar os operários à violência, permitindo que os Mestres ataquem-nos por sua `insubordinação`.

Tendo como pano-de-fundo esta batida história de amor (homem e mulher de classes diferentes se apaixonando), Lang nos mostra um futuro triste, pessimista, no qual os homens sucumbem aos avanços da tecnologia, tornando-se meros escravos das máquinas. Afinal, não são apenas os operários que dependem destas - os mestres também devem a elas a tranqüilidade de suas existências.

O visual de Metropolis é perturbador: a cidade, com seus imensos edifícios e ruas estreitas, é claustrofóbica, angustiante. Os aviões voando entre os prédios conferem ainda mais um ar futurista, triste - e, ao mesmo tempo, grandioso - ao ambiente. A Casa das Máquinas é, também, perfeita. A máquina que explode no início do filme foi tão inteligentemente `desenhada` que os funcionários que nela trabalham o fazem em pequenos nichos nos quais se alojam, como se fizessem parte de sua anatomia. É a integração homem-máquina em seu máximo.

Já as atuações são mais difíceis de serem analisadas. A primeira vista, poderíamos dizer que são caricatas, rebuscadas em excesso (especialmente Fröhlich, no papel de Freder). No entanto, temos que levar dois fatores em consideração: estamos tratando de um filme mudo, onde os atores realmente são obrigados a atuar com maior `exagero` a fim de superar a barreira da falta de diálogos. Já o segundo fator é ainda mais importante: como já dito anteriormente, Metropolis é um legítimo representante do expressionismo alemão, cujos diretores não mediam esforços para mostrar ao espectador o estado de espírito de seus personagens. A iluminação, os cenários e as atuações eram usados, em grande parte, para ilustrar o aspecto `interior` destes. Assim, o exagero na interpretação fazia parte do processo.

Aliás, a própria disposição dos atores e figurantes em cena se encarregam de mostrar um pouco do que se passa na alma dos operários de Metropolis. Observem, por exemplo, que no início do filme estes andavam em blocos geometricamente dispostos, ilustrando com perfeição a subordinação à qual estes se viam obrigados. Já mais para o final da história, eles continuam a andar em blocos, mas sem qualquer tipo de padrão observável, ou seja: são, ainda, uma unidade - mas sem que tenham de sucumbir às ordens dos mestres.

Mas não é só isso: este filme é rico em metáforas. Não é à toa que a revolta dos operários (que seguem cegamente a falsa Maria) põe em risco a vida de suas crianças, ou seja: do futuro. É como se as máquinas e suas repercussões na sociedade ameaçassem diretamente o futuro do planeta. Aliás, a seqüência da inundação da Cidade dos Operários é impressionante, forte - outro momento que entrou para a história do cinema.

Uma superprodução para sua época (na verdade, até mesmo para os dias de hoje), Metropolis contou com a participação de nada menos do que 36.000 figurantes, levando dois anos para ser filmada. À época de seu lançamento, contudo, o filme foi bastante criticado por aqueles que não gostaram de seu contexto político, sendo muitos os que atacaram a obra de Fritz Lang - entre eles, o escritor H.G. Wells. Detalhe: em função deste filme, Lang foi convidado por Goebbels a assumir a `chefia` da indústria cinematográfica alemã. O diretor agradeceu, recusou a proposta e partiu às pressas para Paris. No entanto, sua esposa (Thea von Harbou, autora do roteiro de Metropolis) não só ficou para trás, como também se tornou uma nazista.

Quanto à cópia brasileira do filme, da Continental Home Video, existem dois aspectos, um negativo e outro positivo. O positivo é que nossa cópia tem 136 minutos, uma das maiores que existem atualmente (o original tinha quase 3 horas, mas não existe mais). Enquanto muitas distribuidoras internacionais lançam versões de 90 e 120 minutos, a versão brasileira é uma das maiores, o que é ótimo. No entanto, a trilha sonora que acompanha o filme é ridícula, péssima. Ao invés de aproveitar a trilha composta por Giorgio Moroder em 1984 especialmente para Metropolis, nossa versão tem uma música que, simplesmente, não se `encaixa` com o filme. Eu sugiro que você faça como fiz depois de uma hora de filme: tire o som de sua televisão - você se envolverá mais com a história.
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27 de Junho de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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