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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/02/2001 06/10/2000 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
102 minuto(s)

O Implacável
Get Carter

Dirigido por Stephen Kay. Com: Sylvester Stallone, Rachael Leigh Cook, Miranda Richardson, Mickey Rourke, Alan Cumming, John C. McGinley, Rhona Mitra e Michael Caine.

Quem for assistir a O Implacável esperando ver Stallone distribuindo sopapos ficará extremamente decepcionado. Na verdade, este seu novo trabalho está mais para Cop Land do que para Daylight. Particularmente, considero estes dois títulos acima da média (e certamente bem superiores a algumas recentes empreitadas de Arnold Schwarzenegger, como Queima de Arquivo e Fim dos Dias), mas não restam dúvidas de que eles são bastante diferentes entre si.

O fato é que O Implacável tem muito falatório e pouca ação: este é um filme centrado no caráter de seu personagem principal, não em suas atitudes. Assim, as seqüências envolvendo algum tipo de ação (lutas, tiroteios e perseguições) são raras - e, para ser bem honesto, pouco empolgantes. Para piorar, elas acontecem aparentemente ao acaso ao longo da trama, como se o roteirista David McKenna as introduzisse simplesmente para fazer jus ao gênero (há uma luta em uma cozinha que chega a parecer surreal, de tão despropositada).

Aqui, Stallone interpreta Jack Carter, um violento `cobrador de dívidas` que, depois de receber a notícia da morte do irmão caçula, volta para sua cidade natal a fim de comparecer ao enterro. Lá chegando, no entanto, ele passa a desconfiar de que o irmão foi, na verdade, assassinado - e resolve solucionar o crime e se vingar dos assassinos.

Já de início, o roteiro comete sua primeira grave falha ao não apresentar um único motivo sequer que justifique a desconfiança de Carter. O que o leva a pensar que o irmão foi morto? Por que ele passa a suspeitar justamente do chefe do falecido? E o mais importante: por que os assassinos resolvem confirmar a teoria do perigoso sujeito ao tentarem `expulsá-lo` da cidade? Como se não bastasse, McKenna (que, por incrível que pareça, também escreveu o excepcional A Outra História Americana) ainda introduz uma trama envolvendo um certo CD que, aparentemente, contém evidências suficientemente fortes para enviar um poderoso executivo para a cadeia - e que passa a ser procurado por todos os personagens do filme. Portanto, é com surpresa que o espectador acaba descobrindo que o tal executivo sequer aparece no CD (assim, por que sua preocupação?). Além disso, o sujeito teme que seu envolvimento com pornografia seja descoberto pela imprensa, mas não se intimida em dar uma festa, em sua mansão, repleta de prostitutas e drogas (ele chega a cheirar cocaína na frente de seus convidados). Eu ainda poderia falar sobre a inutilidade de uma sub-trama envolvendo o relacionamento entre Stallone e a amante de seu chefe, mas creio que você já entendeu o que quero dizer.

Apesar de tudo, O Implacável tem estilo - um grande feito de seu diretor, Stephen Kay, que abusa dos cortes secos e das intromissões em fast-forward. Infelizmente, a edição é lenta e, em alguns pontos, confusa (para se ter uma idéia, eu não consegui compreender sequer o que aconteceu com o personagem de Mickey Rourke neste filme).

Por outro lado, Stallone tem um bom desempenho como o anti-herói Jack Carter: seu personagem é, na verdade, o único fator realmente interessante da história (algo parecido - e a ênfase está na palavra `parecido` - aconteceu no recente Shaft, cujo personagem-título também merecia um veículo melhor). O grande charme de Carter é o fato dele ser indubitavelmente um sujeito cruel - e é justamente por isso que sua tentativa de realizar uma boa ação ganha novas dimensões. Como já havia provado em Rocky e em Cop Land, Stallone possui grande talento para viver personagens que têm algo a provar para si mesmos. Além disso, ele demonstra (mais uma vez) ser um ator bastante superior ao seu contemporâneo (e colega de gênero) Schwarzenegger - basta observar a cena em que ele tenta consolar a sobrinha interpretada por Leigh Cook, mas não consegue encontrar as palavras certas, chegando mesmo a comover-se.

Assim, é uma pena que o filme ao redor de Stallone seja tão medíocre: até mesmo o talentoso Michael Caine (que, aliás, viveu o personagem Jack Carter na infinitamente superior versão original) parece estar entediado em sua pequena participação. Já a modelo Rhona Mitra, que interpretou a vítima de estupro de Kevin Bacon em O Homem Sem Sombra, prova ser melhor atriz quando entra muda e sai calada de um filme: sua atuação em O Implacável é embaraçosamente ruim.

Fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, esta produção marcou definitivamente o declínio de Stallone em seu próprio país - e mesmo as boas arrecadações no resto do mundo não deverão reverter este quadro, o que é uma pena: tenho certeza de que o ator poderia voltar aos bons tempos caso encontrasse o veículo certo. Muitas são as pessoas que julgam Stallone a partir de sua persona cinematográfica, ignorando o fato de que ele é um roteirista surpreendentemente talentoso e um ator aberto a novas experiências. Nem sempre ele acerta (como as bombas Oscar - Minha Filha Quer Casar e Pare! Senão Mamãe Atira provaram), mas, pelo menos, não se cansa de tentar.
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30 de Dezembro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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