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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/01/2001 10/11/2000 1 / 5 2 / 5
Distribuidora
Duração do filme
90 minuto(s)

Little Nicky - Um Diabo Diferente
Little Nicky

Dirigido por Steven Brill. Com: Adam Sandler, Patricia Arquette, Rhys Ifans, Harvey Keitel, Tom Lister Jr. e Quentin Tarantino.

Só mesmo Hollywood poderia gerar um fenômeno como Adam Sandler - um sujeito que, apesar de não possuir o menor dote cômico, ganha 20 milhões de dólares para protagonizar desastres como O Paizão e este Um Diabo Diferente. E o que é pior: como `brinde`, seus filmes ainda trazem, em pequenas pontas, a maioria de seus ex-companheiros (igualmente desprovidos de talento) do Saturday Night Live, como Kevin Nealon e o insuportável Rob Schneider (a exceção fica por conta de Dana Carvey, que merecia uma carreira melhor).


Em Um Diabo Diferente, Sandler `interpreta` Nicky, o filho caçula de Satanás. Tímido e inseguro, ele sofre constantes abusos por parte de seus irmãos mais velhos, Cassius e Adrian. Quando estes fogem do Inferno, no entanto, Nicky é designado para a ingrata tarefa de trazê-los de volta, já que a ausência da dupla acabará resultando na morte do Diabo. Como jamais esteve na Terra, o rapaz é obrigado a aprender (com a ajuda de um cão falante) uma série de coisas novas, como dormir, comer e atravessar ruas sem ser atropelado.

Engraçado, não? Pois até poderia ser, caso o roteiro escrito a seis mãos por Sandler, Tim Herlihy e Steven Brill não fosse tão imbecil. Aliás, devo ser justo: há filmes imbecis que conseguem fazer rir, o que não é o caso de Um Diabo Diferente. Ao que parece, Sandler e Herlihy, antigos colegas de faculdade, simplesmente jogaram no papel algumas das piadas particulares que desenvolveram ao longo dos anos, acreditando que isso acabaria sendo igualmente divertido para as outras pessoas. Não é. Veja, por exemplo, a cena em que Beefy, o cachorro falante, ensina Nicky a comer: `Coloque o frango na boca`, diz o animal. Sandler prende o alimento entre os dentes, mas não o mastiga. Ha, ha, ha. `Agora, abra e feche a boca`. Sandler mastiga de boca aberta. Ha, ha, ha. `Agora, deixe o frango descer por sua garganta`. Sandler engole enquanto faz uma careta. Ha, ha, ha. Por incrível que pareça, Um Diabo Diferente é repleto de momentos como este.

Aliás, uma correção: há momentos ainda piores, quando o roteiro tenta provocar o riso ao exibir um bando de garotinhos vomitando depois de se embebedarem e ao mostrar Beefy urinando em uma porta. Além disso, o filme investe, com semelhante inépcia, em piadinhas de conotação sexual, como na cena em que vemos seios crescendo na cabeça de um assecla do Diabo (ele aparece posteriormente com um sutiã amarrado por baixo do queixo - ha, ha, ha). E o que é pior: até as gags que poderiam ser realmente divertidas acabam sendo desperdiçadas pela péssima direção de Steven Brill, como na seqüência que envolve um duelo de `magia` entre Nicky e Adrian (lembrei-me do duelo entre Merlin e Madame Mim em A Espada Era a Lei). Como se não bastasse, ainda somos obrigados a acompanhar um romance completamente ilógico entre Sandler e Patricia Arquette - que, aliás, nos oferece uma de suas piores atuações.

Por falar em interpretações medíocres, não posso deixar de salientar que Adam Sandler atinge, em Um Diabo Diferente, o fundo do poço. Em minha análise de O Rei da Água, eu já havia apontado a tendência do `ator` em projetar o queixo para a frente e utilizar uma voz anasalada ao tentar ser engraçado. Pois bem: substitua o `para a frente` por `para o lado` e `anasalada` por `gutural` e terá uma idéia da tortura à qual Sandler nos submete desta vez - tortura esta que acaba sendo intensificada por um desempenho igualmente constrangedor por parte do veterano Harvey Keitel (o que ele está fazendo neste filme?).

Por outro lado, devo reconhecer que os efeitos visuais, abundantes no filme, são bastante interessantes - e que a direção de arte também não faz feio (o visual do `Paraíso`, em particular, chama a atenção, apesar de não ser nada original). No entanto, fica a pergunta: não é lamentável que as únicas qualidades de uma comédia residam em aspectos técnicos?

A verdade é que Um Diabo Diferente não é apenas um filme sem graça: é, também, extremamente chato e cansativo. E ao contrário de O Rei da Água, que possuía um ou outro momento genuinamente engraçado, esta produção não consegue provocar uma única risada. Até mesmo o Inferno é mais divertido do que esta bomba. Isto é; desde que Sandler não esteja lá.
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20 de Janeiro de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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