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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/01/2002 26/04/2002 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Jason X
Jason X

Dirigido por Jim Isaac. Com: Kane Hodder, Lexa Doig, Lisa Ryder, Derwin Jordan, Peter Mensah, Melyssa Ade, Jonathan Potts, Dov Tiefenbach, Todd Farmer e David Cronenberg.

Em minha crítica sobre Plan 9 From Outer Space, publicada em 1998, lembro-me de ter comentando a frase sobre filmes que, de tão ruins, chegam a ser bons. Pois há outra versão para este comentário: `Alguns filmes são tão ruins que chegam a ser engraçados`. Infelizmente, nenhuma destas constatações se aplica a Jason X, que, apesar de realmente arrancar (involuntariamente) uma ou outra risada constrangida, é tão ruim que chega a ser... péssimo.


Roteirizado pelo estreante Todd Farmer, este décimo exemplar da série Sexta-feira 13 procura conferir novo fôlego ao decadente Jason Voorhees através de uma reviravolta até interessante, situando sua história em um futuro distante: o ano 2455. A idéia é simples: sem saber o que fazer com o cruel assassino, já que ele parece ser imune à morte, uma cientista (Doig) decide congelá-lo até que a tecnologia necessária para executá-lo seja desenvolvida. No entanto, depois que um sujeito inescrupuloso (vivido pelo cineasta David Cronenberg) tenta salvar o vilão para pesquisar sua aparente imortalidade, Jason escapa e, durante uma luta com a tal cientista, acaba provocando o congelamento de ambos. Quatro séculos depois, os dois são descobertos e levados para uma nave – e, quando a garota tenta alertar seus salvadores sobre o perigo representado por seu `companheiro`, já é tarde demais: Jason está livre e pronto para um novo massacre.

Infelizmente, Farmer não consegue encontrar uma boa forma de aproveitar este novo cenário e opta por repetir praticamente tudo o que já havia sido visto nos exemplares anteriores da série: a ação de Jason X se resume a mostrar algum personagem com expressão de medo até ser surpreendido pelo assassino (algo que é acompanhado por um acorde alto na trilha sonora) e assassinado de forma cruel – a partir daí, o ciclo recomeça com outro integrante do elenco assumindo o lugar de vítima. Além disso, os produtores devem ter se sentido bastante tentados a intitular esta continuação como Jason, o 38º Passageiro, ou algo no gênero, já que Farmer copia descaradamente diversos elementos da série protagonizada por Sigourney Weaver (um dos personagens – vivido pelo próprio roteirista – chega a se chamar Dallas, como o capitão interpretado por Tom Skerritt no filme de Ridley Scott; e a subtrama envolvendo a heroína despertada de um longo sono para enfrentar seu velho inimigo é idêntica àquela vista em Aliens, o Resgate; além, é claro, da presença de um andróide e de uma seqüência em que o vácuo puxa um personagem por uma pequena abertura no casco da nave). É claro que, nos cínicos dias atuais, isso é considerado como uma `homenagem`, e não plágio, mas chega a ser absurdo que alguém tenha pago uma boa soma pelo roteiro deste filme (Farmer é tão preguiçoso que, ao se ver obrigado a criar um novo nome para o planeta utilizado para substituir a Terra, não conseguiu imaginar algo melhor do que `Terra 2`).

Outra falha de Jason X é repetir o velho clichê de `punir`, em primeiro lugar, aqueles personagens que se entregam ao sexo: isso pode até ter funcionado (mesmo que de forma irônica) nos filmes anteriores, mas, na era pós-Pânico, não há como evitar que isso soe de maneira ridícula. E o critério utilizado para definir a ordem em que as vítimas deveriam morrer também é curioso: depois dos `pecadores`, Jason passa a matar os personagens mais `feios` – até que apenas modelos restem no elenco. Aliás, quando citei a `cientista` no segundo parágrafo desta análise, confesso que estava rindo: Lexa Doig é tão verossímil como cientista quanto Denise Richards o foi em 007 – O Mundo Não É o Bastante.

Para piorar, Jason X não consegue sequer funcionar como auto-paródia – algo que não deve ser tão difícil, já que o assassino mascarado da série é um dos grandes estereótipos do gênero horror (ao contrário do que ocorre no divertido A Noiva de Chucky, Jason não parece estar ciente de que se tornou uma caricatura – e, portanto, sujeito à sátira). Nos momentos em que tenta ser engraçado, o filme falha vergonhosamente, já que abusa de tiradas incapazes de provocar um sorriso (`Eu acho que Jason foi embora`, alguém diz em certo momento, ouvindo a seguinte resposta: `Por que não coloca a cabeça pra fora e dá uma olhada?`). E o mais incrível é que alguém realmente pensou que estas piadas mal construídas funcionariam, já que há uma personagem escalada especialmente para soltar estas `pérolas` ao longo da história (e o pior: como deveria funcionar como `alívio cômico`, esta aborrecida figura possui certa imunidade que lhe garante uma sobrevida considerável). E apesar de a idéia de realizar um `upgrade` em Jason ser curiosa, nada de interessante é feito com isso.

De todo modo, há pelo menos um aspecto positivo em Jason X: o diretor Jim Isaac demonstra possuir um certo talento para o ofício, já que seus enquadramentos e movimentos de câmera são elegantes e bem aplicados ao longo da trama (os créditos iniciais, inspirados na abertura de Clube da Luta, são bacanas) – e a culpa pelo péssimo roteiro não é sua. Além disso, o filme possui uma fotografia decente, ao contrário dos últimos exemplares da série, que parecem ter sido rodados com luz ambiente. Com isso, Jason X não é, de forma alguma, um filme feio. É apenas ruim. Terrivelmente ruim.

13 de Janeiro de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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