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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/02/2009 24/10/2008 3 / 5 / 5
Distribuidora
New Line Cinema
Duração do filme
130 minuto(s)

Força Policial
Pride and Glory

Dirigido por Gavin O’Connor. Com: Edward Norton, Colin Farrell, Jon Voight, Noah Emmerich, Jennifer Ehle, Lake Bell, Rick Gonzalez, John Ortiz.

Corrupção policial. Conflitos familiares. Famílias compostas por “tiras”. Três subgêneros (quatro, se contarmos a combinação dos três primeiros num único: “conflitos em famílias de tiras disparados por corrupção no departamento”) que já foram fartamente explorados com maior ou menor sucesso nos últimos anos em filmes como Dia de Treinamento, A Face Oculta da Lei, Os Infiltrados, Os Donos da Noite, Narc, Cop Land, O Corruptor, Quatro Irmãos, Tempos de Violência, Os Reis da Rua, etc, etc, etc. São filmes que geralmente envolvem traições, revelações dolorosas de que alguém próximo se corrompeu, tragédias, sacrifícios e por aí afora. Neste sentido, Força Policial faz jus ao seu título (original ou brasileiro), revelando-se tão genérico quanto o esperado, embora, aqui e ali, ganhe pontos pela intensidade e pelos bons personagens.


Escrito por Joe Carnahan (Narc) e pelo diretor Gavin O’Connor a partir de história concebida por este último ao lado de seu irmão Greg O’Connor e de Robert Hopes, Força Policial tem início com um massacre que tira a vida de quatro policiais enquanto estes aparentemente tentavam efetuar a prisão de um pequeno traficante. Abalado com a morte de seus subordinados, o capitão Francis Tierney Jr. (Emmerich) ainda enfrenta dificuldades em casa em função da doença da esposa, Abby (Ehle), que se encontra em fase terminal de câncer. Determinado a ajudar o filho, o também oficial da polícia Francis Tierney Sr. (Voight) convence o caçula Ray (Norton), irmão de Francis, a liderar as investigações sobre o tiroteio - sem saber que seu genro Jimmy (Farrell), que também pertence à unidade comandada por Francis, pode estar envolvido na questão.

Concebido como um universo cru e violento, a Nova York vista aqui é um lugar em que os palavrões servem como pontuação das frases e no qual a tortura é considerada um método razoável de obter informações. Além disso, o fato de a história se passar durante o inverno leva a uma predominância natural das cenas em ambientes internos, resultando numa atmosfera claustrofóbica ressaltada pelo uso frequente de planos mais fechados – especialmente de closes. Como se não bastasse, os rostos enquadrados por Gavin O’Connor encontram-se geralmente tristes ou preocupados, já que seus donos estão constantemente antecipando perdas, traições ou desilusões.

Encarnando Ray como um detetive competente atormentado por um trauma do passado que volta a incomodar em função de suas experiências atuais (outro clichê do gênero), Edward Norton surge como um homem razoável (“flexível” talvez seja a palavra apropriada) que não pretende destruir a família apenas em função de seus impulsos morais – até um certo limite, claro. Por outro lado, Colin Farrell encarna Jimmy como um homem cujo comportamento explosivo diante dos inimigos cede lugar aos modos carinhosos que reserva à própria família, ao passo que Jon Voight cria um homem que tem um imenso orgulho dos filhos e, por isto mesmo, busca encontrar razões para defendê-los mesmo quando deveria se manter afastado.

Curiosamente, porém, as atuações mais marcantes são oferecidas por atores menos “ilustres”: Noah Emmerich, que frequentemente trabalha nas produções de seu irmão, o diretor e roteirista Toby Emmerich (e que aqui atua como produtor executivo), estabelece Francis como um homem dividido entre sua fidelidade aos companheiros e a responsabilidade profissional. Certamente o personagem que enfrenta os maiores dilemas ao longo da narrativa, Francis é um marido carinhoso cuja dedicação à esposa provocou um afastamento fatal do dia-a-dia do departamento, abrindo caminho para as ações inescrupulosas de seus subordinados – algo pelo qual ele não hesita em assumir a responsabilidade. Ainda assim, é inegável que o sujeito é um policial competente que, apesar de honesto, comete um erro crucial ao fechar os olhos para pequenas transgressões que, é claro, se tornam gradualmente maiores. Já Jennifer Ehle faz um verdadeiro milagre com sua pequena personagem, a adoentada Abby, retratando sua dor ao perceber que não tem muito mais tempo com os filhos e sua ansiedade ao temer pelo futuro de seu marido. Porém, o grande destaque fica mesmo por conta de John Ortiz, que, como Sandy, oferece um desempenho memorável na cena em que, sentado no banco traseiro de um carro estacionado, expressa um imenso remorso por ter abandonado o bom homem que era na juventude.

Contando principalmente com cenas noturnas fotografadas com competência por Declan Quinn (O Casamento de Rachel), Força Policial traz uma montagem dinâmica que salienta a rapidez dos acontecimentos narrados e potencializa a tensão da violenta narrativa. Ainda assim, há um plano-sequência, no início da projeção, que se mostra acertado ao contribuir não só para aumentar o realismo do que estamos vendo, mas também ao ilustrar a confusão testemunhada por Francis ao chegar ao local do tiroteio.

É uma pena, portanto, que o filme jamais consiga escapar realmente do lugar comum, implodindo de vez em seu terrível terceiro ato, que abusa de incidentes implausíveis (incluindo uma luta ridícula) e sacrifícios artificiais. Para piorar, O’Connor e Carnahan tentam nos convencer de que alcançaram uma resolução satisfatória para a história quando, na realidade, nada foi resolvido de fato. Não teria sido de todo injusto caso este longa tivesse sido lançado diretamente em DVD.

27 de Fevereiro de 2008

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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