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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/08/2015 15/05/2015 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Universal
Duração do filme
115 minuto(s)

A Escolha Perfeita 2
Pitch Perfect 2

Dirigido por Elizabeth Banks. Roteiro de Kay Cannon. Com: Anna Kendrick, Hailee Steinfeld, Rebel Wilson, Brittany Snow, Hana Mae Lee, Anna Camp, Skylar Astin, Adam DeVine, Ben Platt, Ester Dean, Alexis Knapp, Chrissie Fit, Birgitte Hjort Sørensen, Flula Borg, Jason Jones, John Hodgman, Reggie Watts, Katey Sagal, Snoop Dogg, David Cross, Keegan-Michael Key, John Michael Higgins e Elizabeth Banks.

Depois de descobrir A Escolha Perfeita apenas recentemente por tê-lo perdido nos cinemas, lamentei o tropeço: dinâmico, divertido e repleto de personagens bem definidas, o longa trazia sequências musicais que combinavam performances vocais admiráveis e coreografias inventivas em um roteiro incrivelmente bem-humorado (e não consigo me lembrar de nenhum outro projeto que traga uma personagem que conseguiu me fazer rir com todas – sim, todas – as suas falas como a coreana Lilly vivida por Hana Mae Lee). Trocando em miúdos: o filme simplesmente funcionava. A boa notícia é que sua continuação também funciona; a má é que, para isso, basicamente repete tudo o que ocorria no original.


Novamente escrito por Kay Cannon, o roteiro até parece estar disposto a retomar a história a partir de onde esta havia terminado ao trazer as Barden Bellas agora famosas em meio a uma apresentação para o presidente dos Estados Unidos. Porém, quando um incidente constrangedor resulta na suspensão do grupo, a única chance de redenção para suas integrantes reside em uma vitória no campeonato mundial de a cappella – no qual terão que enfrentar o temível rival alemão Das Sound Machine (ou DSM). A partir daí, a dinâmica do primeiro filme é retomada, já que as Bellas deixam de ser as favoritas e retornam à posição de “zebras”; uma nova personagem, Emily (Steinfeld), é introduzida para viver a novata que muda a dinâmica do grupo (como Anna Kendrick no anterior); sequências envolvendo disputas improvisadas são encaixadas apenas para aumentar o número de músicas na projeção (o “riff-raff” do primeiro; a competição na casa do milionário interpretado por David Cross neste segundo); e, claro, o flerte entre Bumper (DeVine) e Fat Amy (Wilson) é revivido, já que o rapaz retorna à faculdade de forma arbitrária. Ah, sim: e também como antes, ninguém jamais parece frequentar aula alguma.

A diferença é que se antes cada uma das Bellas tinha a oportunidade de se estabelecer como uma figura com personalidade definida, desta vez há várias figurantes que, de tão genéricas, não ganham sequer a oportunidade de dizer quais são seus planos futuros em uma cena na qual supostamente todas estão dividindo seus sonhos – e ao menos o roteiro reconhece este problema ao incluir uma piada na qual Beca (Kendrick) assume não saber diferenciar as cantoras vividas por Kelley Jakle e Shelley Regner (que, vale apontar, também não sabem). Para piorar, uma das novas personagens que ganha destaque é uma imigrante que, obviamente inspirada naquela criada por Sofía Vergara na série Modern Family, supostamente tem o papel de relativizar o drama das companheiras ao compará-lo à sua vida difícil, mas que acaba apenas por reforçar estereótipos degradantes (como se não bastasse, sua intérprete, Chrissie Fit, nem mesmo é imigrante como Vergara, o que torna sua composição ainda mais ofensiva).

Por outro lado, as veteranas mantêm suas melhores características: Rebel Wilson vive Fat Amy como uma mulher sexualmente segura e confortável com o próprio corpo, mas também sem filtro interno algum; Anna Kendrick diverte com a incapacidade de Beca de dizer algo ofensivo direcionado à imponente líder do DSM; Brittany Snow tem a chance de viver um arco dramático completo com a dificuldade de Chloe de abandonar o grupo e Hana Mae Lee volta a roubar o filme com as poucas falas de Lilly. Sim, o produtor musical interpretado por Keegan-Michael Key parece forçado na narrativa, mas ao menos suas cenas são limitadas e não tomam muito tempo de projeção, o que seria um problema.

Em contrapartida, os locutores/comentaristas encarnados por John Michael Higgins (incorporando Fred Willard, aparentemente) e Elizabeth Banks desta vez assumem um papel um pouco maior e também divertem com a misoginia escancarada do primeiro e o desconforto da segunda diante da escrotice do companheiro. O mais interessante, contudo, é notar como o roteiro emprega os dois personagens como fonte assumida (e, portanto, divertida) de exposição, já que eles praticamente explicam o arco das Bellas através de diálogos como “Elas parecem ter perdido a identidade”; “Elas estão tentando se encontrar” e por aí afora. Menos fácil é conciliar o fato de que os dois punem o grupo apenas para, posteriormente, narrarem o drama deste para se redimir, já que teoricamente poderiam simplesmente remover a punição.

Marcando a boa estreia de Banks na direção, A Escolha Perfeita 2 tem, porém, um talento notável para converter tropeços em pequenas virtudes – e até mesmo a honestidade em assumir o maniqueísmo da trama acaba quase por desculpá-lo. E se os "vilões” alemães aparecem vestidos de preto em contraposição às blusas brancas vestidas pelas heroínas, numa designação batida de cores, por exemplo, ao menos eles se mostram realmente fantásticos no que fazem – tão bons, aliás, que... bom... confesso que sua vitória era algo que eu consideraria um resultado justo (se eles vencem ou não, deixarei que vocês descubram).

Com um timing cômico normalmente eficiente, Banks demonstra talento não só ao construir suas gags (gosto particularmente de como Fat Amy gira lentamente no início da projeção, criando expectativa para o desfecho da piada), mas também ao conferir dinamismo às performances musicais, que trazem câmeras sempre em movimento e cortes que, mesmo frequentes, não destroem nossa capacidade de acompanhar a movimentação dos artistas no palco. Sim, as referências a Apocalypse Now e Perdidos na Noite soam gratuitas (e esta última ainda peca por ser incompleta, já que Fat Amy diz a frase “I’m singing here!” só uma vez), mas também funcionam ao seu próprio modo.

Assim, mesmo sendo basicamente uma reprise do original, esta continuação conquista o espectador com sua energia. E querem saber? Às vezes, é melhor não mexer muito com o que funciona bem.

Observação: há uma cena adicional durante os créditos finais.

12 de Agosto de 2015

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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