Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/07/1959 | 22/07/1959 | 1 / 5 | 1 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
79 minuto(s) |
Dirigido por Edward D. Wood, Jr. Com: Tor Johnson, Lyle Talbot, Bela Lugosi, Vampira, Gregory Walcott, Tom Keene, Duke Moore, Mona McKinnon, Dudley Manlove, Joanna Lee e Criswell.
`Certos filmes são tão ruins que chegam a ser bons.`. A primeira pessoa que disse esta frase provavelmente acabara de assistir Plano 9 Do Espaço Sideral, por muitos considerado o pior filme de todos os tempos, o Cidadão Kane dos filmes ruins. Não sei se o caso é para tanto, como discutirei mais abaixo, mas com certeza esta produção de Ed Wood merece um lugar de destaque na história do cinema.
A história deste filme começou um bom tempo antes de seu lançamento, em 1959. Três anos antes, em 56, Ed Wood filmara algumas cenas envolvendo o ator Bela Lugosi, o Drácula mais famoso de todos os tempos. As seqüências mostravam Lugosi em um enterro; em frente a uma casa, com um ar abatido; e, finalmente, andando misteriosamente por um descampado. Foi quando Bela morreu e Ed Wood arquivou o que já havia rodado.
Cerca de dois anos depois, o `pior diretor de todos os tempos` lembrou-se das cenas filmadas e aproveitou o fato para conseguir verba para seu mais novo roteiro, Plan 9 From Outer Space. Ele convenceu membros de uma Igreja Batista a financiarem a produção, alegando que a presença `póstuma` de Bela Lugosi faria com que o filme se tornasse um sucesso. Sempre entusiasmado, Wood não hesitou nem mesmo quando os religiosos obrigaram que ele e sua equipe fossem batizados, antes da produção ser iniciada.
No entanto, o que fazer quanto às cenas restantes de Lugosi? A solução encontrada foi substituí-lo por um outro homem, muito mais jovem, que mantém uma capa erguida sobre o rosto durante todo o filme.
A partir disso, já se pode ter uma idéia sobre o conceito que Ed Wood tinha sobre cinema. Porém, quais são os `pré-requisitos` para que um filme seja considerado ruim? Ele dever ser cansativo? Confuso? Mal escrito? Esta questão é mais complexa do que se pode imaginar, a princípio, pois o fato é que Plan 9 From Outer Space não é um filme cansativo e, em sua maior parte, não tem nada de confuso. Ao contrário, é extremamente divertido assistir a este filme, que tem uma história completamente absurda, mas relativamente simples de se entender.
Seres extraterrestres temem que os terráqueos venham a destruir o universo, depois de descobrirem uma substância chamada `solobonite`. Esta substância poderia provocar a explosão do Sol e, conseqüentemente, de toda a galáxia (Ed Wood não vê muita distinção entre `universo` e `galáxia`). Para evitar que isto ocorra, os alienígenas põem em ação o chamado `Plano 9`, que consiste em ressuscitar os mortos e, com eles, conquistar e destruir o planeta Terra.
O interessante é que Wood tenta dar ao filme um ar imponente, que torna tudo ainda mais engraçado. A própria narração da história é feita em um tom grandioso, como se estivéssemos ouvindo um texto de Shakespeare sendo recitado. No entanto, os diálogos escritos pelo próprio Ed Wood nada têm de grandiosos, sendo, ao contrário, tolos e óbvios. Em certo momento, por exemplo, um detetive diz: `O Inspetor Clay está morto! Foi assassinado! E alguém é responsável por isso!` É impossível não rir. Aliás, a diversão começa já no primeiro diálogo, quando o `adivinho` Criswell, que narra a história, diz: : `Saudações, meus amigos. Todos nós temos interesse no futuro, pois lá é onde eu e você iremos passar o resto de nossas vidas. E lembrem-se, meus amigos, que eventos futuros como estes irão afetá-lo no futuro.` Hilário, não? (O problema é que o filme não era uma comédia.)
A direção de Wood é péssima, justificando sua fama. Não que ele não saiba como fazer um enquadramento razoável ou conduzir a história. Seu maior problema é sua completa desatenção para com o que está sendo filmado. Relapso ao extremo, ele não se importa que as cruzes e as lápides falsas do cenário que simula um cemitério caiam, durante a cena, revelando a fraude. Além disso, várias cenas do filme ficam variando entre o dia e a noite, dependendo do ângulo em que são filmadas. E estou mencionado apenas os erros menos grosseiros.
Os cenários, aliás, merecem um comentário à parte. Tomem, como exemplo, a cabine do avião pilotado por Jeff Trent: ela se resume a uma salinha apertada na qual dois homens ficam sentados, conversando. Não há sequer sinal dos controles do aparelho, o que nos leva a pensar que o avião voa sozinho, sem precisar dos pilotos. O `quartel-general` dos alienígenas, composto por uma mesa e cortinas, também merece destaque (ou a falta de), bem como o interior da espaçonave, com suas portas deslizantes.
Os efeitos (ou melhor: `defeitos`) especiais do filme são antológicos: o planeta alienígena chega ao ponto de ter uma pequena protuberância por onde ficava suspenso em frente a um painel escuro. Os discos voadores, que mais parecem pratos de papel, ficam balançando desengonçadamente pelos `céus` de Hollywood. Não é nem preciso dizer que as seqüências que mostram disparos sendo feitos por militares e aviões em pleno vôo não foram filmadas por Ed Wood, mas sim `roubadas` de antigos filmes de propaganda do Exército americano.
Mesmo com todas estas `falhas` (estou sendo benevolente), Plan 9 From Outer Space possui algumas cenas que se tornaram clássicas, como o momento em que o `dublê` de Bela Lugosi sai de sua cripta com uma capa estendida sobre o rosto e persegue Tor Johnson. A seqüência na qual Eros compara o funcionamento da solobonite com um `rastro de gasolina` também é memorável. De acordo com esta analogia, o Sol é um galão de gasolina, e seus raios, um rastro de combustível que chega à Terra. Aliás, é nesta cena que o alienígena Eros diz: `Um raio de sol é constituído por muitos átomos!`
Para um filme cujo maior destaque no elenco é a cintura de Vampira, até que se poderia esperar coisa pior. Honestamente, acho que aproveitei melhor meu tempo assistindo a Plan 9... do que vendo Batman & Robin ou Twister. Ed Wood pode até ser o pior diretor da história do cinema, mas seus filmes são capazes de divertir.
25 de Junho de 1998