Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/05/2013 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Panda Filmes
Duração do filme
118 minuto(s)

Artigas - La Redota
Artigas - La Redota

Dirigido por César Charlone. Com: Franklin Rodríguez, Jorge Esmoris, Rodolfo Sancho, Yamandú Cruz, Gualberto Sosa.

Colaborador veterano dos filmes de Fernando Meirelles, o diretor de fotografia César Charlone realiza, em Artigas – La Redota, seu segundo longa metragem desde 2007, quando estreou na função com o eficiente O Banheiro do Papa. Mais uma vez construindo uma pequena ficção a partir de fatos reais, o cineasta aqui se concentra na figura histórica do general José Artigas, herói nacional do Uruguai por seus ideais federalistas, e no pintor Juan Manuel Blanes, que décadas depois das lutas de Artigas o imortalizaria em um quadro.

Usando como base a figura de um traidor enviado para matar o general e que aos poucos começa a se encantar por seus ideais, La Redota salta de maneira dinâmica entre as duas linhas temporais, construindo uma relação interessante de causa e efeito ao mostrar Artigas enfrentando as dúvidas e questionamentos de seus seguidores enquanto, no futuro, já testemunhamos a importância de seu legado para o país. Neste aspecto, a montagem de Daniel Rezende (outro colaborador de Meirelles) é fundamental ao criar ligações visuais e temáticas que permitem estes saltos sem que soem abruptos ou artificiais.

Basicamente empregando os figurinos e a escolha de locações para fazer um trabalho de recriação de época econômico, mas eficaz ao seu próprio modo, Charlone ainda ressalta as condições precárias enfrentadas pelos seguidores de Artigas ao focar as inúmeras carcaças espalhadas pelo terreno e o desconforto de todos diante do mau cheiro e das moscas – e, da mesma maneira, o diretor emprega o design de som para sugerir acontecimentos que, de outra forma, talvez não pudessem ser retratados em função do orçamento.

Embora prejudicado pela cópia digital exibida no Festival do Rio, que compromete a qualidade da fotografia (o que é lamentável, considerando a experiência de Charlone na função), La Redota ainda encanta graças à inteligência de momentos sutis como aquele que traz Blanes sendo pressionado para concluir sua pintura enquanto, logo atrás, vemos a tela vazia impondo-se sobre o artista. Por outro lado, a inclusão de fusões que trazem a musa do anti-herói assassino sobreposta a planos do mar, das nuvens e do fogo se revela não só cafona, como remete a videoclipes da década de 80 – além disso, há também um plano evocando a terra e concluindo, assim, a sugestão da mulher como representante dos quatro elementos, o que tampouco me parece um símbolo particularmente original.

Sem jamais transformar Artigas em um herói unidimensional, La Redota ainda intriga ao pintar o retrato (perdão pelo trocadilho) de um homem complexo e falho que, mesmo frustrado e inseguro em determinados momentos, acabou se tornando um mito maior do que poderia sonhar em ser – e o fato de seu rosto ter sido (re?)criado a partir do desejo de conferir uma face ao ideal é, ao mesmo tempo, um tributo louvável e uma pequena frustração histórica.

Crítica originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio de 2011 – daí sua natureza breve.

21 de Outubro de 2011

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

Você também pode gostar de...

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!