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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/06/2009 01/01/1970 1 / 5 1 / 5
Distribuidora

Transformers: A Vingança dos Derrotados
Transformers: Revenge of the Fallen

Dirigido por Michael Bay. Com: Shia LaBeouf, Megan Fox, John Turturro, Josh Duhamel, Rainn Wilson, Tyrese Gibson, Isabel Lucas, Glenn Morshower, Kevin Dunn, Julie White, Ramon Rodrigue e as vozes de Peter Cullen, Hugo Weaving, Frank Welker, Mark Ryan.

Transformers: A Vingança dos Derrotados. É impossível ler este título e não pensar na velha teoria de que há homens que compram carros imponentes como compensação pelo fato de sentirem complexo em relação ao tamanho de seus genitais – com a diferença que, aqui, o título grandioso é uma tentativa de despistar o fato de que o filme em questão é simplesmente pavoroso. Aliás, mais do que pavoroso: Transformers 2 é tão ruim que deveria figurar numa cláusula adicional da Convenção de Genebra para que tivéssemos a certeza de que não será exibido como forma de tortura a prisioneiros políticos.

Escrito por Ehren Kruger (O Suspeito da Rua Arlington) e pela dupla responsável pelo novo Star Trek, Roberto Orci e Alex Kurtzman, esta continuação do fraco (mas assistível) longa de 2007 tem início no ano 17.000 a.C., quando descobrimos que os Transformers já se encontravam na Terra durante a pré-História, quando enfrentaram homens das cavernas pintados para a guerra. Esta informação desempenhará um importante papel no presente, quando o jovem Sam Witwicky (LaBeouf) será obrigado a partir em uma espécie de expedição arqueológica para encontrar artefatos antigos que, desejados pelos malvados Decepticons, poderão levar à destruição do nosso Sol, acabando com a vida na Terra – e é uma sorte, portanto, que os bonzinhos Autobots contem com o filho de Indiana Jones nesta importante missão.

Inspirado nos brinquedos criados pela Hasbro (nunca é bom sinal quando um filme se baseia em um boneco para contar uma história), Transformers é uma produção claramente voltada para adolescentes do sexo masculino, já que combina três elementos que sempre conquistam a atenção deste grupo: robôs, carros e mulheres gostosas e inalcançáveis que, por algum motivos obscuro, parecem atraídas por nerds desajeitados que... gostam de robôs e carros. Concebido exclusivamente em função dos efeitos visuais, o longa impressiona em seus aspectos técnicos – o que, convenhamos, é o mínimo que poderíamos esperar de uma superprodução de 250 milhões de dólares: os movimentos dos gigantescos robôs são adequadamente fluidos e realistas na medida do possível (observem, por exemplo, como Bumblebee gesticula nervosamente quando é repreendido por Sam ao sair da garagem para enfrentar alguns eletrodomésticos revoltosos). Por outro lado, as transformações das criaturas ocorrem de maneira tão rápida e confusa que jamais conseguimos compreender a relação entre suas formas alternativas e o reposicionamento de suas partes, o que é lamentável, mas, creio, necessário: afinal, como um carro de 3 metros de comprimento poderia se transformar plausivelmente num robô de 10 metros de altura?

Da mesma forma, o visual dos robôs é simplista o bastante para evitar quaisquer confusões acerca de suas personalidades: os Autobots são sempre retratados com cores fortes e olhos azuis, ao passo que os Decepticons surgem em tons cinzas metálicos e com olhos vermelhos, comprovando que o tal Cubo All Spark que os criou tinha uma mentalidade tão unidimensional quanto a dos três roteiristas deste projeto. Por outro lado, se é interessante ver um transformer que assume a forma de um tigre ou constatar que um velho robô parece exibir uma espécie de barba metálica, não deixa de ser terrivelmente ofensivo perceber como o diretor Michael Bay não hesita em introduzir dois Autobots que, exibindo algo parecido com um dente de ouro, conversam com uma clara cadência e um sotaque que remete aos negros norte-americanos e que logo confessam ser analfabetos. Além disso, o uso excessivo de vozinhas engraçadinhas para compor os robôs que devem servir como auxílio cômico é irritante (além de implicar que o All Spark construiu aquelas criaturas para que falhassem em seus propósitos desde o início).

Mas se os robozinhos atuam como auxílio cômico, Transformers 2 também emprega algo que só pode ser descrito como auxílio erétil: surgindo já em sua primeira cena com um shortinho mínimo enquanto se coloca de quatro sobre uma moto (vejam a fantasia: uma garota deliciosa transando com uma máquina potente!), Megan Fox parece não se importar em ser usada como simples objeto sexual ao longo da projeção, chegando a trocar de roupa em público e sem qualquer explicação apenas para fazer uma declaração de amor ao namorado (ou de “afeto”, já que uma das subtramas ridículas do longa reside no fato de Sam e Mikaela resistirem à palavra “amor”). Empregando a velha muleta de interpretação da boca lambuzada de batom vermelho e dos lábios sempre entreabertos (creio que isto é o que Fox entende como sendo “construção de personagem”), a belíssima atriz também não parece se incomodar com o fato de Mikaela, apesar de inicialmente ser apresentada como uma jovem independente e forte, logo ser obrigada a encarnar o velho clichê da mocinha que precisa ser protegida pelos homens ao seu redor – e basta observar que, ao longo do filme, sempre há alguém para segurar a mão da garota quando é necessário fugir dos robôs. A conclusão inevitável: caso não fosse puxada por um homem, Mikaela ficaria parada, trêmula e com os lábios vermelhos e entreabertos à espera de ser pisoteada pelos Decepticons.

Mas isto não é surpresa alguma, já que Michael Bay é um diretor conhecido por sua postura sexista e por encarar a mulher como um mero objeto masturbatório (o que chegou ao auge em Bad Boys 2, quando o cineasta usou o cadáver de uma jovem com seios siliconados para fazer humor). Da mesma maneira, não é surpreendente constatar como Bay emprega, aqui, todos os seus vícios como realizador, desde os aborrecidos travellings circulares até o uso excessivo de câmera lenta e de enquadramentos em ângulos baixos que tentam supervalorizar o heroísmo dos personagens. Além disso, não há elemento mais “autoral” na obra de Bay do que as explosões – e a cada cinco minutos algo parece ser destruído em uma imensa bola de fogo em Transformers 2, o que acaba se tornando monótono e corriqueiro. Curioso, também, é perceber como o diretor não se preocupa com a lógica de seus planos: em certo instante, por exemplo, um enviado do presidente Obama (que é retratado como um covarde pelo cineasta com tendências republicanas) conversa com um general através de uma videoconferência e, no momento exato em que vai fazer uma ameaça, o vídeo salta para um close a fim de ressaltar suas palavras, como se a câmera usada para a comunicação dos dois homens soubesse escolher o momento exato para fechar o quadro.

Este, porém, é um pecadilho diante de outras falhas grotescas cometidas por Michael Bay ao longo da projeção: reparem, por exemplo, a cena em que Sam e Mikaela se escondem em um casebre, durante o terceiro ato da história, e percebam como a expressão de Fox muda radicalmente de um segundo para outro: inicialmente, ao ouvir a aproximação dos Decepticons, Fox aparece com um olhar inexplicavelmente sedutor (e com os lábios vermelhos e entreabertos), como se estivesse tendo uma idéia ou um orgasmo – mas, no segundo seguinte, ela surge cobrindo a própria boca com as mãos e com os olhos marejados de pânico. E o que dizer do instante em que John Turturro dá um choque no chatíssimo Leo, provocando seu desmaio, apenas para que o sujeito surja acordado e conversando normalmente na cena seguinte? Ah, mas há, ainda, o momento em que um personagem identifica “cinco objetos” mergulhando no mar e, segundos depois, informa que “agora, há seis objetos voltando à superfície” – o que poderia soar correto, considerando que cinco Decepticons mergulharam para resgatar Lorde Megatron, mas que revela-se uma falha grotesca quando lembramos que um dos cinco robôs foi destruído no fundo do mar por seus colegas para ceder as partes ao vilão. Em outras palavras: nem mesmo Bay parece ter prestado atenção ao filme que estava dirigindo.

Povoado por personagens aborrecidíssimos (dos pais de Sam aos seus colegas de quarto na faculdade, passando por Turturro, pelos robôs “engraçadinhos” e por qualquer criatura com uma única fala ao longo do filme), Transformers 2 ainda comprova o notório egocentrismo de Bay: se no original ele fazia uma auto-referência a Armageddon, aqui é a vez dele incluir um cartaz de Bad Boys 2 no dormitório da faculdade, o que indica que aqueles universitários têm um mau gosto proporcional à sua falta de inteligência. Aliás, é uma pena perceber como até Shia LaBeouf, um ator normalmente carismático e talentoso, é sabotado pelas exigências do cineasta, surgindo absolutamente patético ao tentar ilustrar os efeitos colaterais da “possessão” provocada pelo All Spark. Ainda assim, o rapaz consegue protagonizar alguns isoladíssimos momentos de inspiração ao longo da projeção, como, por exemplo, ao soltar um grito divertidamente efeminado ao ser atacado por um robô com forma humana. Pena que isto não seja o suficiente para tornar o filme mais suportável.

Sim, suportável, pois o fato é que, além de mal escrito, dirigido, montado e atuado, Transformers 2 é simplesmente chato. Com inchadíssimas duas horas e meia de projeção, o longa se revela arrastado e aborrecido – e nem todas as explosões do mundo, as referências robóticas a Titanic ou mesmo o design de som ensurdecedor poderiam torná-lo menos entediante. E se considerarmos que o primeiro filme já era excessivamente longo mesmo tendo dez minutos a menos do que esta continuação, já posso até antecipar que o terceiro filme se apresentará como um épico de 3 horas e se chamará Transformers: O Retorno de Megatron e a Batalha Contra Optimus Prime, o Último Descendente dos Deuses Autobots.

Ou simplesmente Transformers: A Boca Vermelha e Entreaberta de Mikaela.

24 de Junho de 2009

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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