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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/10/2007 10/08/2007 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
127 minuto(s)

Stardust - O Mistério da Estrela
Stardust

Dirigido por Matthew Vaughn. Com: Charlie Cox, Claire Danes, Sienna Miller, Michelle Pfeiffer, Rupert Everett, Nathaniel Parker, Melanie Hill, Mark Strong, Jason Flemyng, Sarah Alexander, Joanna Scanlan, Ricky Gervais, Robert De Niro, Peter O’Toole e a voz de Ian McKellen.

Stardust – O Mistério da Estrela é um conto de fadas atípico: primo contemporâneo de A Princesa Prometida, o filme também traz referências óbvias a Macbeth e Rei Lear em sua agitada trama (não é à toa que um de seus personagens se chama capitão Shakespeare), revelando um senso de humor eficaz e com toques sombrios que o transformam em uma mais do que bem-vinda surpresa.

Adaptado por Jane Goldman e pelo diretor Matthew Vaughn a partir da obra de Neil Gaiman (e ilustrada por Charles Vess), o roteiro gira em torno do jovem Tristan Thorn (Cox), residente de uma pequena vila conhecida pelo pequeno muro de pedra que percorre uma de suas extremidades e que marca a divisa da Inglaterra com o reino de Stormhold, habitado por criaturas mágicas como elefantes em miniatura e unicórnios. Apaixonado pela bela Victoria (Miller), Tristan promete presenteá-la com uma estrela cadente que viram percorrer o céu e aterrissar em Stormhold, mas surpreende-se ao descobrir que a estrela assumiu a forma de uma garota, Yvaine (Danes). Para complicar, três velhas bruxas decidem capturar a moça, sacrificá-la e comer seu coração, que tem o poder de rejuvenescê-las – e uma delas, a cruel Lamia (Pfeiffer), parte nesta sangrenta missão. Como se não bastasse, Yvaine também está usando um colar perseguido pelo terrível Septimus (Strong), que precisa do objeto para assumir o trono deixado por seu malicioso pai (O’Toole).

Claramente influenciado pelo tom épico conferido por Peter Jackson à trilogia O Senhor dos Anéis, Vaughn investe em vários planos aéreos que descortinam paisagens grandiosas enquanto estas são percorridas por seus personagens (a pé ou a cavalo), em seqüências devidamente acompanhadas de uma trilha sonora imponente. Porém, compreendendo a natureza irreverente do roteiro que tem em mãos (e aqui devo esclarecer que não conheço a obra original), o cineasta não comete o erro de tentar criar algo que se leva a sério demais (vide Eragon e As Crônicas de Nárnia), conferindo leveza até mesmo aos momentos mais pesados da narrativa – o que permite que o longa, mesmo com uma quantidade surpreendentemente elevada de mortes, não se torne assustador demais para o público mais jovem.

Sem parar um segundo sequer para respirar, a trama mantém Tristan e Yvaine sempre em movimento, estabelecendo um clima de aventura que não se enfraquece nem mesmo nos momentos dedicados ao desenvolvimento da relação entre os personagens – como na cena em que Yvaine faz um discurso sobre o Amor que, simples e bonitinho, evita a armadilha fácil da pieguice. Em contrapartida, se o filme merece aplausos pelo duelo imaginativo entre Tristan e um cadáver (o trabalho de expressão corporal do ator Mark Strong – ou de seu dublê – é fantástico), acaba falhando na resolução aparentemente arbitrária oferecida para o confronto com Lamia, já que nada até então indicara a possibilidade de que determinado(a) personagem pudesse possuir tal poder de destruição.

Contando com um elenco que pode se dar ao luxo de trazer Peter O’Toole em uma ponta (bastante divertida, por sinal), Stardust encontra, em Claire Danes, uma musa inspirada: combinando ingenuidade e sabedoria, a atriz retrata o encantamento de Yvaine com este mundo ao mesmo tempo em que exibe a maturidade de séculos empregados na mera observação das interações humanas – e isto sem perder a vulnerabilidade que nos faz temer por seu destino. Enquanto isso, Charlie Cox demonstra segurança e carisma como protagonista, ilustrando com clareza a evolução crescente de Tristan, que, de jovem frágil e inseguro, transforma-se em um homem certo de suas ações.

Da mesma maneira, o elenco secundário ajuda a enriquecer aquele universo graças a performances como a de Michelle Pfeiffer, que, pela terceira vez em 2007 (as outras foram em Hairspray e no divertido Nunca é Tarde para Amar), assume uma personagem incomodada com o próprio envelhecimento. Auxiliada por um excepcional trabalho de maquiagem, a atriz parece se divertir horrores com as maldades da bruxa Lamia, estabelecendo-a com sucesso como uma vilã a ser temida. Contudo, a grande surpresa de Stardust fica por conta de Robert De Niro e seu capitão Shakespeare – e quando digo “surpresa”, não me refiro à qualidade da atuação de De Niro (o que esperar de um gigante com ele?), mas sim à curiosíssima natureza de sua composição.

Beneficiado ainda por bons efeitos visuais, Stardust – O Mistério da Estrela também demonstra respeito por seu público ao evitar um daqueles finais em aberto que, em Hollywood, são um indício claro da ganância dos estúdios. E confesso que eu já estava sentindo falta de um conto de fadas que soasse autêntico ao proferir o clássico “... E viveram felizes para sempre”.

11 de Outubro de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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