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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/12/2006 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
90 minuto(s)

Pulse
Pulse

Dirigido por Jim Sonzero. Com: Kristen Bell, Ian Somerhalder, Christina Milian, Jonathan Tucker, Rick Gonzalez, Samm Levine, Octavia Spencer, Joseph Gatt, Ron Rifkin e Brad Dourif.

Telefones celulares, videocassetes, máquinas fotográficas, televisores. Aparentemente, não há aparelho moderno que seja imune à invasão de fantasmas dispostos a utilizá-lo a fim de se espalharem pelo mundo. Aliás, é até estranho que eles tenham demorado tanto a perceber o potencial da Internet para este propósito, afinal, como autênticos spams, eles poderiam usá-la para se difundir rapidamente por todos os cantos do planeta através de mensagens que trariam, como assunto, a frase “Enlarge your penis”, mas que, quando abertas, infectariam a alma do internauta que não dispusesse de um anti-vírus fabricado pela equipe do Doutor Venkman.

Estou dizendo bobagens? Isto é porque você ainda não viu Pulse, refilmagem norte-americana do terror japonês Kairo produzida pelos irmãos Weinstein e roteirizada por Ray Wright e Wes Craven (sim, o Wes Craven). A história gira em torno de uma garota cujo namorado, um hacker, invade um misterioso servidor que estabelecera contato com uma outra dimensão, libertando... não sei exatamente que tipo de criatura – o filme parece sugerir que são fantasmas, mas o monstro branquelo e careca me fez lembrar mais do Gollum da trilogia O Senhor dos Anéis. (Então, para todos os efeitos, Pulse traz, como vilões, hobbits que permaneceram por muito tempo em posse do Um Anel.) A partir daí, os amigos da garota passam a ser atacados pelos tais seres, o que, de alguma maneira, leva-os a cometer suicídio tempos depois. Agora, o futuro da humanidade está nas mãos da bela mocinha e de seu novo companheiro, recém saído da ilha de Lost. (Posso estar misturando as tramas, mas isto não faz diferença, acreditem.)

Quando Pulse tem início, aliás, vemos Jonathan Tucker – o virgem de 100 Garotas – se dirigindo à biblioteca da faculdade enquanto exibe um destemido corte de cabelo “Príncipe Valente”. Caminhando entre as estantes, ele começa a escutar um estranho barulho e a enxergar sombras assustadoras, até que finalmente vários livros começam a ser arremessados de uma prateleira próxima (os realizadores de Pulse provavelmente acreditam que seu público-alvo ficaria aterrorizado ao ver... ugh!... livros). É então que o rapaz é atacado por Gollum, levando a uma abrupta tela escura e ao início de um rock pesado na trilha sonora; em outras palavras, o início clássico de nove entre dez exemplares do gênero. Pouco depois, somos apresentados aos demais personagens, que incluem um rapaz latino, um judeu nerd e uma garota negra e promíscua que, como se não bastasse, ainda compra produtos pirateados pelo primeiro. Em outras palavras: três pessoas que estão praticamente pedindo para morrer.

Montado por nada menos do que três profissionais (ao menos, creio que são profissionais), Pulse é repleto de cortes rápidos que jamais permitem que o público enxergue direito o que está acontecendo ou possa analisar melhor a maquiagem empregada para criar Gollum – e é claro que, para alcançar uma censura menor que aumente o potencial comercial do projeto, este é mais um filme de terror sem muita violência. Ou terror. Há sustos, obviamente, mas estes são provocados pelas explosões na trilha sonora, como de hábito. Além disso, o longa traz não apenas uma, mas duas seqüências de pesadelo que culminam com a mocinha acordando em um salto – e se você costuma acompanhar meu trabalho, sabe que tenho imensa admiração por este recurso narrativo.

Demonstrando ter feito seu dever de casa, o diretor Jim Sonzero faz questão de incluir as cenas básicas do gênero: há aquela que se passa no reservado de um banheiro; outra em uma lavanderia no subsolo do prédio; e, como não poderia deixar de ser, uma terceira que traz a mocinha em uma banheira cheia de espuma (mas não espere ver indícios de nudez; o filme tem que ser apropriado para públicos bem jovens). Por outro lado, sou obrigado a reconhecer que o cineasta consegue estabelecer um razoável clima de opressão ao gradualmente substituir os saguões e escadarias repletos de estudantes por cenas nos quais estes ambientes surgem praticamente desertos, numa indicação da escala atingida pelos ataques – e a fotografia dessaturada, que investe num cinza que se converte quase em preto-e-branco, é eficaz, apesar de óbvia. Da mesma forma, o plano que traz um suicida saltando de uma torre é interessante (apesar da artificialidade do boneco digital diminuir o impacto da cena), assim como os quadros que revelam a fachada decadente do prédio no qual se passa boa parte da ação – e que, é claro, acabam sendo repetidos excessivas vezes pelo diretor. Aliás, até mesmo a irrealidade sugerida pela péssima utilização de greenscreen acaba contribuindo para o tom surreal do terço final da projeção.

Não que o filme conte com um bom terceiro ato, pois não conta (e nem com um primeiro ou segundo): o clima apocalíptico, inspirado em obras como A Noite dos Mortos Vivos e Extermínio, é exagerado e artificial. Além disso, há um sério problema na cronologia da história, que acaba sendo intensificado pela montagem capenga: em um instante, o apartamento do tal hacker está abandonado; em outro, surge já totalmente pintado e pronto para ser novamente alugado. Apesar disso, uma correspondência enviada pelo sujeito antes de morrer (isso acontece no início da trama, não estou revelando nada de importante) só chega ao seu destino tempos depois. Enquanto isso, um outro rapaz que é atacado por Gollum se recolhe ao seu quarto, mas seus amigos não parecem se preocupar mesmo quando o filme parece sugerir que várias semanas se passaram. Incompreensível. (Eu estava até disposto a me esforçar um pouco - muito, na verdade - para tentar inventar uma lógica que explicasse estas passagens de tempo malucas, mas desisti depois de constatar que um dos planos finais de Pulse se atreve a copiar os últimos segundos de O Exterminador do Futuro, quando o jipe de Sarah Connor se afasta por uma estrada que se estende até o horizonte. Se o filme tem a pretensão de evocar um pessimismo angustiante como o da obra de James Cameron, deveria, no mínimo, ser capaz de explicar melhor sua cronologia.)

Mas talvez isto seja exigir demais do roteiro de Wright e Craven (sim, o Craven), cuja picaretagem chega a impressionar. Em certo instante, por exemplo, alguém pergunta para o engenheiro que projetou o tal servidor se ele sabe que criaturas são aquelas que estão invadindo o nosso mundo – e o sujeito responde: “A princípio, não sabíamos”. Em seguida, ele faz um longo relato sobre suas experiências e, quando ouve novamente a pergunta, devolve: “Não sei”, o que me leva a concluir que ele, de alguma forma, ainda está vivendo o tal “a princípio”. E o que dizer da cena em que Boone... digo... “Dexter” (Somerhalder) tenta buscar sentido para tudo o que está acontecendo e exclama: “Ele puxou fantasmas pelo wi-fi? Isto não faz sentido!” – uma afirmação com a qual eu estava prestes a concordar entusiasmadamente quando, para minha grande surpresa, um sujeito que estava de costas para a câmera se vira e declara: “Faz, sim!”. O sujeito em questão era Brad Dourif e eu não precisava mais me esforçar para conter as risadas; afinal, ninguém melhor do que o esquisitão mais lendário do Cinema moderno para trazer credibilidade a uma premissa absurda.

É claro que, no fim das contas, ninguém se preocupa em explicar como se espalhou a informação de que fitas isolantes vermelhas eram capazes de afastar os Gollums – mas isto também não interessa. A esta altura, eu já estava rindo sozinho ao imaginar um pobre-coitado daltônico olhando todo feliz para seu quarto entupido de fita verde. Quem sabe na continuação?

 30 de Novembro de 2006

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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