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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/01/2008 13/12/2007 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
124 minuto(s)

A Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos
National Treasure: The Book of Secrets

Dirigido por Jon Turteltaub. Com: Nicolas Cage, Jon Voight, Helen Mirren, Ed Harris, Diane Kruger, Justin Bartha, Ty Burrell, Bruce Greenwood, Harvey Keitel.

 

Em certo momento de A Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos (daqui em diante, O Livro dos Segredos), o herói vivido por Nicolas Cage, desesperado para fotografar um artefato mas sem possuir uma câmera em mãos, decide segurar o objeto em frente ao rosto enquanto ultrapassa um sinal fechado. O objetivo: obrigar o radar a fotografá-lo e posteriormente acessar a imagem com a ajuda de seu amigo hacker. Se isto soa como algo ofensivamente estúpido para você, o restante do filme só reforçará esta opinião. Particularmente, considerei este conceito idiotamente divertido, servindo para resumir perfeitamente o que este longa representa: uma diversão esquecível; algo que você consome, digere e elimina sem conseguir se lembrar posteriormente do que passou por sua garganta, a não ser por alguns detalhes como um sabor adocicado aqui ou uma textura desagradável ali. E o melhor: esta continuação se assume como idiota sem julgar que o espectador também o seja – o que a separa de atrocidades similares como Aliens Versus Predador 2 ou DOA: Morto ou Vivo.

 

Quando a história tem início, somos apresentados a Thomas Gates, tataravô de Ben Gates (Cage): especialista em criptografia, ele é consultado por dois homens misteriosos dias após o fim da Guerra Civil norte-americana, recebendo a tarefa de decifrar um enigma contido num pequeno livro. Enquanto ele se dedica ao trabalho, um dos homens se dirige a um teatro perto dali e assassina Abraham Lincoln, revelando-se como o próprio John Wilkes Booth – e o tal livrinho traz a localização de um tesouro que poderia sustentar o exército confederado e manter a guerra por mais longos anos. Pois quando a memória de Thomas Gates é manchada pela informação de que ele poderia ser um dos que conspiraram contra Lincoln (em vez daquele que garantiu a vitória da União na Guerra Civil ao queimar o tal livro), seus descendentes modernos partem numa missão para provar sua inocência – algo que passa pela descoberta da lendária Cidade de Ouro.

 

Adotando a lógica das cinesséries de aventura das décadas de 30 e 40, O Livro dos Segredos é, como seu antecessor, uma espécie de sub-Indiana Jones, enviando seu herói em buscas por artefatos históricos valiosos e lendários, mas sem dedicar muita atenção ao desenvolvimento dos personagens ou mesmo da trama. Recheando sua narrativa com enigmas bacaninhas (como o cofre oculto num par de mesas), o roteiro falha ao mostrar o herói como um sujeito inteligente demais: a facilidade com que Ben Gates soluciona os mistérios à sua frente não apenas é absurda como ainda elimina qualquer possibilidade de tensão, já que os obstáculos que enfrenta são ultrapassados sem muitos problemas – algo que se torna particularmente incômodo na cena em que, para encontrar uma pequena marca nas pedras, ele pede que seus companheiros molhem as rochas (que representam uma grande superfície) e localiza o símbolo em questão de segundos.

 

Empregando uma montagem extremamente ágil que busca ocultar os furos e absurdos do roteiro, o filme também salta de uma locação a outra com imensa velocidade e, com isso, o espectador só encontra tempo para analisar a trama depois que esta chega ao fim – mas, a esta altura, o impulso de fazê-lo já não existe mais, já que esta não é uma produção que inspire grandes reflexões. Em contrapartida, o tom frenético adotado pelo diretor Jon Turteltaub sacrifica outros momentos em que um pouco mais de lógica visual seria fundamental, como a confusa perseguição de carros que empalidece terrivelmente diante de seqüências similares em obras como A Supremacia Bourne ou Ronin. Da mesma forma, embora os rombos no roteiro possam ser ignorados em sua maioria, a motivação da família Gates para encontrar a Cidade de Ouro é particularmente problemática: afinal, por que aquilo serviria para inocentar Thomas? Além disso, a sugestão de que o Monte Rushmore teria sido esculpido para disfarçar algo ultrapassa o ridículo: quer dizer que a melhor forma de desviar a atenção do público é atraindo-o para o lugar que desejamos ocultar? Para finalizar, é no mínimo curioso (mas não um problema, claro) que, pela segunda vez em sua carreira, Nicolas Cage tenha acesso a documentos que revelam grandes segredos da história norte-americana, já que já havia tomado posse do microfilme visto no excelente A Rocha.

 

Cage, aliás, continua a se entregar cada vez mais ao exagero – e a cena na qual simula uma briga com a ex-esposa é especialmente dolorosa de assistir, já que o ator exibe todos os seus piores vícios de interpretação sem que o diretor Tuteltaub faça qualquer esforço para controlá-lo (se fez, falhou miseravelmente). E se a idéia de escalar Bruce Greenwood para o papel de presidente dos Estados Unidos é uma boa piada cinematográfica (afinal, ele foi Kennedy no ótimo 13 Dias que Abalaram o Mundo), a utilização do personagem pela trama é problemática, já que ele serve basicamente para criar um suspensezinho barato (e implausível) ao levar o protagonista a ser perseguido pelo FBI por seqüestro, quando bastaria uma palavra do presidente para inocentá-lo ou mesmo perdoá-lo oficialmente (algo que o roteiro não se preocupa em lembrar até o momento oportuno).

 

Comprometendo-se também com seus diálogos excessivamente expositivos, quando um personagem explica para outro o que ambos já sabem (o propósito, claro, é que o espectador também seja informado), O Livro dos Segredos ao menos funciona razoavelmente bem em suas tentativas de humor – especialmente graças ao estúpido Riley (Bartha), que evita se transformar num mero alívio cômico ao ganhar também a afeição do público com suas inseguranças e neuroses. Por outro lado, o casal de roteiristas Marianne e Cormac Wibberley encontra uma fraca solução para o dilema criado pelo final feliz do original: como terminaram juntos, Ben Gates e  Abigail Chase (Kruger) talvez não conseguissem gerar uma tensão romântica eficaz neste novo capítulo e, assim, surgem separados no início da história – o que permite que voltem a adotar a dinâmica “brigamos-mas-nos-amamos”, tão clichê em filmes do gênero (para piorar, ele é empregado duplamente nesta produção, servindo também como combustível para a interação entre os personagens de Jon Voight e Helen Mirren).

 

Contando ainda com Ed Harris como um vilão que jamais consegue se decidir entre agir nobremente ou como um verme desprezível (dependendo das necessidades imediatas do roteiro), O Livro dos Segredos é uma bobagem que não hesita em brincar com cenas da série 007 (quem não se lembra de Sean Connery e seu smoking sob trajes de mergulho – algo que também já foi “homenageado” em True Lies?) ou mesmo em “roubar” toda a premissa de um curta Oscarizado (a animação Balance, de 1989). Ainda assim, é difícil resistir totalmente a um filme que se sujeita ao riso de zombaria do espectador sem, com isso, demonstrar que ri de seu público em retorno.

 

Observação: o fantástico curta mencionado acima (que, para ser justo com O Livro dos Segredos, é citado em seus créditos finais) pode ser visto aqui.

 

Observação 2: Se você acha que as 3 estrelas atribuídas a este filme não condizem com o conteúdo da crítica, sugiro que leia esta Conversa de Cinéfilo.

 

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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