Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/08/2011 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora

Quero Matar Meu Chefe
Horrible Bosses

Dirigidopor Seth Gordon. Com: Jason Bateman, Jason Sudeikis, Charlie Day,Jennifer Aniston, Kevin Spacey, Colin Farrell, P.J. Byrne, Lindsay Sloane, IoanGruffudd, Julie Bowen, Jamie Foxx e Donald Sutherland.

É uma pena que Quero Matar Meu Chefe não tenha sidolançado com a tradução literal de seu título no Brasil (Chefes Horríveis), já que isto permitiria que eu abrisse este textofazendo algum tipo de piada com seu nome e o fato de que o adjetivo alipresente poderia se referir ao próprio filme. Sim, seria uma tirada óbvia,medíocre e sem graça, mas ao menos teria a coerência de ser descrita por maisadjetivos que também serviriam para qualificar o longa.

Com um roteiro escrito a seis mãospor Michael Markowitz, John Francis Daley e Jonathan Goldstein (todos oriundosde sitcoms formulaicas), esta “comédia”gira em torno de Nick (Bateman), Kurt (Sudeikis) e Dale (Day), três amigossufocados por patrões que parecem determinados a transformar suas vidas em uminferno constante. Fartos da situação e temendo o desemprego, eles optam poreliminar seus chefes, inspirando-se em PactoSinistro e decidindo executar os crimes uns dos outros – ignorando,claro, que o simples fato de serem amigos de longa data já eliminaria a ideiacontida no título original do filme de Hitchcock (“Estranhos em um Trem”).Recebendo a consultoria de um ex-presidiário (Foxx), eles dão início a umplanejamento que inclui estudar o cotidiano de seus superiores: Harken(Spacey), que manipula Nick como um verdadeiro sociopata; Bobby (Farrell), cujaparanoia induzida pela cocaína só empalidece diante de sua escrotice como ser humano;e a dentista Julia (Aniston), que assedia Dale sexualmente mesmo diante dospacientes anestesiados.

É claro que, em teoria, estapremissa poderia funcionar bem (como no divertido Jogue Mamãe do Trem, também citado aqui), mas infelizmente os trêsroteiristas jamais conseguem estabelecer um mínimo de verossimilhança nadecisão dos personagens de abraçar o assassinato – e não acreditei por umsegundo sequer que Nick, Kurt e Dale fossem mesmo capazes de levar seus planosadiante. Para piorar, embora sejam as figuras principais da narrativa, sãotambém as mais desinteressantes, já que o filme só ganha vida e se torna moderadamentedivertido quando seus chefes se encontram em cena. Escondido sob uma pesadamaquiagem que o deixa calvo, dentuço e barrigudo, por exemplo, Colin Farrellabraça a natureza grotesca de Bobby com determinação e sem medo do exagero, aopasso que Jennifer Aniston, como Julia, mostra-se plenamente à vontade em umpapel relativamente raro em sua carreira repleta de mocinhas adoráveis ouinofensivas (ignoro, aqui, seus dez anos em minha querida Friends). Mas é mesmo Kevin Spacey quem merece destaque absoluto aoencarnar Harken com um cinismo digno de um supervilão, praticamente roubando ofilme sempre que surge na tela.

Não que não ocorram momentos mais inspiradosaqui e ali protagonizados pelos heróis: se Jason Sudeikis arranca algumasrisadas graças à energia infantil de seu personagem, ilustrando a naturezajuvenil de Kurt ao perguntar, por exemplo, “como está seu cabelo” aopreparar-se para um encontro com um assassino, Jason Bateman faz, por sua vez,uma escolha interessante ao se colocar no papel de “adulto”, parecendo encararos acontecimentos absurdos ao seu redor com terror absoluto. Assim, é tristeque o roteiro prefira se concentrar durante boa parte do tempo no insuportávelDale, vivido pelo igualmente terrível Charlie Day – certamente a anti-revelaçãodo Cinema em 2011 (e primeiro ganhador do “troféu Rob Schneider” aquiinstituído). Acreditando que gritar suas falas será o bastante para deixá-lasengraçadas, o sujeito transforma seu personagem num vácuo cômico que suga aenergia da narrativa e dos companheiros de cena sempre que abre a boca – e,como se não bastasse, é simplesmente impossível acreditar que ele recusaria osavanços de uma mulher como Aniston por “sempre ter desejado ser marido”(especialmente se considerarmos a falta de carinho ou química que ele demonstraao lado da noiva vivida por Lindsay Sloane).

Enquanto isso, o péssimo diretorSeth Gordon (do igualmente sofrível Surpresasdo Amor) exibe uma falta de controle assustadora no que diz respeito ao tomque deseja conferir ao filme: em um minuto, parece estar investindo no nonsense; em outro, num intenso humornegro; mais tarde, na mais insossa comédia de situação. Com isso, os elementosnarrativos do longa não apenas não se complementam como ainda se prejudicammutuamente – e é estranho, por exemplo, ver Bateman tentando conferir realismoao seu personagem numa cena absurda em que um ex-colega, agora desempregado,oferece masturbá-lo por 40 dólares numa situação que parece saída de um roteirodescartado pelos irmãos Farrelly. Da mesma maneira, Gordon é óbvio ao extremo –algo que fica claro no momento em que Nick agride o chefe e no qual percebemos imediatamentese tratar de uma alucinação do personagem. E mais: o cineasta também exibe opéssimo hábito de explicar suas piadas, como no instante em que o trioprincipal abre uma maleta que revela, em seu interior, um pequeno maço dedinheiro apenas para que Dale se encarregue de apontar o disparate para oespectador. Para completar, Gordon inclui patéticas tentativas de gags que jamais chegam a lugar algum,como ao mostrar Kurt usando binóculos para olhar a bunda de uma pessoa apenaspara constatar que estivera observando um homem. Ha. Ha. Fucking. Ha.

Acertando aomenos na direção de arte, que faz bonito tanto nos grandes elementos (como acasa de Bobby) quanto nos pequenos (observem a plaquinha na mesa do sujeito,que traz seu nome, escrito num papel, sobreposto ao do pai recém-falecido), Quero Matar Meu Chefe acaba entregandosua falta de confiança na própria qualidade em seus créditos finais, que trazema marca inconfundível de uma comédia sem graça: erros de filmagem.

Ah, dane-se o título original: queromatar quem deu luz verde a este projeto.

03de Agosto de 2011

SigaPablo Villaça no twitter clicando aqui e o Cinema em Cena clicando aqui!

Comenteesta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Cliqueaqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!