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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
06/10/2006 26/09/2006 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
83 minuto(s)

O Bicho Vai Pegar
Open Season

Dirigido por Roger Allers, Jill Culton, Anthony Stacchi. Com as vozes de Ashton Kutcher, Martin Lawrence, Jon Favreau, Gary Sinise, Jane Krakowski, Debra Messing, Billy Connolly, Patrick Warburton.

 

Selvagem, Madagascar, Os Sem-Floresta, O Segredo dos Animais e O Bicho Vai Pegar. Cinco animações computadorizadas protagonizadas por animais de zoológico ou floresta em menos de um ano (seis, se contarmos O Galinho Chicken Little). Normalmente, isto já seria o bastante para esgotar (ou, ao menos, enfraquecer) o interesse do público por determinados temas, mas, no caso da produção digital da Sony Pictures Animation (primeiro trabalho solo da empresa), o resultado se torna ainda mais comprometido pela fraquíssima qualidade do roteiro e pelos atributos técnicos apenas adequados. Na realidade, se recentemente eu já não tivesse assistido à animação Os Carrinhos (um esforço picareta de um grupo brasileiro para capitalizar em cima do sucesso de Carros), eu me arriscaria a dizer que O Bicho Vai Pegar representa o primeiro esforço entre as produções animadas digitais a atingir o fundo do poço.

           

Escrito por Ron J. Friedman e Steve Bencich, responsáveis pelo belíssimo Irmão Urso (e pelo mediano Chicken Little), o filme gira em torno de Boog, um urso adestrado que vive na garagem de sua dona Beth (cujo rosto parece ter sido inspirado no da atriz Catherine O’Hara) e leva uma existência confortável e preguiçosa. Certo dia, depois de salvar o cervo Elliot das garras do caçador Shaw, o urso se aventura com seu novo amigo em uma loja de guloseimas da pequena cidade em que residem, provocando vários estragos que levam o xerife do lugar a obrigar Beth a devolver Boog para seu habitat natural: a floresta. O problema é que faltam apenas três dias para o início da temporada de caça e, como “bicho de estimação”, o urso não faz a menor idéia de como se proteger dos caçadores – entre eles, Shaw, que começa a perceber que os animais que persegue são criaturas mais inteligentes do que todos imaginam.

           

Contando uma história chata e repetitiva, O Bicho Vai Pegar ainda comete o equívoco de não ser particularmente engraçado ou divertido: na maior parte do tempo, acompanhamos conversas aborrecidas entre os personagens – e mesmo as cenas com maior ação são recheadas de piadinhas óbvias que já foram utilizadas à exaustão por inúmeras outras produções: quando Elliot tenta salvar Boog de uma situação complicada e acaba machucando o urso, este grita “Para de me ajudar!”, numa tirada idêntica àquela já empregadas em comédias como True Lies, A Volta ao Mundo em 80 Dias e no próprio Irmão Urso. Além disso, o filme parece acreditar que a única forma de estabelecer dinâmica entre os personagens é através de brigas constantes, repetindo, sem o mesmo talento, a fórmula de obras superiores, como Shrek, A Era do Gelo, Formiguinhaz, entre outras. Em contrapartida, nos poucos momentos em que parece ter uma idéia mais original, o longa desconfia de sua própria capacidade em apresentá-la apropriadamente e se empenha em explicá-la para o espectador (como pode ser observado na cena em que há uma inversão da história de “Cachinhos Dourados” e o urso invade a casa de uma pessoa – no caso, Shaw).

           

Com relação aos seus aspectos técnicos, O Bicho Vai Pegar é uma produção meramente adequada: a animação dos personagens é competente, mas o visual estilizado dos animais não exibe o mesmo charme de filmes como Madagascar e Os Sem-Floresta ou, no outro lado do espectro, o realismo de Selvagem. Assim, o que temos são criaturas bonitinhas, mas nada mais do que isso. Da mesma forma, os humanos presentes na história ganham uma constituição borrachenta tecnicamente ultrapassada, típica dos primórdios da animação digital, e que já não deveria ser vista em uma produção atual. Finalmente, os cenários decepcionam pela falta de profundidade e perspectiva, muitas vezes se assemelhando a um matte painting em duas dimensões – especialmente nas cenas em que o horizonte é descortinado.

           

Dirigido sem inspiração por seus três realizadores, o filme ainda abusa dos momentos em que se limita a retratar Boog e Elliot dividindo o mesmo quadro enquanto têm mais uma de suas inúmeras discussões. Para piorar, a montagem frouxa deixa o projeto sem ritmo e parecendo mais longo do que é na realidade. Muuuito mais longo.

 

Observação: Há cenas curtas adicionais durante os créditos finais.
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06 de Outubro de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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