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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/07/2004 23/01/2004 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
113 minuto(s)

Efeito Borboleta
The Butterfly Effect

Dirigido por Eric Bress e J. Mackye Gruber. Com: Ashton Kutcher, Amy Smart, Melora Walters, Elden Henson, Ethan Suplee, William Lee Scott, John Patrick Amedori, Logan Lerman, Irene Gorovaia, Kevin Schmidt, Jesse James, Nathaniel DeVeaux e Eric Stoltz.

Depois de passar a infância e a adolescência sofrendo acessos misteriosos que deixaram verdadeiras lacunas em sua memória, o jovem Evan (Kutcher) descobre, por acaso, que a leitura de seus antigos diários, que registram os momentos dos `apagões`, é capaz de levá-lo de volta no tempo, permitindo que ele altere acontecimentos de seu passado. Infelizmente, ao retornar ao presente, ele percebe que suas ações resultaram em graves repercussões para várias pessoas – e suas tentativas seguintes de `consertar` tudo vão complicando as coisas ainda mais.

Escrito por J. Mackye Gruber e Eric Bress (também co-diretores do projeto), que já haviam brincado com a noção de `alterar o destino` em Premonição 2, o filme investe sua meia hora inicial no desenvolvimento da premissa, sem deixar que o espectador perceba claramente para onde tudo está caminhando – e, com isso, consegue criar um bom clima de tensão ao mesmo tempo em que apresenta seus personagens, que, em suas versões mais jovens, são interpretados por atores-mirins surpreendentemente talentosos. Além disso, a extensa introdução da narrativa cumpre o importante papel de estabelecer situações que serão revisitadas várias vezes ao longo da projeção, o que é fundamental para que o público possa compreender o que irá ocorrer.

Aliás, é justamente esta fluidez na cronologia da história que transforma O Efeito Borboleta em um longa sempre envolvente: a cada `viagem` que faz, Evan ganha novas memórias referentes às realidades que cria – o que, ao mesmo tempo em que o surpreende, o prepara para lidar com os problemas que encontra. (Ainda assim, o filme falha ao mostrar as lembranças `antigas` do rapaz sendo apagadas, já que, aparentemente, ele jamais esquece os `mundos` paralelos que visita.) E o que é melhor: determinados a explorar a premissa ao máximo, Gruber e Bress desenvolvem soluções bastante criativas para os dramas do herói, como, por exemplo, ao explicarem o que ocorria durante os `acessos` deste, e, é claro, ao incluírem uma seqüência em que o protagonista tenta convencer um outro personagem de que é capaz de viajar no tempo.

Por outro lado, os roteiristas falham ao apostarem apenas em mudanças extremamente radicais entre as realidades paralelas visitadas por Evan, que sempre incluem a morte de algum indivíduo próximo a ele ou alguma tragédia do tipo – e, em muitos casos, o recurso soa forçado (como na cena em que a mãe do rapaz surge doente). E o que é pior: o herói nunca encontra muitas dificuldades para identificar exatamente qual é o problema a ser `corrigido`, já que não há a menor sutileza no roteiro – e isto torna a missão de Evan muito fácil, como se ele apenas pensasse: `Hum, preciso consertar X e Y e, para isso, tenho que fazer W e Z`. Ora, na vida raramente podemos apontar com precisão o que está `errado` – e O Efeito Borboleta se beneficiaria caso retratasse este fato. Como se não bastasse, o envolvimento entre o sujeito e sua amiga de infância soa forçado, como se, de uma hora para outra, uma paixão avassaladora tivesse sido exigida pelo roteiro.

Assumindo um personagem dramático pela primeira vez em sua carreira, Ashton Kutcher (Recém-Casados) revela-se uma escolha inadequada para o papel. Não que ele seja um desastre; o fato é que o ator simplesmente não possui o `peso` necessário para sustentar uma trama carregada como esta – e sua bagagem cômica representa uma terrível distração, dificultando, para o espectador, a tarefa de levá-lo a sério. (Porém, não havia muita escolha, já que foi somente graças a Kutcher que o projeto saiu da gaveta – daí seu crédito de produtor executivo). Já Amy Smart se sai melhor ao viver diversas versões da sofrida Kayleigh, enquanto os talentosos Eric Stoltz e Melora Walters pouco fazem como o mau-caráter Sr. Miller e a abnegada mãe de Evan.

Embora se mostre corajoso ao incluir seqüências que envolvem pedofilia, violência contra animais e abuso sexual entre prisioneiros, O Efeito Borboleta comete um terrível erro em seu ato final: depois de sugerir uma explicação surpreendente (oferecida por um certo Dr. Redfield) que o engrandeceria, o roteiro não apenas descarta a idéia como ainda apela para uma solução que trai todas as regras determinadas pela própria história, o que é lamentável.

Assim, é impossível evitar uma certa sensação de decepção, já que o filme esteve muito perto de se tornar brilhante como o similar (mas vastamente superior) Donnie Darko. Pena que a dupla de roteiristas não pôde realizar façanha semelhante à de seu herói e voltar no tempo a fim de rever suas decisões. Este terceiro ato bem que merecia uma nova chance.
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17 de Junho de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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