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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/06/2003 20/09/2002 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
106 minuto(s)

Encurralada
Trapped

Dirigido por Luis Mandoki. Com: Charlize Theron, Kevin Bacon, Courtney Love, Stuart Townsend, Dakota Fanning, Colleen Camp e Pruitt Taylor Vince.

Não se deixe enganar pela campanha de marketing de Encurralada: apesar do trailer apresentar a história de uma mãe que luta para salvar a filha seqüestrada, o filme parece mostrar exatamente o contrário: particularmente, só me lembro de duas outras produções em que alguém parecia tão empenhado em provocar a morte de um parente que se encontrava em cativeiro: Por Favor, Matem Minha Mulher (no qual Danny DeVito faz de tudo para irritar os raptores de sua esposa) e O Preço de um Resgate (no qual Mel Gibson comete a imprudência de gritar com o seqüestrador que, do outro lado da linha telefônica, aponta uma arma para a cabeça de seu filho).

Escrito por Greg Iles a partir de seu próprio livro, o roteiro de Encurralada gira em torno da alegre família Jennings, que, certo dia, tem sua rotina alterada quando a pequena Aby (Fanning) é seqüestrada por uma quadrilha. Aterrorizada com o desaparecimento da filha, Karen (Theron) passa a ser vigiada pelo instável Joe (Bacon), mentor do golpe – que, logo descobrimos, já foi aplicado quatro vezes. O plano do sujeito é simples: enquanto a criança é mantida em um lugar secreto por um de seus comparsas, a mãe da garota deve transferir 250 mil dólares para a cidade em que o marido se encontra (ele viajou para dar uma palestra). Este, por sua vez, encontra-se sob poder da esposa de Joe, que deverá pegar o dinheiro e, então, dar o sinal para que Aby seja libertada. Para garantir o sucesso do plano, Joe deve ligar para seus cúmplices a cada 30 minutos para verificar se tudo está correndo bem; caso a ligação não seja feita neste período de tempo, a criança será morta em represália. Porém, o esquema dos seqüestradores começa a falhar quando estes descobrem que Aby é asmática e pode morrer caso não receba seus medicamentos. E, para complicar ainda mais, Karen não parece disposta a cooperar com os bandidos.

Apesar da trama convencional, a primeira hora de Encurralada apresenta momentos bastante inspirados – graças, principalmente, ao personagem de Kevin Bacon, que, apesar de se comportar de forma equilibrada e `profissional`, parece estar sempre à beira de atingir o próprio limite, com resultados assustadores. As conversas que Joe mantém com Karen são sempre tensas, sendo superadas somente pelos confrontos entre ele e William (Townsend), pai da garotinha seqüestrada (uma cena particularmente eficaz é aquela em que Joe `explica` para William porque este não deve agredir sua cúmplice). Além disso, o filme se esforça em mostrar que os três bandidos possuem um lado bom, já que estão sempre se preocupando com o bem-estar de sua pequena refém (um deles chega a levar uma boneca para o esconderijo a fim de tranqüilizar a menina).

Aliás, para reforçar esta idéia, a seqüência de abertura de Encurralada chega até mesmo a mostrar o bem-sucedido desfecho do golpe anterior da quadrilha, ilustrando justamente o reencontro entre uma mãe e seu filho. Assim, como já vimos que os criminosos realmente não têm a menor intenção de ferir suas vítimas, passamos a torcer para que Karen e William sigam o plano dos seqüestradores – e, conseqüentemente, quando o casal decide criar problemas, confesso que senti raiva de sua estupidez ao mesmo tempo em que admirei a paciência do personagem de Bacon, que, depois de ver Karen se comportar de maneira completamente oposta ao que ele determinara, diz apenas: `Todos têm direito a um erro. Você já cometeu o seu`.

Infelizmente, qualquer sinal de inteligência que a história pudesse apresentar acaba desaparecendo a partir do momento em que o roteirista decide introduzir uma `revelação` sobre as verdadeiras motivações de Joe – como se o bandido precisasse de outras razões para cometer seu crime, além dos 250 mil dólares. Além de ser ridiculamente inverossímil, a justificativa apresentada pelo sujeito transforma-o em um vilão caricatural, eliminando o interesse do espectador por sua personalidade. Enquanto isso, William passa a se comportar de forma totalmente absurda: depois de se esforçar ao máximo para atrapalhar os seqüestradores de Aby, o sujeito se apavora ao atrair a atenção da polícia. Ora, o que ele esperava, afinal de contas?

Porém, nada poderia preparar o público para o caos que toma conta da produção em seu ato final, que, aparentemente, foi escrito enquanto o roteirista encontrava-se bêbado. Aliás, não vou sequer tentar descrever o que acontece, já que não pretendo estragar as `surpresas` da história – digo, apenas, que William (apesar de ser retratado como herói) prova ser mais perigoso para a sociedade do que os vilões do filme, parecendo demonstrar uma vontade inabalável de provocar a morte da filha e de qualquer cidadão desavisado que cruze seu caminho (algo que a tomada final de Encurralada ilustra muito bem).

Como, ao longo da projeção, Joe e seus cúmplices estão sempre demonstrando que não pretendem machucar sua jovem refém, só consegui encontrar uma explicação para o comportamento do casal Jennings: apego ao dinheiro. O filme pode até acreditar que eles querem proteger a filha, mas, para mim, eles querem mesmo é preservar seu saldo bancário. E esta não é uma motivação muito apropriada para os heróis de uma produção como esta.
``

3 de Junho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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