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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/04/2005 19/01/2005 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
109 minuto(s)

Assalto à 13a. DP (2005)
Assault on Precinct 13

Dirigido por Jean-François Richet. Com: Ethan Hawke, Laurence Fishburne, Gabriel Byrne, Drea de Matteo, Maria Bello, Ja Rule, Kim Coates, John Leguizamo, Matt Craven, Brian Dennehy.

Quando soube que esta refilmagem de Assalto à 13ª. DP, um dos melhores (e mais subestimados) filmes de John Carpenter, recebera a classificação `proibido para menores de 18 anos`, confesso que fiquei aliviado. Um de meus maiores receios com relação a este projeto residia na tendência que Hollywood desenvolveu, nos últimos quinze anos, de `pasteurizar` suas produções, criando filmes inofensivos (mesmo quando não deveriam ser) a fim de conseguir censuras mais leves e, conseqüentemente, um maior público. Afinal, há histórias que precisam da violência para funcionarem – e o jovem Carpenter compreendia isto como poucos (quem consegue esquecer da garotinha, na versão de 1976, que leva um tiro no peito enquanto toma um sorvete?).

Seguindo de perto a trama do original (que, por sua vez, era uma versão urbana do fabuloso Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks), este novo Assalto à 13ª. DP gira em torno de uma delegacia que está prestes a ser desativada e que, em sua última noite de funcionamento, hospeda um grupo de prisioneiros por algumas horas. No entanto, quando uma perigosa gangue decide atacar o lugar, policiais e bandidos são obrigados a unirem forças a fim de resistirem à ameaça. Nesta nova versão, porém, duas importantes modificações foram feitas com o objetivo de tornar a situação ainda mais tensa: uma forte nevasca cobre a cidade e os vilões contam com um arsenal infinitamente mais poderoso do que aquele utilizado pela quadrilha do longa de 76. Ah, sim: e o roteirista James DeMonaco corrige um dos erros mais curiosos da história do Cinema, já que, no original, a delegacia atacada era a 9ª., e não a 13ª., como indicava seu título.

Por outro lado, algumas das mudanças soam como meras convenções: por que, por exemplo, inventar um trauma no passado do policial vivido por Ethan Hawke se isto não será de fato importante para a narrativa? E por que insistir em estabelecer identidades marcantes para cada coadjuvante, sendo que, neste caso, a situação em si é mais importante do que o (fraco) desenvolvimento de personagens? É claro que bons personagens sempre enriquecem uma história, mas é preferível deixá-los como esfinges do que empregar clichês e psicologia barata para apresentá-los. (Um veterano que anuncia estar prestes a se aposentar? Um marginal que insiste em falar sobre si mesmo na terceira pessoa? Uma secretária ninfomaníaca? Por favor... E, já que toquei no assunto, quando Laurence Fishburne vai deixar de interpretar Morpheus?)

Seja como for, devo admitir que Assalto à 13ª. DP apresenta mais acertos do que erros. A princípio, por exemplo, fiquei aborrecido ao constatar que o roteiro insistia em criar uma justificativa `plausível` para o ataque à delegacia (no original, os heróis jamais ficavam sabendo por que os vilões queriam tanto matar o homem em estado de choque que refugiou-se no local) – e esta frustração aumentou ainda mais quando percebi que tal justificativa envolvia um dos presos (ao contrário da versão de Carpenter, na qual policiais e bandidos eram igualmente ameaçados sem motivos). Para minha grande surpresa, no entanto, DeMonaco consegue encontrar formas de encaixar as modificações no roteiro de forma orgânica, sem que estas soem intrusivas.

E mais: se a princípio a narrativa parece previsível, permitindo que antecipemos suas reviravoltas, logo percebemos que Assalto à 13ª. DP conta, sim, com sua parcela de choques inesperados – principalmente no que diz respeito ao destino de vários personagens (um deles, em especial, representou um susto tremendo). Da mesma forma, é agradável perceber que o roteirista ao menos tenta conferir algum grau de complexidade ao vilão principal, que não parece totalmente confortável com as escolhas violentas que tem de fazer.

Conduzindo o conflito com segurança, o cineasta francês Jean-François Richet cria momentos de imensa tensão, merecendo destaque os tiroteios (os técnicos de som fazem um trabalho soberbo) e a perseguição na neve, no terceiro ato, quando Richet substitui a trilha instrumental pelos sons dos passos dos personagens na neve. (Ainda assim, devo admitir que não faço a mínima idéia de onde surgiu aquela floresta!) Como se não bastasse, o cineasta ainda cria um plano que, embora passe despercebido pela maior parte dos espectadores, merece aplausos por sua inventividade: aquele em que a câmera se aproxima das costas de Ethan Hawke, enquanto este lava o rosto (logo no início da projeção), e toma seu lugar em frente ao espelho, transformando-se como num passe de mágica em um plano subjetivo. Brian De Palma e Robert Zemeckis ficariam orgulhosos do resultado.
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07 de Abril de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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