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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
28/01/2005 01/10/2004 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
115 minuto(s)

Brigada 49
Ladder 49

Dirigido por Jay Russell. Com: Joaquin Phoenix, John Travolta, Jacinda Barrett, Robert Patricks, Morris Chestnut, Billy Burke, Balthazar Getty, Tim Guinee, Kevin Chapman, Jay Hernandez.

Brigada 49 é basicamente um filme institucional sobre o Corpo de Bombeiros norte-americano. É, também, uma propaganda de recrutamento que se encarrega de retratar o cotidiano destes profissionais como uma vida de contínuo heroísmo e pura camaradagem. Para finalizar, é uma escancarada homenagem a todos os bombeiros, que, depois dos atentados de 11 de Setembro, se tornaram verdadeiros santos entre os ianques, assumindo o posto de ícones do `espírito de sobrevivência e de luta dos Estados Unidos da América`.

Escrito por Lewis Colick, Brigada 49 já começa em meio a um incêndio impressionante em um edifício colossal. É então que a companhia do título chega ao local e seus integrantes entram no prédio em chamas a fim de resgatarem possíveis vítimas. Porém, depois de salvar um homem que estava preso no 12º andar, o bombeiro Jack Morrison (Phoenix) é surpreendido por uma explosão e cai em uma fenda, ficando aprisionado em meio ao fogo e aos escombros. Enquanto uma equipe de resgate é enviada para encontrá-lo, Jack relembra sua trajetória profissional e pessoal até aquele momento.

De modo geral, a estrutura narrativa adotada pelo roteiro tem seus bons e maus aspectos: por um lado, é inevitável reconhecer que, caso seguisse uma cronologia linear, Brigada 49 seria um filme mais cansativo e menos envolvente. Ao jogar seu herói em uma situação de perigo desde o início, o longa cria uma ligação imediata entre Jack e o espectador, o que é bastante positivo. Por outro lado, como já sabemos o que vai acontecer a Jack, os flashbacks assumem um caráter melancólico, pois não conseguimos deixar de pensar que ele deveria largar tudo aquilo antes que o inevitável ocorra; e, neste sentido, as cenas no tempo presente são uma distração. Além disso, boa parte do suspense é destruída, já que sabemos de antemão quem provavelmente irá se ferir ou mesmo morrer durante os incêndios vistos nos flashbacks – é só prestar atenção naqueles personagens que não se encontram entre os integrantes da equipe enviada para resgatar o protagonista.

Outro problema provocado pela estrutura do filme diz respeito ao seu caráter episódico: em um instante, vemos Jack conhecendo a esposa; logo depois, eles se casam e, minutos depois, já têm dois filhos e estão completando dez anos de matrimônio. Com isso, somos obrigados a aceitar diversas informações que são atiradas ao longo da história sem maiores justificativas. Um exemplo: durante o batismo de um dos filhos de Jack, vemos que o padrinho do garoto é o capitão Mike Kennedy, superior do protagonista – e, na montagem que se segue, percebemos que ele se tornou parte da família de Jack. Mas como esta amizade se tornou tão forte? Ao que parece, a única justificativa para esta ligação é o fato deles serem interpretados por John Travolta e Joaquin Phoenix.

Já o clima de camaradagem entre os membros da brigada é estabelecido com maior eficiência pelo diretor Jay Russell – para aqueles homens, até mesmo as discussões são uma forma de estreitar as amizades. Em um trabalho que exige confiança absoluta nos companheiros, é revelador perceber que, mesmo depois de uma briga terrível, os indivíduos que se desentenderam não hesitam em colocar suas vidas nas mãos um do outro – algo que o filme ilustra com sutileza, sem sentir necessidade de fazer um escarcéu sobre a questão. Aliás, uma das qualidades de Brigada 49 é a ausência de vilões; para os bombeiros, o único inimigo em comum é o fogo em si. Além disso, o longa também deixa bem claro que, numa equipe, não existe heroísmo individual: se Jack consegue salvar um homem que se encontra no parapeito de uma janela, isto só é possível porque do outro lado de sua corda de proteção estão seus companheiros.

As seqüências de ação vistas durante a narrativa, diga-se de passagem, são bastante eficientes. Evitando as proezas exageradas típicas dos filmes de ação, o cineasta mantém seus personagens no mundo real, o que é fundamental para que a história funcione. Pena que, em alguns momentos, Russell faça escolhas claramente equivocadas, como ao criar um plano subjetivo despropositado (e nada elegante) para mostrar Jack escorregando pelo mastro do quartel e entrando no caminhão depois de ouvir o alarme. E a obviedade na utilização das câmeras lentas também depõe contra o diretor, que emprega o recurso sempre que julga necessário ressaltar um ato de heroísmo ou um instante de camaradagem. Para finalizar, Russell mostra-se pouco sutil ao permitir que o espectador antecipe vários acontecimentos da trama, como no momento em que um bombeiro é atingido por um jato de vapor.

Já a atuação de Joaquin Phoenix eleva o filme a um outro patamar: retratando Jack como um sujeito simples e simpático, o ator adiciona diversos elementos à composição do personagem, enriquecendo-o bastante. Observe, por exemplo, sua timidez ao conversar com os novos colegas e com Linda pela primeira vez; seu hábito de rir ao terminar certas frases; e o sorriso quase imperceptível ao ouvir o capitão dizer que, naquela companhia, irá `ver muita ação`. Como resultado, Jack torna-se uma figura tridimensional; alguém com quem realmente nos importamos. Enquanto isso, John Travolta adota uma postura mais discreta, compreendendo que o filme pertence a Phoenix e que seu dever, aqui, é apenas o de criar uma referência de autoridade e liderança para os demais personagens. Já a bela Jacinda Barrett é obrigada a assumir o posto de `esposa preocupada`, mas ao menos evita o clichê de se tornar uma criatura aborrecida que só sabe reclamar do emprego do marido (ela até ensaia assumir este papel, mas felizmente aprende a lidar com o trabalho de Jack).

Excessivamente preocupado em glorificar os bombeiros, Lewis Colick falha apenas ao não abordar os aspectos negativos da profissão, como os cortes de verba e os conseqüentes fechamentos de diversas companhias; e, é claro, a dor e a frustração que aqueles homens devem sentir quando falham em salvar alguém (como eu disse, o roteiro parece obcecado em mostrar apenas os êxitos). Vale citar, também, que a narrativa torna-se um pouco repetitiva durante o terceiro ato, quando vemos os heróis entrando em um edifício em chamas pela milésima vez.

Demonstrando que a morte de um bombeiro representa para seus companheiros a perda não apenas de um colega de trabalho, mas de um amigo, Brigada 49 é uma produção triste e – sim – uma bela homenagem aos combatentes do fogo. E ao concluir a projeção com uma montagem que traz os heróis enfrentando vários incêndios, o longa encontra um meio refinado de ilustrar que, para eles, o trabalho não termina com o filme.
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28 de Janeiro de 2005

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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