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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/11/2004 17/09/2004 5 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
106 minuto(s)

Direção

Kerry Conran

Elenco

Jude Law , Gwyneth Paltrow , Giovanni Ribisi , Angelina Jolie , Bai Ling , Michael Gambon , Laurence Olivier

Roteiro

Kerry Conran

Produção

Jude Law

Fotografia

Eric Adkins

Música

Ed Shearmur

Montagem

Sabrina Plisco

Design de Produção

Kevin Conran

Figurino

Kevin Conran

Direção de Arte

Kirsten Conran

Capitão Sky e o Mundo de Amanhã
Sky Captain and the World of Tomorrow

Dirigido por Kerry Conran. Com: Jude Law, Gwyneth Paltrow, Giovanni Ribisi, Angelina Jolie, Bai Ling, Michael Gambon, Laurence Olivier.

Capitão Sky e o Mundo de Amanhã custou setenta milhões de dólares. Porém, considerando-se a dimensão grandiosa de tudo o que surge na tela durante a projeção, seria fácil supor que seu orçamento tivesse custado no mínimo três vezes este valor. O segredo da economia feita pelo diretor estreante Kerry Conran? Simples: o filme foi praticamente todo rodado em frente ao blue screen, e os cenários (e vários personagens) foram adicionados com o uso de computadores.

Radicalizando um processo que Steven Spielberg já utilizara em A.I. – Inteligência Artificial, esta produção não foi sequer a primeira a empregar a técnica em escala tão extensa: há alguns meses, assisti ao francês Immortel (ad vitam), dirigido pelo iugoslavo Enki Bilal, que reivindica esta posição. Porém, há uma diferença básica entre os dois longas: enquanto Immortel narrava uma história ambientada no futuro, Capitão Sky... utiliza os efeitos visuais para recriar o passado. Não um passado totalmente factual, mas um que adiciona fantasia a um período que precisava desesperadamente disto: o final da década de 30 e início da de 40, quando a sombra de Hitler já escurecia o mundo.

Aliás, é fácil identificar o ano preciso no qual Capitão Sky se passa, 1939 – basta observar que, em dois instantes, somos informados de que os cinemas locais estão exibindo O Mágico de Oz e O Morro dos Ventos Uivantes. No entanto, aqui não há referência à Segunda Guerra e – mais surpreendente – o zepelim Hindenburg `ancora` no topo do Empire State Building. Escrito pelo próprio Conran, o filme é uma homenagem escancarada às cinesséries tão populares nos anos 30 e 40 e, justamente por isto, possui o mesmo tom de aventura fantasiosa de Os Caçadores da Arca Perdida, mergulhando personagens charmosos (e divertidamente cínicos) em uma trama empolgante e absurda sobre um cientista maluco que pretende destruir o mundo.

Inspirando-se também nas screwball comedies do período, Capitão Sky e o Mundo de Amanhã resgata um dos tipos clássicos do gênero: o do(a) jornalista capaz de tudo por um furo, aqui interpretada por Gwyneth Paltrow, que – como não poderia deixar de ser - é vista sempre em soft focus. Aliás, visualmente o filme adota o estilo inigualável da época, incluindo os planos inclinados, os `círculos de luz` que destacam frases de bilhetes e telegramas e os contrastes marcantes de sombra e luz típicos do expressionismo alemão e de seu filhote americano, o noir (aqui, o diretor também avança um pouco no tempo, trazendo elementos dos anos 50). Como se pode constatar, o longa faz questão de ser `cinematográfico` ao extremo: nada em sua concepção busca o realismo e, neste sentido, ele se torna uma homenagem não apenas às cinesséries, mas à Sétima Arte de modo geral.

Trabalhando com uma fotografia que aposta em um esquema de cores lavadas (e que recaem constantemente para o sépia), Conran faz uma mistura improvável, introduzindo robôs gigantes voadores em um universo no qual os personagens ainda usavam sobretudos e chapéus de feltro. Porém, como tudo o que surge na tela é gerado em computador, esta combinação não tem aquela natureza falsa de filmes como Mulher-Gato ou Van Helsing, nos quais os elementos digitais contrastavam brutalmente com o restante do cenário – e, desta maneira, a história fantástica de Capitão Sky (que faz referência a uma infinidade de clássicos, de King Kong a Horizonte Perdido) pode ser desenvolvida sem que o espectador se distraia com o surgimento de um ou outro efeito destoante (como os bonecos digitais de Blade 2 e Demolidor).

Mas creio que não estou fazendo justiça ao filme, já que, até agora, concentrei-me basicamente em seus aspectos técnicos (o que, de certa forma, é inevitável). O fato é que, por melhor que seja dos pontos de vista estético e tecnológico, Capitão Sky e o Mundo de Amanhã não seria tão arrebatador caso falhasse em sua narrativa (algo que, de certo modo, ocorre em Immortel (ad vitam)). Felizmente, além da trama divertida, o longa brilha graças à dinâmica entre o personagem-título (interpretado com bom humor por Jude Law) e a temperamental repórter Polly Perkins (Paltrow): ex-amantes, os dois atravessam a história fazendo um jogo de ciúmes irresistível e trocando farpas no melhor estilo Clark Gable-Claudette Colbert – algo que se torna ainda melhor quando entra em cena a Capitã Franky Cook, com quem o herói também se envolveu no passado (e, para aqueles que acreditam que não gosto de Angelina Jolie, uma novidade: ela está infinitamente mais convincente como a piloto durona desta produção do que jamais conseguiu ser na série Lara Croft).

Fechando o elenco, vem (acreditem ou não) o inesquecível Sir Laurence Olivier, que, morto em 1989, foi `ressuscitado` por Kerry Conran através da magia da computação gráfica, que transformou trechos de alguns de seus filmes dos anos 40 em uma nova e breve performance – tão breve, diga-se de passagem, que fica difícil discutir os méritos da idéia do cineasta (esta é uma discussão que merece um outro artigo, fugindo dos propósitos desta análise).

Capitão Sky e o Mundo de Amanhã não é apenas uma produção elaborada; é um passatempo de primeira, uma jornada de tirar o fôlego que funciona até o momento da inspirada piadinha final. E é, acima de tudo, um filme que merece ser visto mais de uma vez (no cinema!) para que possamos apreciar os detalhes espalhados pelos quatro cantos da tela.
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26 de Setembro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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