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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
23/07/2004 11/06/2004 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
119 minuto(s)

A Batalha de Riddick
The Chronicles of Riddick

Dirigido por David Twohy. Com: Vin Diesel, Judi Dench, Colm Feore, Thandie Newton, Karl Urban, Alexa Davalos, Linus Roache, Nick Chinlund, Keith David.

Em 2000, o cineasta David Twohy dirigiu e co-roteirizou Eclipse Mortal, uma ficção despretensiosa que surpreendeu pelo seu bom clima de tensão e pela interessante relação entre os personagens, que eram obrigados a depositar suas esperanças de sobrevivência em um perigoso assassino. Pois bem: não costumo citar dados financeiros em meus artigos, já que não acredito que isto seja importante ao se escrever sobre um filme (que deve ser analisado de acordo com seus méritos, não seu orçamento), mas neste caso abrirei uma exceção, pois creio que os números influenciaram as escolhas artísticas feitas pelo cineasta: Eclipse Mortal custou 23 milhões de dólares, um valor apenas moderado para os padrões de Hollywood. Já este A Batalha de Riddick, continuação daquela produção, foi realizado por nada menos do que 105 milhões de dólares. Na prática, isto significa que Twohy foi levado a abandonar o interesse pelos personagens e substituí-lo por seqüências recheadas de efeitos visuais – uma troca infeliz.

Desta vez, o anti-herói Riddick (Vin Diesel), que passou os últimos anos fugindo de mercenários, é envolvido em uma batalha contra os Necromongers, um exército liderado por um certo Lorde Marshal, que pretende converter todo o universo à sua religião, que se baseia numa jornada ao `Underverso`. Aqueles que não se tornam seguidores do sujeito acabam sendo destruídos, enquanto os que aceitam a conversão recebem um tratamento misterioso que envolve algum tipo de injeção aplicada no pescoço. (Algo que não faz o menor sentido, já que os que se submetem a este procedimento continuam capazes de dissimular suas verdadeiras intenções, como o próprio filme se encarrega de mostrar.)

Em primeiro lugar, é curioso observar que os produtores parecem ter acreditado que o sucesso de Eclipse Mortal se deveu somente ao seu protagonista, e que todo o resto poderia ser descartado sem problemas. Ora, a tenente Ripley é uma ótima personagem, mas não teria o mesmo charme caso aparecesse em um filme que não contasse com a presença dos Aliens – e Riddick não tem um décimo da personalidade da heroína vivida por Sigourney Weaver. Sim, seus olhos brilham no escuro, é verdade, mas os olhos de um cachorro também o fazem e nem por isso alguém irá produzir um A Batalha de Totó. Vin Diesel é um ator carismático – e sua voz grave realça isto -, mas Riddick não é interessante o bastante, revelando-se um herói genérico, nada memorável (particularmente, eu prefiro o Xander Cage de Triplo X).

Da mesma forma, o fraco roteiro escrito por Twohy perde fôlego rapidamente, à medida em que constatamos que a escala grandiosa dos cenários e das batalhas serve apenas para esconder a fragilidade do argumento: por algum tempo, cheguei até a pensar que a história desenvolveria algum tipo de comentário interessante sobre o fundamentalismo religioso - o que simplesmente comprova minha ingenuidade. Além disso, Twohy parece acreditar que seus diálogos são dignos de nota, já que todos os atores dizem suas falas com longas pausas e inflexões teatrais; mas, na realidade, é difícil levar a sério frases pretensiosas como `Obediência sem questionamento! Lealdade até que chegue o Underverso!` – e a tarefa fica ainda mais complicada quando, a todo instante, algum vilão surge rosnando em cena.

Ainda assim, A Batalha de Riddick tem seus momentos de inspiração: o planeta Crematória, apesar de possuir um nome que parece ter saído diretamente da antiga série de televisão Jornada nas Estrelas, diverte com suas bruscas mudanças de temperatura, que oscila entre 180ºC negativos e 370ºC positivos (o que não impede que os personagens se protejam, nos momentos de calor, apenas se escondendo na sombra). E a cena envolvendo uma xícara de chá e uma chave é, sem dúvida alguma, a melhor do filme. Por outro lado, Twohy (que também dirigiu o longa) insiste tanto em manter seus enquadramentos sempre inclinados que sou obrigado a acreditar que ele estava apenas tentando bater o recorde de Roger Christian, estabelecido em A Reconquista.

Vivendo mais um personagem antipático em sua carreira, Colm Feore cria um vilão fraco e nada ameaçador (além de burro, já que, apesar de ter um exército à sua disposição, decide lutar sozinho contra o único sujeito que representa uma ameaça real ao seu império). Enquanto isso, Judi Dench utiliza sua formação como atriz shakespeariana para dizer falas como `Sozinho, ele fez uma peregrinação aos portões do Underverso e voltou como um ser diferente. Mais forte, mais estranho, meio vivo e meio... outra coisa qualquer`, o que não deixa de ser curioso – e constrangedor. Finalmente, temos Nick Chinlund, que vive o mercenário Toombs, revelando-se como uma versão genérica de Ron Perlman; e a ex-modelo Alexa Davalos, que deveria voltar correndo às passarelas.

Quanto a Riddick... bom, receio que eventualmente acabará protagonizando uma produção de 300 milhões de dólares na qual enfrentará Godzilla ou um desastre climático que destruirá Nova York. Não sei que diferença sua capacidade de enxergar no escuro fará nestes casos, mas como também não fez diferença alguma nesta continuação, creio que ninguém se importará com isso.
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16 de Julho de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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