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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/03/2002 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
81 minuto(s)

A Era do Gelo
The Ice Age

Dirigido por Chris Wedge e Carlos Saldanha. Com as vozes de (no original) Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Goran Visnjic, Jack Black, Stephen Root, Diedrich Bader, Jane Krakowski e (na versão em português) Diogo Villela, Tadeu Mello e Márcio Garcia.

Você já viu esse filme: criatura grandalhona que gosta de levar uma vida solitária salva um animal engraçadinho que insiste em se tornar seu amigo, levando-a à loucura com sua tagarelice. Não, não estou falando de Shrek. Vamos tentar novamente: dupla composta por um gigante gentil e um baixinho covarde encontra uma criança adorável e resolve restituí-la aos pais, sendo completamente cativada por ela durante o processo. Errou quem disse Monstros S.A.. Na verdade, estas duas descrições se referem à animação A Era do Gelo, que certamente seria acusada de plágio caso tivesse entrado em produção após o lançamento dos dois filmes acima. Como este não foi o caso, ela pode ser acusada, apenas, de ser pouco inspirada.

Escrito por Michael Berg, Michael J. Wilson e Peter Ackerman, o roteiro gira em torno de Manfred, um mamute que se recusa a acompanhar o processo migratório empreendido por todos os demais animais que habitam a Terra durante a Era Glacial. Sempre solitário, ele acaba salvando a vida da preguiça Sid, que resolve se tornar sua companheira de `bando`. É então que eles encontram um bebê humano, que foi separado do pai depois que seu acampamento sofreu o ataque de perigosos tigres dentes-de-sabre. Preocupado com o destino da criança, Sid convence seu novo amigo a ajudá-lo a devolvê-la à sua família – e, para isso, recebem o auxílio do tigre Diego, que tem motivos obscuros para assumir a empreitada. Enquanto viajam à procura dos humanos, os três animais enfrentam vários perigos e, vez por outra, se encontram com um atrapalhado esquilinho cujo único objetivo é achar o lugar ideal para enterrar sua preciosa noz.

O principal elogio que deve ser feito a este filme diz respeito à qualidade de sua animação. Ao contrário do que ocorre no fraco Jimmy Neutron (que também estréia hoje no Brasil), A Era do Gelo possui personagens bem elaborados que se movem com espantosa fluidez e que percorrem ambientes visualmente criativos (o rio de lava em meio à neve é maravilhoso, embora também nos faça lembrar de Shrek). Além disso, os diretores Carlos Saldanha e Chris Wedge encontram maneiras interessantes de contar detalhes da história, como no momento em que descobrimos a verdade sobre o passado de Manfred através da animação de pinturas rupestres (só não consegui compreender como os demais personagens ficam a par do segredo, já que somente o espectador tem acesso às lembranças do mamute). No entanto, é bom salientar que nem sempre os cineastas acertam: se a tirada envolvendo um museu de História Natural congelado funciona bem, o mesmo não pode ser dito sobre as insistentes tomadas em câmera lenta, que geralmente caem no vazio.

Enquanto isso, a preguiça Sid arranca boas risadas graças às gagues físicas que protagoniza, como aquela que envolve um melão (que mais parece uma melancia) e futebol americano - embora seus diálogos, que deveriam ser engraçados, sejam poucos inspirados e, portanto, ineficazes (ficando ainda piores na versão em português, graças à fraca dublagem de Tadeu Mello). Aliás, o melhor personagem de A Era do Gelo é mesmo o tal esquilinho, que rouba o filme sempre que aparece e que, sem jamais dizer uma única palavra, cativa o espectador com seu jeito estabanado. (A propósito: suas peripécias parecem ter sido francamente inspiradas no universo criado pelo saudoso Chuck Jones: substitua a noz pelo Papa-Léguas e perceberá que o esquilo é o herdeiro legítimo de Wile E. Coyote).

Infelizmente, os bons momentos do roteiro são contrabalançados por furos colossais: em certo momento da história, por exemplo, o garotinho aprende a andar, o que provoca espanto em seus guardiões – e na platéia, já que a criança parece excepcionalmente sadia e bem-disposta para alguém que aparentemente não come há dias. Além disso, a motivação dos vilões do filme é implausível, já que a obsessão dos tigres pelo bebê soa de maneira bastante forçada. (Isso para não citar a `trapaça` com relação ao destino de um dos personagens.)

Contando com uma dublagem simplesmente horrível na versão em português (Diogo Villela funciona, mas Márcio Garcia consegue a proeza de quase se igualar ao ridículo desempenho de Bussunda em Shrek), A Era do Gelo diverte, mas não convence. É um passatempo descompromissado – e só.
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22 de Março de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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