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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
30/07/2004 02/04/2004 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
122 minuto(s)

Hellboy
Hellboy

Dirigido por Guillermo del Toro. Com: Ron Perlman, Selma Blair, Rupert Evans, Jeffrey Tambor, Doug Jones, Biddy Hodson, Corey Johnson, Ladislav Beran, Karel Roden, John Hurt, David Hyde Pierce.

Antes de analisar a versão cinematográfica de Hellboy, devo fazer a costumeira ressalva: como não sou leitor habitual de quadrinhos (apesar de admirar a mídia), não me encontro em posição de dizer se ela é ou não fiel às suas origens. Seja como for, creio que esta é uma questão irrelevante (a não ser para os fanáticos), já que o mais importante é que a história funcione nas telas, independentemente de suas `raízes` – e, neste quesito, fico feliz em poder afirmar que Hellboy é bem-sucedido, apesar de alguns problemas. E, ainda que não lide com dilemas morais complexos como a série X-Men, o filme prende a atenção do espectador graças aos seus interessantes personagens e ao rico universo no qual estes vivem.

Começando em 1944, a trama nos apresenta a um plano desesperado dos nazistas para vencer a guerra: utilizar magia negra para abrir um `portal` que permitirá a passagem de um poderoso demônio – e no comando da operação encontra-se ninguém menos do que Rasputin (que, aparentemente, não fôra assassinado em 1916, como ensina a História). Porém, prevendo a ação dos asseclas de Hitler, o professor Trevor Bruttenholm, paranormal e conselheiro do presidente americano Franklin D. Roosevelt, consegue interromper o ritual antes que a tal criatura chegue à Terra – mas não de forma rápida o bastante para evitar que um bebê com aparência demoníaca cruze o portal. Batizado com o nome Hellboy, o pequeno demônio é adotado pelo professor, que se revela `um pai despreparado para uma criança indesejada`. Surpreendentemente, Hellboy acaba se tornando um defensor dos humanos na luta contra todos os tipos de ameaças sobrenaturais.

Apresentada de maneira dinâmica durante a seqüência inicial do longa, a premissa concebida por Mike Mignola e adaptada para as telas por Guillermo del Toro é absurda, mas intrigante. De acordo com o filme, até mesmo as revistas publicadas pela Dark Horse divulgariam uma lenda que teve sua origem em fatos reais: vislumbres ocasionais do verdadeiro Hellboy em ação nas ruas de várias cidades americanas. Da mesma forma, o departamento do FBI chefiado pelo professor Bruttenholm parece esconder segredos fascinantes – inclusive a possibilidade de que Hitler tenha morrido não em 1945, mas 13 anos depois (o que teria feito neste período?).

Mas é claro que a alma do filme reside mesmo no grandalhão Hellboy: dono de um senso de humor ácido, o heróico demônio mantém uma calma inabalável diante de todas as adversidades, já que é indestrutível, e encara os problemas com um cinismo contagiante (durante um confronto, ele aponta sua arma para o oponente e diz: `Minha mira não é muita boa, mas o Samaritano aqui dispara balas enormes!`). Além disso, sua paixão pela melancólica Liz Sherman lhe confere maior dimensão dramática, o que é interessante (a propósito: o sofrimento de Liz me fez lembrar do dilema da mutante Vampira, que se tortura por provocar dor, ainda que involuntariamente, em quem ama). Merece destaque, também, o estranho Abe Sapien, um ser com aparência de anfíbio que possui o poder de ler a mente dos humanos e de determinar, através do toque, o que ocorreu em determinados lugares.

Aliás, o veterano Rick Baker já pode ser considerado um dos favoritos ao Oscar® de Melhor Maquiagem, em 2005, já que o trabalho realizado em Hellboy é absolutamente fantástico: do corpo musculoso do personagem-título ao seu rosto anguloso (com direito a chifres limados), o herói jamais deixa de parecer real – e o mesmo pode ser dito sobre Abe Sapien e sobre Kroenen, o assustador oficial nazista obcecado por cirurgias. E o melhor é que a maquiagem criada por Baker não compromete a expressividade dos atores, permitindo que Ron Perlman confira personalidade a Hellboy e que Doug Jones retrate a fragilidade física de Abe com perfeição (e a voz do personagem, dublada por David Hyde Pierce, realça sua sensibilidade e sabedoria). Por outro lado, há momentos em que os atores são claramente substituídos por bonecos criados em computador, o que sempre atrapalha um pouco a diversão (vide O Homem-Aranha, Demolidor e Blade 2).

De modo geral, no entanto, o diretor Guillerme del Toro procura limitar as aparições dos `dublês digitais` ao mesmo tempo em que comprova seu talento para comandar seqüências de ação (embora sua obsessão com esgotos, metrôs e câmaras subterrâneas esteja começando a tornar seu trabalho previsível em certos aspectos). Além disso, seu roteiro apresenta problemas que revelam graves descuidos no desenvolvimento da história, como o erro básico de criar um conflito entre um sujeito indestrutível e uma criatura imortal: com o passar do tempo, os confrontos entre Hellboy e os tais seres se tornam repetitivos e nada produtivos. Como se não bastasse, dois personagens importantes simplesmente `desaparecem` durante a projeção, como se tivessem sido esquecidos pelo roteirista (não posso citá-los, sob pena de revelar pontos importantes da trama, mas suas identidades serão óbvias para aqueles que assistirem ao filme). E, enquanto o jovem agente John Myers (vivido pelo estreante Rupert Evans) se revela completamente dispensável para a história, o vilão Rasputin decepciona por jamais se tornar realmente interessante ou amedrontador.

Apesar de falho, Hellboy consegue despertar nosso interesse pelo personagem e por seu mundo. Resta, agora, apresentá-lo a um antagonista que faça jus ao seu curioso inimigo.

Observação: durante os créditos finais, há uma cena adicional envolvendo um dos personagens.

22 de Abril de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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