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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/05/1998 08/05/1998 1 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Impacto Profundo
Deep Impact

Dirigido por Mimi Leder. Com: Robert Duvall, Téa Leoni, Elijah Wood, Vanessa Redgrave, Morgan Freeman, Maximilian Schell, James Cromwell e Ron Eldard.

Você tem um filho de 14 anos. Um cometa vai atingir o planeta em questão de horas. Vocês conseguiram um local seguro para ficar, e há enormes chances de que você e sua família sobrevivam. É então que seu filho chega para você e diz que vai atrás de uma garota, por quem é apaixonado. O que fazer? Ora, é simples: dê seu relógio para o garoto, a fim de que ele possa `negociá-lo`, abrace-o bem forte e diga, com a voz trêmula: `Que diabo! Vê se te cuida!`.

É este o tipo de idiotice que somos obrigados a engolir durante a projeção do mais novo filme-catástrofe a chegar aos cinemas, Impacto Profundo. O filme é sobre um cometa que vai atingir a Terra, destruindo todas as formas de vida existentes no planeta. Sim, é o que eu disse: o filme é sobre um cometa. Qualquer pessoa que tente convencê-lo de que o filme gira em torno de seres humanos lutando contra a extinção (ou tentando compreendê-la), ou algo assim, estará mentindo. O filme nada mais é do que uma longa preparação para uma cena repleta de efeitos visuais, e só. Terminada a cena, terminada a história. Você já pode ir embora, sem ter visto absolutamente nada.

É claro que os filmes-catástrofe geralmente são assim: criam uma tragédia prestes a eclodir e colocam alguns fantoches vestidos de gente para que você se identifique com a história. E depois mata alguns destes fantoches, deixando outros vivos, para que você não fique muito deprimido. Mas alguns deles têm, pelo menos, a decência de criar personagens interessantes ou, no mínimo, curiosos. Não em Impacto Profundo. A noção que os roteiristas Bruce Joel Rubin e Michael Tolkin têm de `personagens interessantes` foi retirada da cartilha Emmerich/Devlin de `Como Criar Bonecos`.

Não que eu esteja comparando Impacto Profundo a Independence Day, da dupla Emmerich/Roland. Não: Independence Day é infinitamente superior a Impacto Profundo - pelo menos suas catástrofes são grandiosas e cumprem o que prometeram. Pois o fato é que se você vai ver este filme de cometa para assistir uma série de efeitos visuais de tirar o fôlego, não perca seu tempo: a seqüência em questão dura alguns minutos, e só. E consiste, basicamente, de uma onda gigante chegando a Nova York. Grande coisa... isso você já viu no trailer.

O roteiro não é só estúpido. Ele comete um pecado ainda maior ao julgar que os espectadores também o são. Ele quer que acreditemos, entre outras coisas: que um garoto de 14 anos é capaz de descobrir um gigantesco cometa que está vindo em direção à Terra, enquanto observatórios extremamente sofisticados espalhados pelo mundo não o fizeram; que uma repórter é capaz de arrancar a verdade sobre a tragédia do Governo americano dizendo, apenas, `que sabe tudo`; que um garoto é capaz de encontrar sua amada no meio de uma multidão de mais ou menos cem mil pessoas; que é possível se correr mais rápido do que uma onda gigantesca `que se move com uma velocidade maior do que a do som`; e por aí afora.

Isso para não mencionar o fato de que, sendo inevitável a tragédia, o Presidente dos EUA vai à televisão, em cadeia nacional, para descrever com detalhes exatamente como todo mundo irá morrer, da maneira mais sádica possível. Será que os roteiristas realmente pensaram que o espectador não iria notar que o único objetivo daquela cena era explicar para a platéia o que ela iria ver em alguns minutos?

Um grande erro dos produtores foi mentir para o público. Quem vai assistir este filme comprou o ingresso para ver o Impacto Profundo do título. E onde está ele? Volto a repetir: a onda gigante já havia sido mostrada no trailer e não há muito mais do que aquilo no filme completo. Portanto, por que não cobrar ingresso para exibir o trailer? Seria mais coerente.

Quanto as atuações... bem, não há como falar delas neste filme, pelo simples fato de não existirem - ou não importarem. Robert Duvall e Morgan Freeman fazem o que podem para não caírem no ridículo, mas, infelizmente, não são muito bem sucedidos. Téa Leoni é bonita. E Elijah Wood é um excelente ator, mas seu personagem não deveria existir neste filme, pois toda a história em volta dele é ridícula, piegas e totalmente dispensável para o desenvolvimento da narrativa.

Quanto a parte técnica, só posso dizer que é correta. Os efeitos visuais são realmente bem realizados, mas, sinceramente, já vi coisa melhor em Independence Day, por exemplo. A trilha sonora de James Horner é fraca e sem imaginação. Depois de uma hora de projeção, acaba cansando. Horner deveria continuar seu trabalho nos filmes mais dramáticos ou românticos, e esquecer o gênero `ação`.

O grande pecado de Impacto Profundo é querer se levar a sério, se esquecendo do simples fato de que (e não leia o resto desta frase, em itálico, se não quiser levar um choque surpreendente) nós sabemos que a Terra não será destruída, já que estamos ali, vendo aquele filme! Ora, e a tal `suspensão da descrença` fartamente usada pelos roteiristas de Hollywood? Bem, ela não existe - ou não funciona - aqui. Além disso, parece que a diretora Mimi Leder realmente acreditou que seus personagens fossem interessantes, bem como a história. Não são.

Aliás, há uma coisa curiosa em relação a eles, sim: enquanto todos os outros seres humanos mostrados no filme (leia-se: figurantes) correm para não serem atingidos pela tal onda, os personagens importantes de Impacto Profundo são os únicos a permanecerem parados, fazendo ou dizendo alguma coisa que tenta ser comovente. O resto está ocupado demais tentando imaginar um jeito de escapar daquilo tudo. Assim como o espectador.
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23 de Maio de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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