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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/02/1998 09/01/1998 4 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
126 minuto(s)

Gênio Indomável
Good Will Hunting

Dirigido por Gus Van Sant. Com Matt Damon, Robin Williams, Ben Affleck, Minnie Driver, Casey Affleck, Stellan Skarsgard, Cole Hauser e John Mighton.

É realmente impressionante que dois jovens como Matt Damon e Ben Affleck tenham sido capazes de escrever um roteiro tão complexo quanto o de Gênio Indomável. O filme é tão engenhosamente construído que, quando percebemos, já estamos sinceramente envolvidos com a história de seu protagonista.

Matt Damon interpreta Will Hunting, um jovem problemático que está prestes a ser enviado para a cadeia em função das constantes brigas em que se envolve. É quando o brilhante matemático Lambeau (Skarsgard) descobre que o faxineiro da universidade (o tal Will Hunting) é, na verdade, um gênio capaz de resolver os problemas mais complexos da matéria. Lambeau se responsabiliza pelo rapaz diante o juiz e, como parte do acordo, cuida para que Hunting passe a fazer terapia. O psiquiatra escolhido para a tarefa é Sean McGuire (Williams), um homem com um passado sofrido que passa a se interessar pelo destino do jovem gênio.

Colocada nestes termos, a história do filme pode soar bem `clichê`, mas não é bem assim. O roteiro consegue escapar das armadilhas comuns a este tipo de filme, que normalmente procura o choro fácil através de jogadas maniqueístas da história. Aqui, não: a situação vai sendo construída aos poucos, lentamente, até que, finalmente, nos damos conta de algo mudou.

E é justamente isso o que há de mais interessante no roteiro e na interpretação de Damon. Seu Will Hunting, um jovem extremamente problemático e arrogante, vai mudando tão lentamente que não somos capazes de perceber esta transição até que ela já está praticamente efetuada. A atuação de Damon é sutil, poderosa. As cenas em que ele discute amor, sexo, destino e solidão com Robin Williams são perfeitas. Aliás, mais uma vez Williams prova que, com um bom roteiro à mão, é capaz de fazer maravilhas. Aqui, ele combina dois de seus papéis anteriores: o médico de Tempo de Despertar e o professor de Sociedade dos Poetas Mortos. Deste ele possui a facilidade de comunicação com os jovens, a capacidade de transmitir grandes lições como se fossem filosofia de bar. Daquele ele traz a solidão e a introspecção. Uma atuação maravilhosa que merece (e já não é sem tempo) ser premiada com um Oscar.

Minnie Driver, como a companheira de Will Hunting, também se destaca. À princípio modesta, sua atuação vai se tornando cada vez mais marcante durante o filme, até que atinge o clímax em uma cena mais densa com Matt Damon.

Aliás, todas as interpretações deste filme têm a sutileza na abordagem dos personagens como característica principal. Ninguém aqui procura se destacar ou tornar seu personagem mais `chamativo`. Não: todos são discretos, o que acaba conferindo uma realidade ainda maior ao filme. Assim, quando eles são realmente obrigados a gritar, chorar ou, enfim, demonstrar uma emoção mais forte, é como se alguém que conhecemos estivesse sofrendo realmente. E é isso que toca, em Gênio Indomável. Aliás, é até interessante observar a reação da platéia durante a projeção: primeiro, risos e descontração. Mais tarde, silêncio e atenção. E, finalmente, suspiros e lágrimas. Os personagens nos conquistaram sem que sequer percebêssemos. Um simples abraço nos comove como se fosse uma despedida trágica ou a morte de um personagem. Quando, na verdade, é apenas um abraço.

Mas não há só perfeição neste filme. O roteiro é prolixo, em algumas ocasiões, gastando minutos preciosos em cenas absolutamente dispensáveis (como aquela na qual um amigo de Will revela estar se masturbando no quarto da mãe de Chuckie - o personaem de Affleck). São cenas que - aí, sim - buscam o riso fácil e sem necessidade. O filme acaba parecendo mais longo do que realmente é.

Matt Damon e Ben Affleck são amigos de infância. Escreveram juntos este filme e batalharam para produzi-lo. Minnie Driver era namorada de Damon durante as gravações. Kevin Smith, amigo da dupla, trabalhou na produção. Coppola, que se tornou admirador de Damon, batalhou para que o filme fosse feito. Em suma: Gênio Indomável é o resultado de um trabalho árduo realizado por um grupo de pessoas que se gostam. E é a soma destas pequenas afeições que torna este filme um depoimento tão sincero - e comovente - sobre o valor da amizade. Uma grata surpresa, na realidade.
``

2 de Março de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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