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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/04/2000 17/03/2000 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
131 minuto(s)

Direção

Steven Soderbergh

Elenco

Julia Roberts , Albert Finney , Aaron Eckhart , Peter Coyote , Marg Helgenberger , Cherry Jones

Roteiro

Susannah Grant

Produção

Danny DeVito

Fotografia

Edward Lachman

Música

Thomas Newman

Montagem

Anne V. Coates

Design de Produção

Philip Messina

Figurino

Jeffrey Kurland

Direção de Arte

Christa Munro

Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento
Erin Brockovich

Dirigido por Steven Soderbergh. Com: Julia Roberts, Albert Finney, Aaron Eckhart, Peter Coyote, Marg Helgenberger e Cherry Jones.

É impressionante a capacidade que Meryl Streep tem de se transformar completamente a cada novo papel que interpreta. Do sotaque à cor do cabelo, ela cria personagens absolutamente reais e complexas, sempre surpreendendo o espectador com seus trabalhos impecáveis. Em contrapartida, Julia Roberts geralmente aparece como si mesma em seus filmes, raramente se dedicando à criações mais profundas (duas exceções podem ser vistas em Flores de Aço e O Segredo de Mary Reilly). Não que seja má atriz, já que geralmente desempenha bem suas funções. Ela apenas não consegue deixar de ser... Julia Roberts.

Pois em Erin Brockovich a atriz atinge um novo patamar em sua carreira ao personificar com extrema competência uma mulher determinada, vulgar, inteligente e - acima de tudo - comum. Sim, comum: apesar das roupas provocantes, Brockovich é uma mulher pobre e desempregada que luta para manter seus três filhos pequenos. E o incrível é que Roberts realmente consegue nos fazer esquecer de sua aura de `estrela de cinema` e acreditar que seja, de fato, alguém com sérias dificuldades financeiras.

Baseado em uma história real, o filme gira em torno de uma jovem e bela mulher, Erin Brockovich, que, depois de perder um processo na justiça contra um médico que bateu em seu carro, acaba indo trabalhar para Ed Masry (Finney), o advogado que a representou. Já em seu novo emprego, ela acaba encontrando fichas médicas arquivadas na pasta referente a um litígio imobiliário e, curiosa, convence Masry a deixá-la investigar o caso - o que a leva a descobrir uma surpreendente conspiração, comandada por uma poderosa companhia, para ocultar a contaminação de um lençol d`água que abastecia uma pequena comunidade americana.

Dirigido por Steven Soderbergh (sexo, mentiras e videotape), Erin Brockovich já começa com uma impressionante seqüência onde vemos Julia Roberts entrar e partir em um carro que se acidentará poucos metros depois. Aparentemente sem cortes (na verdade, duas tomadas diferentes foram combinadas na sala de edição), a cena surpreende pela simplicidade e eficiência - dois adjetivos comuns na carreira de Soderbergh, um destes cineastas que procuram contar suas histórias sem invencionismos baratos, permitindo sempre que a trama flua sem grandes interferências por parte da direção. Enquanto isso, os cenários planejados por Christa Munro transmitem de forma eficaz a realidade vivida pelos habitantes da pequena Hinkley, além de estabelecerem corretamente o contraste existente entre o humilde escritório de Ed Masry e as suntuosas instalações de Kurt Potter (Coyote) - algo fundamental para que possamos compreender a intimidação que este exerce sobre aquele.

Mas não há como escapar do fato de que este filme pertence mesmo a Julia Roberts: sua atuação vibrante e convincente acaba levando o espectador a acreditar que realmente conhece a verdadeira Erin Brockovich (que, aliás, faz uma ponta como a garçonete que aparece no início da história). Além disso, a atriz ainda protagoniza alguns momentos comoventes, como aquele em que ouve pelo telefone a notícia de que sua filha caçula aprendeu a falar sua primeira palavra. Para completar, a química entre sua personagem e o advogado vivido por Albert Finney (sempre soberbo) é perfeita, acentuando o dinamismo da trama. Cabe dizer, também, que os figurinos criados por Jeffrey Kurland transmitem de forma inequívoca o estilo adotado pela vivaz Brockovich (e que, devo dizer, realçam sensualmente o belo corpo de Roberts).

No entanto, Erin Brockovich não é isento de falhas: em vários momentos, o roteiro de Susannah Grant resvala perigosamente em velhos clichês, como aquele que afirma que o herói (ou, no caso, heroína) deve sempre ser perseguido pelos vilões a fim de salientar seu despojamento. Aqui, a personagem de Roberts recebe uma ligação anônima sem o menor propósito - e que, aliás, acaba não levando a nada, sendo simplesmente esquecida pela trama. Além disso, Erin acaba se tornando relativamente antipática ao longo da história, algo perigoso para um filme que pretende justamente estabelecê-la como uma mulher digna de nossa admiração. Em certo momento, por exemplo, seu crescente distanciamento causa uma crise em seu relacionamento com o namorado (um bom desempenho de Eckhart), que ela logo esquece ao descobrir que ganhou um carro novo. Momentos depois, a moça chega a usar seus próprios filhos como forma de se aproximar de uma habitante de Hinkley a quem pretende convencer a participar do processo movido por seu escritório. Inspirador, não?

Seja como for, o fato é que Julia Roberts oferece, aqui, um de seus melhores desempenhos. Na verdade, se o filme fosse lançado no último trimestre do ano, ela provavelmente seria uma das mais cotadas para uma indicação ao Oscar - algo que agora é bastante improvável, já que os membros da Academia possuem memória curta. Esperemos, porém, que Erin Brockovich marque o início de uma nova era na vida profissional desta bela, talentosa e - até agora - mal aproveitada atriz.
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19 de Abril de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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