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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
10/11/2000 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Endiabrado
Bedazzled

Dirigido por Harold Ramis. Com: Brendan Fraser, Elizabeth Hurley, Frances O`Connor, Orlando Jones, Paul Adelstein, Gabriel Casseus e Brian Doyle-Murray.

Brendan Fraser é um excelente comediante. Isto pode parecer óbvio para qualquer um que seja fã ardoroso do ator, mas devo admitir que só descobri este fato depois que assisti a Endiabrado (a verdade é que jamais consegui me livrar da má impressão causada por O Homem da Califórnia - qualquer filme com Pauly Shore merece ser enterrado). Mesmo comédias divertidas como Os Cabeças-de-Vento e George, o Rei da Floresta não conseguiram me convencer (no primeiro, um Adam Sandler mais do que inspirado rouba todas as cenas, enquanto o segundo era `pastelão` demais para emprestar qualquer credibilidade ao seu astro). E apesar de A Múmia ter redimido parcialmente o ator, De Volta para o Presente era fraco demais para merecer maiores considerações.

Foi então que veio Endiabrado, um filme que seria absolutamente descartável caso não contasse com a presença magnética de Fraser. Desta vez, o herói de A Múmia encarna com perfeição um personagem perdedor: um sujeito que, de tão ansioso para agradar a todos, acaba se tornando um verdadeiro `pé-no-saco`. Apaixonado por uma colega de escritório (O`Connor), Elliot Richards (Fraser) é ridicularizado pelos companheiros de trabalho e hostilizado pelo próprio chefe. É então que, certo dia, ele chama a atenção de ninguém menos do que o Diabo, que lhe oferece sete desejos em troca de sua alma.

É claro que, no princípio, o pobre sujeito não acredita estar falando com Satanás - principalmente porque o maligno ser apresenta-se na pele de uma mulher absolutamente maravilhosa: Elizabeth Hurley. Aliás, nem mesmo um cartão de apresentação (piadinha plagiada de Alguém Lá em Cima Gosta de Mim) é capaz de convencê-lo. Depois de um pequeno passeio por uma boate, no entanto, Elliot acaba se convencendo e assina o diabólico contrato. Porém, é claro que Satanás não pretende honrar sua palavra - e, conseqüentemente, o rapaz sempre é surpreendido por pequenas armadilhas `embutidas` em seus desejos (ao pedir para se tornar rico e poderoso, por exemplo, ele acaba sendo transformado em um traficante de drogas perseguido por concorrentes perigosos).

É a partir deste ponto que Brendan Fraser tem a oportunidade de exibir seus dotes cômicos: cada `versão` de seu personagem (correspondente aos diversos desejos) ganha uma caracterização própria, com direito a maquiagens elaboradoras e tudo o mais - e a energia demonstrada pelo ator nestes momentos não deixa nada a desejar a outros comediantes inspirados, como Jim Carrey, Mike Myers e Eddie Murphy. Aliás, é óbvio para o espectador que o próprio Fraser está se divertindo a valer - algo que sempre torna a experiência mais prazerosa para o público.

Por outro lado, Hurley está ainda mais bela do que em Austin Powers e EdTV, filmes que exploravam ao máximo sua sensualidade. Infelizmente, apesar de sedutora e relativamente convincente como o Diabo, ela falha em um aspecto importante: suas cenas não fazem rir. E não é por falta de tentativas, já que sempre que aparece em cena, a personagem está executando alguma maldade: de adiantar o tempo de parquímetros a distribuir balas para diabéticos, ela apronta de tudo. Mesmo assim, não consegue ser engraçada.

Aliás, o roteiro (escrito a seis mãos por Harold Ramis, Peter Tolan e Larry Gelbart) não consegue sequer explorar as situações nas quais Elliot se envolve em função das trapaças do Diabo: em grande parte do filme, a sensação é a de que a história se divide em quadros que contém, cada um, uma única piada (assim, quando ele pede para ser `o homem mais sensível do mundo`, a platéia já prevê o que irá acontecer - o que tira boa parte da graça). Mesmo assim, o desempenho inspirado de Brendan Fraser acaba rendendo boas risadas (o que nos leva a imaginar o que ele seria capaz de fazer com um roteiro melhor).

Para piorar, Endiabrado ainda tenta incluir uma `liçãozinha-de-moral` que, além de destoar do resto da trama, soa de maneira falsa e artificial (`não importa quem somos`, `devemos sempre ser autênticos`, blá, blá, blá...). Como se não bastasse, as cenas finais do filme são profundamente decepcionantes, já que tentam, a todo custo, fazer com que o espectador saia satisfeito do cinema (mesmo que isso implique na utilização de um dos mais antigos - e inverossímeis - clichês de Hollywood). Isso para não falarmos da mudança de atitude da personagem de Hurley, que é completamente sem propósito.

Seja como for, Endiabrado faz rir. Não muito, mas faz. Provavelmente, uma ou duas revisões adicionais no roteiro teriam melhorado consideravelmente o resultado final. A atuação de Fraser merecia esse favor (aliás, não me espantarei se ele for indicado ao Globo de Ouro).

Um comentário final: talvez o diretor Harold Ramis devesse ter invertido os papéis de Hurley e O`Connor. A verdade é que, durante todo o filme, não consegui parar de pensar que Elliot estaria fazendo um negócio muito melhor se desistisse de sua paixão por Alison e investisse seu tempo no Diabo. Vender a alma por Elizabeth Hurley seria mais lucrativo, não?

Curiosidade: há uma cena na qual o Diabo aparece em uma praia segurando dois cachorros pelas coleiras. Seus nomes: Peter e Dudley - uma homenagem (pouco sutil) a Peter Cook e Dudley Moore, protagonistas de O Diabo é Meu Sócio (1967), no qual este filme é inspirado.
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16 de Novembro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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