Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/07/2001 23/03/2001 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
95 minuto(s)

Diga Que Não É Verdade
Say It Isn`t So

Dirigido por James B. Rogers. Com: Chris Klein, Heather Graham, Orlando Jones, Richard Jenkins, Eddie Cibrian, Mark Pellegrino, Brent Hinkley e Sally Field.

Nem todo bom drama provoca lágrimas. Nem todo bom filme de ação contém tiroteios inesquecíveis. Nem toda boa ficção científica envolve a Ciência. No entanto, quando estamos falando de comédias ou filmes de terror, a coisa fica um pouco mais complicada: os diretores deste último gênero ainda podem apelar para a trilha sonora para provocar sustos, mas o que fazer para arrancar as risadas da platéia quando as piadas não funcionam? Desta forma, é fácil avaliar o fracasso de uma comédia: basta constatar a falta de risos entre os espectadores.

Infelizmente, Diga Que Não É Verdade é uma comédia fracassada: em seus longos 95 minutos de duração, podemos contar nos dedos (de apenas uma das mãos) as piadas que realmente funcionam. E mesmo estas não são capazes de provocar grandes gargalhadas, acontecendo apenas no início do filme, quando a platéia ainda não sabe o que deve esperar e, portanto, está naturalmente propensa ao riso. E reparem que os roteiristas estreantes Peter Gaulke e Gerry Swallow tentam de tudo: a história envolve hospícios; piadas com maconha; deficientes físicos; referências a outras produções; humor físico; vítimas de derrame cerebral; sexo; revelações de última hora; abuso de animais; mutilações; e assim por diante. Por incrível que pareça, nada funciona.

Neste filme, Chris Klein interpreta Gilbert Noble, um jovem sensível e bondoso que, certo dia, se envolve com a bela Jo Wingfield, interpretada por Heather Graham. Depois de um breve namoro, durante o qual `consumam` a relação, os dois decidem se casar - e é então que Gilbert descobre ser irmão da garota. Abalada, Jo deixa a cidade, enquanto o rapaz se torna alvo das piadas do lugar. Quase dois anos depois, Gilbert faz duas descobertas: 1) Jo está prestes a se casar com um milionário; e 2) ela não é sua irmã. Desesperado, ele parte em uma alucinada viagem para impedir o casamento e, no caminho, acaba se envolvendo em várias confusões enquanto se torna amigo de um piloto que perdeu as pernas em um acidente de avião.

O maior problema de Diga Que Não É Verdade reside na incapacidade do diretor (também estreante) James B. Rogers em lidar com o humor negro predominante na maior parte da trama. O curioso é que os produtores do filme são os irmãos Peter e Bobby Farrelly, especialistas no gênero - aliás, Rogers trabalhou como assistente de direção da dupla em várias de suas produções anteriores, o que possivelmente justificou sua contratação. Infelizmente, ele parece não ter aprendido a lição: ao contrário dos Farrelly, que conseguem arrancar boas risadas às custas de garotinhos cegos (Débi & Lóide), deficientes mentais (Quem Vai Ficar com Mary?) e albinos (Eu, Eu Mesmo e Irene), J.B. Rogers jamais consegue repetir este tipo de façanha com o piloto mutilado ou com o sujeito vitimado por um derrame cerebral. Aqui, as piadas de mau gosto são apenas isso: piadas de mau gosto.

A pergunta é: será que a culpa cabe apenas ao cineasta novato ou o problema também está no roteiro? Embora eu não consiga acreditar que a história tenha funcionado melhor no papel, o fato é que algo atraiu a atenção dos irmãos Farrelly. Mesmo assim, o roteiro traz algumas falhas evidentes que deveriam ter sido imediatamente identificadas pelos responsáveis por este projeto - a começar pela narração feita pelo protagonista, que é completamente dispensável e sem graça (se bem que o mesmo equívoco foi cometido em Eu, Eu Mesmo e Irene). Além disso, grande parte das piadas peca pela obviedade, como na cena em que uma policial recebe instruções para efetuar uma prisão de forma discreta: antes mesmo que a frase chegue ao fim, a platéia já sabe que a tomada seguinte mostrará a policial agindo de maneira justamente oposta. Para piorar, o filme ainda investe em momentos ridiculamente dramáticos, como se nos importássemos com o destino daqueles personagens.

Com relação ao elenco, uma surpresa: todos estão igualmente ruins. Enquanto o inexpressivo Chris Klein repete o tipo `galã ingênuo e de bom coração` que interpretou em American Pie e Eleição, Heather Graham cria uma mocinha irritante que nada tem a fazer a não ser parecer apaixonada e constrangida. Já Sally Field chega ao fundo do poço com sua atuação forçada e nada divertida - o mesmo se aplicando a Orlando Jones. Aliás, é fácil perceber a incompetência de James B. Rogers ao dirigir seu elenco, já que todos parecem tentar desesperadamente provocar o riso, o que resulta num festival embaraçoso de caretas e gritaria.

O fracasso de Diga Que Não É Verdade pode ser perfeitamente ilustrado pela cena em que o personagem de Klein fica com o braço `preso` no traseiro de uma vaca: claramente formulada para funcionar como clímax cômico do filme, a seqüência provoca apenas estranheza e desconforto. E isso é bem diferente do que despertar o riso.
``

6 de Maio de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!