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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
01/01/1970 01/01/1970 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
124 minuto(s)

Contos de Nova York
New York Stories

Dirigido por Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen. Com: Nick Nolte, Rosanna Arquette, Steve Buscemi, Talia Shire, Heather McComb, Giancarlo Giannini, Woody Allen, Mia Farrow, Mae Questel e Julia Kavner.

A idéia de juntar três fantásticos diretores em filme dividido em três segmentos, tendo Nova York como palco, é muito boa. E Scorsese, Coppola e Allen são, sem dúvida, `fantásticos`. No entanto, não funcionam muito bem juntos.

O problema é que, apesar das três histórias terem como pano de fundo a cidade de Nova York, os temas de cada um dos segmentos são muito diferentes uns dos outros. Temos um forte drama seguido por uma historinha leve, divertida, que, por sua vez, cede lugar ao humor inteligente e paranóico. É difícil passar de uma história a outra. Até entrarmos no `clima` certo, muita coisa já aconteceu.

Lições de Vida, de Scorsese, por ser a primeira parte do filme, escapa disso. Fica mais fácil acompanhar a história de um pintor famoso (Nolte) que passa por uma encruzilhada: ao mesmo tempo em que termina um quadro para uma exposição, deve tentar se reconciliar com sua assistente, a quem `ama` (Arquette). No entanto, ele sabe que - para ele - a arte vem em primeiro lugar, e isso o atrapalha sempre. Por exemplo: ele é incapaz de mentir para a garota (que também quer ser pintora) sobre a qualidade dos quadros que ela faz. Mesmo que isso a magoe. O roteiro é interessante, e as atuações da dupla central, excelentes.

A direção de arte/cenografia é impecável. O atelier de Nolte é grandioso e, ao mesmo tempo, frio, sem sentimentos. Isso é um reflexo do próprio pintor que, apesar de ter uma sensibilidade imensa como artista, é frio em seus relacionamentos pessoais. O bar em que o comediante interpretado por Steve Buscemi se apresenta é, também, fantástico: é a reprodução dos trilhos do metrô. Este é, sem dúvida, o melhor dos três `contos de Nova York`.

A Vida Sem Zoe, de Coppola, é o mais fraco dos três filmes, sem dúvida. Apesar de ter sido escrito e dirigido em um clima de `família`, este calor humano - tão importante para a história - não consegue chegar até a tela. Logo no começo, quando os créditos iniciais surgem, os nomes aparecem indicando que aquilo foi feito com amor: `Com: Tally e Carlo; Escrito por Francis e Sophie; Dirigido por Francis`. Todos se tratando por apelidos ou pelo primeiro nome. Realmente simpático.

Zoe (McComb) é uma garotinha rica que vive em um hotel, já que seus pais, um flautista famoso (Giancarlo Giannini) e uma escritora (Talia Shire), estão sempre viajando. A história segue narrando o cotidiano dessa garotinha e o reencontro com sua família. Mas este `conto` é lento e não consegue prender a atenção. A direção de arte, mais uma vez, tem destaque: a seqüência da festa à fantasia é deslumbrante. Mas não compensa os outros quase 40 minutos de sofrimento.

E temos, finalmente, Édipo Arrasado. O segmento escrito e dirigido por Woody Allen é outro ponto alto do filme. Nele, Allen interpreta um advogado de sucesso que não consegue aturar a mãe. É então que, certa noite, ela desaparece depois de um número de mágica. Quando o homem pensa estar livre dela, eis que a velhinha surge nos céus de Nova York, contando tudo o que ele já fez de errado para quem quiser ouvir.

O episódio não é só hilariante - é inteligente, também. Allen consegue transmitir toda a ambigüidade de um homem que ama - ao mesmo tempo que odeia - a mãe. Mae Questel, como a tal velhinha, está fantástica, e o restante do elenco (Mia Farrow e Julie Kavner), também. A cena em que Allen descobre estar apaixonado por uma vidente ao segurar uma coxinha de frango preparada por ela já faz parte, sem dúvida, de qualquer antologia deste fantástico diretor.

Contos de Nova York vale, no entanto, como exercício para os cinéfilos. É muito interessante comparar os estilos destes três diretores, desde a simplicidade dos créditos de Woody Allen (sempre uma fonte branca comum em fundo preto, ao som de Jazz) até a câmera inquieta de Scorsese.

É uma pena que os três não resolveram trabalhar com o mesmo tema, além de usarem a mesma cidade. Se assim fosse, Contos de Nova York teria sido um filme completo, muito melhor.
``

20 de Janeiro de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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