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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/06/1998 10/04/1998 5 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
114 minuto(s)

Cidade dos Anjos
City of Angels

Dirigido por Brad Silberling. Com : Nicolas Cage, Meg Ryan, Dennis Franz, André Braugher, Colm Feore, Robin Bartlett, Joanna Merlin e Sarah Dampf.

Alguns filmes merecem que esqueçamos suas origens. Se eu fosse parar para pensar que Cidade dos Anjos não passa de uma versão americanizada de Asas do Desejo (um de meu filmes favoritos), com certeza acabaria sendo muito mais rigoroso com este filme. Mas ele não merece isso. O filme é muito bom.

Seth (Cage) é um anjo. Sua função é perambular pela cidade à procura de pessoas que estão passando por um momento difícil e, então, confortá-las com seu toque. Além disso, ele é responsável por receber os espíritos de pessoas que estão morrendo e escoltá-los até o `paraíso`. É então que, um dia, ao buscar o espírito de um homem que iria morrer durante uma cirurgia, Seth se encanta com a cirurgiã responsável pela operação, a Dra. Maggie Rice (Ryan). O Anjo fica impressionado com a determinação da garota em não deixar que seu paciente morra - e com seu sofrimento quando isso acontece. Mas o que ele pode fazer? Deixar de ser um Anjo para poder amá-la? Isso é possível? E se for, ele deve fazê-lo?

Nicolas Cage nunca esteve tão bem. Sua expressão de `paz` é absolutamente encantadora. Ele conseguiu me convencer o tempo todo de que era um Anjo, de que não conhecia a dor e, ao mesmo tempo, de que seria capaz de combatê-la sempre que necessário. Ele olha para os humanos com um carinho tão grande, tão intenso, que é impossível não pensar que seria realmente reconfortante se tivéssemos, em nossa vida, um bando de Anjos a nos proteger e a nos apoiar.

Aliás, os Anjos são um capítulo à parte: onipresentes, eles chegam a ser assustadoramente plácidos em suas roupas pretas e em seus olhares impassíveis. Andando no alto de arranha-céus, de construções, de anúncios, eles transpiram poder. E o melhor: usam este `poder` em prol da humanidade. Os momentos em que se reúnem, ao nascer e ao pôr-do-sol, para ouvirem estes eventos na forma de uma música melodiosa, relaxante, transcedental, são belíssimos.

Meg Ryan também consegue uma atuação poderosa, convincente. Sua personagem não consegue acreditar que há uma continuação depois desta vida, mas, ao mesmo tempo, é justamente isso que ela procura: ela precisa acreditar que há algo mais, pois não consegue entender a limitação da Medicina, da própria vida. Ela procura algo que não conhece. E quando esta procura a leva até Seth, ela não consegue aceitar de imediato o bem que recebeu: é muito para ela. E a atriz consegue transmitir toda esta complexidade de maneira extremamente competente.

Além de Ryan e Cage, Cidade dos Anjos tem uma galeria de outras belas interpretações. No entanto, destacarei Dennis Franz, como o Anjo que optou por largar a eternidade a fim de conhecer o dom da humanidade e André Braugher, que confere um belo toque ao filme com seu Cassiel.

A direção de Brad Silberling é extremamente sensível: ele sabe como entrar em seus personagens. Não é à toa que ele abusa dos close-ups nos rostos de Seth e Maggie: ele quer nos mostrar os olhos, a alma do casal. E consegue. Esta `proximidade` leva o espectador a uma identificação ainda maior com os protagonisas, tornando o filme ainda mais pessoal - a platéia se importa com o que irá acontecer a eles.

A fotografia de John Seale é maravilhosa, estupenda, de tirar o fôlego. E não poderia ser de outra maneira: o mundo dos Anjos é o mundo das alturas. Eles gostam disso. O tempo todo estamos vendo estas Criaturas conversando no alto de prédios, ou de placas de sinalização. Aliás, Cidade dos Anjos é um filme belíssimo do ponto-de-vista `plástico`: a iluminação, os enquadramentos, a própria fotografia... cada tomada é uma pequena pintura.

Se somarmos a tudo isso a inspirada música de Gabriel Yared, tudo se completa para criar um clima mágico, especial. E o melhor de tudo é que o diretor Silberling ainda utiliza a tecnologia avançada do cinema americano a serviço da história: a seqüência em que Seth `cai` do alto de um prédio é muito bem-realizada (e com a edição de Lynzee Klingman fica ainda mais eficaz).

Cidade dos Anjos foi, para mim, uma grande surpresa. Esperando assistir a um melodrama vagamente baseado em uma obra-prima, fui surpreendido por uma pequena pérola que faz jus ao filme no qual foi inspirada. Não costumo apreciar refilmagens. Agora constatei, mais uma vez, que toda regra tem sua exceção. E Cidade dos Anjos é esta exceção.
``

7 de Junho de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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