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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/08/2000 09/06/2000 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
118 minuto(s)

60 Segundos
Gone in Sixty Seconds

Dirigido por Dominic Sena. Com: Nicolas Cage, Angelina Jolie, Giovanni Ribisi, Will Patton, Delroy Lindo, Timothy Olyphant, Chi McBride, Christopher Eccleston, Vinnie Jones e Robert Duvall.

60 Segundos é uma produção repleta de obviedades: das burocráticas cenas de ação à caracterização capenga de seus protagonistas, o filme é incapaz de surpreender o espectador uma vez sequer. Para se ter uma idéia, há uma cena em que o diretor Dominic Sena revela um depósito de ferro-velho através de uma tomada aérea e, julgando não ter transmitido a mensagem com a devida clareza, exibe na tela uma legenda que diz `ferro-velho`. Será que ele tinha medo que pensássemos estar vendo uma praia deserta ou algo assim?

Produzido por Jerry Bruckheimer, cujos filmes de ação já se tornaram uma espécie de evento anual em Hollywood, 60 Segundos gira em torno de Randall `Memphis` Raines (Cage), um ex-ladrão de carros que é obrigado a cometer um último golpe a fim de salvar a vida de seu irmão Kip (Ribisi). Para tanto, ele terá que roubar 50 carros em pouco mais de 12 horas - e, assim, ele é obrigado a reunir mais uma vez sua antiga equipe, que inclui o veterano Otto (Duvall), o bem-humorado Donny (McBride), a bela Sway (Jolie) e o calado Sphinx (Jones). Juntos, eles se envolvem em várias perseguições enquanto são `caçados` pelo resoluto detetive Castlebeck (Delroy Lindo).

O roteiro, pessimamente escrito por Scott Rosenberg, não possui a menor estrutura narrativa, procurando simplesmente criar situações que prendam a atenção do espectador entre uma cena de ação e outra. Assim, uma gangue `rival` à de Memphis é introduzida na história somente para ser descartada momentos depois sem maiores explicações. O objetivo, obviamente, é fornecer a desculpa necessária para que a equipe de efeitos visuais destrua alguns carros nas cenas em que estes `vilões` aparecem. Para piorar, Rosenberg ainda escreve diálogos repletos de sentimentalismo barato que não se ajustam a esta produção - além de obrigar Nicolas Cage a dizer uma das falas mais ridículas que já apareceram em um filme de ação: quando o irmão de seu personagem insiste em participar do golpe, ele protesta energicamente gritando `Mamãe quer você fora disso!`. Isso para não mencionarmos o `romance` entre Cage e Angelina Jolie, que é superficial, sem propósito, pára o filme e não leva a nada.

A personagem da atriz, aliás, é completamente dispensável e foi adicionada ao roteiro somente para cumprir um velho clichê dos filmes de `quadrilha`: sempre que alguém tenta reunir uma antiga gangue, um dos envolvidos inicialmente se negará a participar do novo golpe - somente para mudar de idéia momentos depois, é claro. Outro que está completamente desperdiçado em 60 Segundos é o veterano Robert Duvall, que aparece pouco (para sua sorte!) e não faz nada de relevante. O que Bruckheimer fez para convencer estes dois atores a participarem desta produção é um mistério. Ou melhor: nem tanto. Mistério é a quantia que ele ofereceu.

Cage, por sua vez, volta a personificar o herói indestrutível que já interpretou em filmes como Con Air e A Rocha (ambos do produtor Bruckheimer, que parece fascinado em arranjar papéis `musculosos` para este tarimbado ator). O interessante é que seu personagem em 60 Segundos é tão `bonzinho` que nenhum policial que o persegue morre em função disso - algo que macularia a aura de bom moço de Memphis. No entanto, depois de tantas batidas e capotagens, a coisa começa a ficar estranha - principalmente depois que uma viatura é atingida por um guindaste sem maiores conseqüências para seu ocupante.

Para completar, o roteiro é recheado com várias tentativas pobres de humor, como na cena em que um dos ladrões tenta ensinar uma garota oriental a dirigir: o choro da moça ao cometer um deslize é tão artificial que o resultado final é embaraçoso, não engraçado. Outro exemplo pode ser encontrado na seqüência em que dois integrantes do grupo de Memphis roubam um carro somente para descobrir que há uma cobra no veículo.

Com relação ao aspecto técnico, por outro lado, o filme é bem realizado: a fotografia, como de costume, é belíssima e abusa do amarelo; a trilha sonora é pesada, mas pontua bem as perseguições; e, finalmente, o som é ensurdecedor e envolvente. É realmente uma pena que as cenas de ação fiquem a desejar: à exceção de um absurdo (mas divertido) salto, 60 Segundos não exibe nenhuma daquelas façanhas às quais nos habituamos a ver em títulos como Matrix ou A Outra Face.

Se você é fascinado por carros, vá assistir a este filme e se deleite com o alto ronco dos motores dos diversos automóveis roubados e destruídos ao longo da história. Porém, se você prefere boas seqüências de tirar o fôlego, a melhor pedida continua a ser Missão: Impossível 2 - ou praticamente qualquer uma das produções anteriores de Bruckheimer.
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7 de Agosto de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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