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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/06/2003 17/06/2003 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
138 minuto(s)

Direção

Ang Lee

Elenco

Eric Bana , Jennifer Connelly , Sam Elliott , Josh Lucas , Cara Buono , Celia Weston , Nick Nolte

Roteiro

John Turman , Michael France , James Schamus

Produção

Stan Lee

Fotografia

Frederick Elmes

Música

Danny Elfman

Montagem

Tim Squyres

Design de Produção

Rick Heinrichs

Figurino

Marit Allen

Direção de Arte

John Dexter , Greg Papalia

Hulk
Hulk

Dirigido por Ang Lee. Com: Eric Bana, Jennifer Connelly, Sam Elliott, Josh Lucas, Cara Buono, Celia Weston e Nick Nolte.

No momento em que eu saía do cinema, depois de ter assistido a esta mais recente adaptação dos quadrinhos da Marvel, um leitor do Cinema em Cena (que entrava para ver a sessão seguinte) me perguntou se eu havia gostado do filme. Minha resposta foi um simples `É bom!`, já que eu estava atrasado para outro compromisso, mas, na realidade, eu deveria ter dito: `Depende de suas expectativas. Se você quer ver uma história repleta de ação e explosões, provavelmente ficará desapontado. Por outro lado, se você estiver preparado para conhecer um protagonista amargurado e tiver um pouco de paciência para permitir que os relacionamentos entre os personagens se desenvolvam melhor, a experiência será bem agradável`. Pois a verdade é que Hulk confere maior peso ao aspecto dramático de sua trama do que aos elementos de aventura – algo que certamente provocará tédio nos espectadores mais jovens.

Produzido a partir dos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby, o filme tem início em 1966, quando o cientista David Banner desenvolve uma pesquisa sobre a regeneração de tecidos humanos. Proibido pelos militares de levar o trabalho adiante, o Dr. Banner resolve testar sua fórmula em si mesmo – e acaba passando suas alterações genéticas para o filho, Bruce. Trinta anos depois, Bruce Banner é um jovem cientista que se dedica a um projeto semelhante ao do pai – algo do qual ele não está ciente, já que acredita ser órfão e não se lembra de nada a respeito de sua infância. Depois de um acidente envolvendo radiação gama, o rapaz passa a sofrer transformações assustadoras sempre que fica nervoso, dando origem ao imenso Hulk. Agora, com a ajuda da bela Betty Ross, ele terá que descobrir o que realmente aconteceu ao mesmo tempo em que confronta o próprio pai e também o de sua companheira.

Determinado a explorar ao máximo o potencial dramático da trama, o cineasta Ang Lee utiliza a primeira meia hora de projeção para apresentar os personagens e suas motivações, estabelecendo um interessante paralelo entre os relacionamentos de Bruce e Betty com seus respectivos pais. Interpretados por Nick Nolte e Sam Elliott, os dois homens são figuras fascinantes, já que, ao contrário de seus filhos (que passam boa parte do filme na mais absoluta ignorância sobre o que está acontecendo), possuem razões fortes para agirem de maneira aparentemente cruel – e chegam até mesmo a manipular os mais jovens para que estes os auxiliem em seus propósitos. Curiosamente, David Banner e o general Ross também parecem se preocupar genuinamente com seus descendentes, obrigando Bruce e Betty a se afastarem um do outro pelo mesmo motivo: receio de que estes possam se ferir mutuamente.

Além disso, o diretor retrata Bruce não como herói, mas sim como um condenado – um homem cujo `poder` o transformou em uma verdadeira aberração, em um Frankenstein moderno (não deixa de ser curioso observar que Hulk foi produzido pela mesma Universal que, na década de 30, se especializou em histórias de monstros). Ao contrário de heróis como o Homem-Aranha ou os X-Men, Bruce não possui controle sobre seus `superpoderes`, chegando a ser obrigado a tentar conter a própria raiva para não dispará-los - o que não o impede de apreciar, até certo ponto, a liberdade e o poder que estes lhe concedem. (Esta diferença entre Hulk e outros personagens da Marvel podia ser constatada até mesmo nas músicas-tema dos seriados de tevê: enquanto a de O Homem-Aranha era agitada e bem-humorada, a de O Incrível Hulk era melancólica e resumia-se a um solo de piano).

Justamente em função desta natureza sofrida do personagem, o cineasta Ang Lee, que inicialmente poderia ser considerado uma escolha atípica para o projeto, revela-se o nome ideal para comandar esta adaptação, já que possui o talento indispensável para combinar cenas dramáticas e intimistas com as esperadas seqüências de ação (não se esqueçam de que ele também realizou O Tigre e o Dragão). Porém, apesar de encarar a produção como uma tragédia grega, Lee foi respeitoso o bastante para envolver o filme em uma embalagem que certamente agradará aos fãs dos quadrinhos: desde as fontes utilizadas nos créditos iniciais até os balões de diálogo vistos nos créditos finais, Hulk jamais deixa de homenagear suas origens. Trabalhando de forma inteligente com o editor Tim Squyres, o diretor utiliza de forma extremamente interessante o velho recurso das telas dividas, criando quadros superpostos uns aos outros e mostrando o mesmo personagem a partir de vários ângulos – recursos típicos da linguagem dos gibis. E mais: as passagens de cenas são incrivelmente fluidas, conferindo ainda mais energia ao filme (em vários momentos, o fundo de uma cena é coberto por algum elemento do primeiro plano da cena seguinte). Sinceramente, espero que a Academia se lembre de Squyres na temporada do Oscar.

Com relação ao Hulk em si, é preciso reconhecer que os artistas da Industrial Light & Magic fizeram um belíssimo trabalho na criação do personagem – embora, em momento algum, seja possível ignorar que se trata, afinal de contas, de uma figura animada por computadores. Felizmente, a artificialidade da criatura é contornada pelo bom desenvolvimento da trama: quando Bruce vira o Hulk pela primeira vez, a transformação acontece em um momento dramático perfeito; e, como a história havia nos preparado para aquele momento, acabamos por aceitar que Bruce Banner se encontra em algum lugar daquele `monstro` – e, com o passar do tempo, aceitamos o gigante com mais facilidade (embora eu não tenha conseguido me acostumar com seus saltos). E para aqueles que questionaram a verosimilhança da calça do personagem, que jamais se rasga, eu pergunto: vocês são capazes de acreditar na `existência` do Hulk, mas não conseguem aceitar uma calça indestrutível? E além do mais, qual seria a alternativa? Particularmente, eu não gostaria de ver um pênis gigantesco e esverdeado sempre que Bruce ficasse nervoso.

Contando com ótimas atuações de todo o elenco (especialmente dos veteranos Elliott e Nolte – este último merecendo um prêmio por seu desempenho), Hulk falha somente em seu ato final, já que os roteiristas James Schamus, John Turman e Michael France sucumbem ao dispensável recurso de criar um `supervilão` para enfrentar o protagonista (algo que o filme realmente não precisava). Além disso, a resolução do conflito entre Bruce e seu pai deixa a desejar, já que se torna absurda demais. Para completar, o filme acaba se tornando um pouco mais longo do que o ideal, embora não chegue a cansar.

Deixando pistas para uma possível continuação (David Banner parece conhecer algum segredo sobre Betty Ross), Hulk é um verdadeiro presente para os fãs do personagem e de Ang Lee (dois grupos que, no passado, poderiam ter sido considerados incompatíveis). E espero que o leitor que citei no início desta análise tenha gostado do filme. Eu gostei.
``

27 de Junho de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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