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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/08/2003 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
87 minuto(s)

Voando Alto
A View From the Top

Dirigido por Bruno Barreto. Com: Gwyneth Paltrow, Mark Ruffalo, Christina Applegate, Candice Bergen, Kelly Preston, Marc Blucas, Jessica Capshaw, Stephen Tobolowsky, Rob Lowe, Joshua Malina e Mike Myers.

Dos 111 artigos publicados sobre Voando Alto no Rotten Tomatoes, principal site de críticas cinematográficas da Internet mundial, apenas 14 recomendam o filme para os leitores – e o texto que você lê neste exato momento é justamente um destes 14. Como único brasileiro a fazer parte do Rotten Tomatoes, é possível que eu logo receba emails com acusações de bairrismo (acreditem: já recebi mensagens por motivos muito mais absurdos), já que o diretor da produção é Bruno Barreto, responsável por longas como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Beijo no Asfalto e O Que É Isso, Companheiro?. Porém, a grande ironia é que, apesar de ter apreciado moderadamente Voando Alto, acredito que o filme poderia ter sido mais bem-sucedido caso não tivesse dois problemas: Gwyneth Paltrow e... Bruno Barreto.

Aparentemente confuso com o tom que deveria conferir ao filme (que gira em torno da trajetória de uma garota simples rumo ao seu sonho de tornar-se comissária de bordo de vôos internacionais), Barreto jamais define que tipo de humor pretende adotar em sua história – reflexo de sua pouca experiência no gênero. Assim, Voando Alto assume, em determinados momentos, a postura de `comédia de situação` (como na cena em que Paltrow se apavora em seu primeiro vôo), enquanto, em outros, parece investir no besteirol, em piadas mais `escrachadas` (como no confronto entre as personagens de Applegate e Paltrow e, obviamente, nas cenas protagonizadas por Mike Myers). Como se não bastasse, o diretor ainda faz algumas investidas constrangedoras no campo do melodrama, também sem sucesso. Além disso, o roteiro do estreante Eric Wald, que busca definir-se como `comédia romântica`, deixa a desejar nos dois aspectos: apesar de algumas boas piadas, não há risos suficientes para que o filme funcione como comédia; e o envolvimento amoroso visto na trama é raso, o que também o desqualifica como romance. Ainda assim, devo reconhecer que a história é interessante – especialmente por abordar um universo pouco visto no Cinema: o das aeromoç... digo, comissárias de bordo.

Mas o principal equívoco de Voando Alto é, indubitavelmente, a escalação de Paltrow como a heroína Donna Jensen: acostumada a interpretar personagens mais sofisticadas e contidas (e geralmente nada expressivas), a atriz recebe, aqui, a tarefa de compor um tipo mais vivo e enérgico – e falha miseravelmente. Sem saber o que fazer, Paltrow assume comportamentos completamente diferentes entre si a cada nova cena: em certos momentos, é insegura, transformando-se em uma mulher decidida minutos depois; aqui, parece deprimida, mas, logo adiante, surge alegre e espirituosa; em algumas cenas, soa fútil e simplória, revelando, em outras, profundidade e inteligência. Em suma: a moça não cria uma personagem, mas sim um objeto de cena a serviço das necessidades imediatas do roteiro.

Felizmente, o restante do elenco se sai bem melhor: Mark Ruffalo, a quem aprendi a admirar no ótimo Conta Comigo, esbanja simpatia como o interesse romântico de Paltrow (e é impossível entender como um sujeito tão compreensivo pode se interessar por uma mulher egoísta como esta; enquanto Candice Bergen encarna com facilidade o papel de `fada-madrinha`. Da mesma forma, a bela Christina Applegate convence como a complicada Chris, e até mesmo Kelly Preston, especialista em viver mulheres sensuais e vulgares, desperta simpatia por sua personagem. Já Mike Myers é um capítulo à parte: embora seja o grande destaque do filme, arrancando risadas com facilidade ao assumir o papel de um instrutor estrábico e frustrado, o fato é que seu personagem parece pertencer a outro filme – um que seguisse o mesmo estilo de humor da série Austin Powers. Aliás, vou além e digo que gostaria de ver um filme protagonizado por John Whitney (o tal instrutor), que parece ser uma figura bastante interessante (em seu escritório, há fotos suas ao lado de outras figuras reconhecidas por seus olhares `tortuosos`: Marty Feldman, Peter Falk e Sammy Davis Jr.). Porém, no universo estabelecido por Barreto para Voando Alto, Whitney soa irreal demais, demonstrando que o cineasta não teve personalidade bastante para controlar Myers (problema que muitos diretores também enfrentam com outro comediante de talento: Robin Williams).

Outro equívoco que Barreto poderia ter solucionado com facilidade diz respeito aos 20 ou 30 minutos em que somos obrigados a ver Paltrow `sofrendo` por encontrar-se distante do amado: depois de martelar o espectador com o drama da personagem, o diretor chega ao cúmulo de utilizar o velho clichê em que a moça vê vários casais se beijando, acentuando sua solidão (para completar o lugar-comum, Barreto situa a cena em Paris!). Outro elemento que deveria ter ficado no chão da sala de edição, aliás, é a narração da protagonista, que jamais sai do óbvio e é completamente dispensável. Por outro lado (e para que não digam que não vi nada de positivo no trabalho do brasileiro), há uma excelente tomada em que o cineasta ilustra a passagem dos meses através de um recurso simples e elegante: girando a câmera 360 graus no apartamento de Paltrow.

Agradável graças aos simpáticos personagens secundários, Voando Alto sobrevive, por pouco, ao vácuo representado por sua protagonista, que praticamente suga toda a energia de todos com quem contracena. O filme pode até não ser uma obra-de-arte, mas está longe de ser o desastre que muitos anunciaram. Ao menos, ele diverte.
``

9 de Agosto de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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