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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
10/10/2019 16/05/2018 3 / 5 / 5
Distribuidora
Supo Mungam Films
Duração do filme
113 minuto(s)

Em Guerra
En guerre

Dirigido por Stéphane Brizé. Roteiro de Stéphane Brizé e Olivier Gorce. Com: Vincent Lindon, Mélanie Rover, Jacques Borderie, David Rey.

Há três anos, o cineasta Stéphane Brizé e o ator Vincent Lindon tomaram o Festival de Cannes de assalto com seu poderoso O Valor de um Homem, que investigava a luta de um indivíduo demitido depois de décadas de dedicação à empresa para manter a própria dignidade diante da impossibilidade de encontrar um novo emprego. Agora, a dupla retorna ao evento com uma obra cuja ambição social e política – mesmo que com resultados inferiores – é igualmente admirável.


Desta vez, Lindon interpreta Laurent Amédéo, um líder sindical que, responsável por representar os interesses de mais de mil funcionários de uma fábrica, tenta impedir que esta seja fechada por executivos insatisfeitos com a dimensão dos lucros alcançados. (Percebam: não com possíveis prejuízos, mas com a natureza “modesta” dos lucros.) Ciente de que suas melhores estratégias residem em tentar adiar ao máximo o inevitável, Laurent enfrenta a resistência de alguns dos próprios companheiros que, aos poucos, se sentem exauridos pelas táticas da corporação e não conseguem compreender como a persistência do líder poderá trazer benefícios palpáveis à causa.

Devendo muito à abordagem realista que encontra hoje nos irmãos Dardenne seus principais representantes, Em Guerra desenvolve sua narrativa a partir de longas cenas, de elipses simples e sem depender de uma trilha não-diegética, buscando alcançar um caráter estético documental que traz urgência e força à projeção. Enquanto isso, Lindon concebe Laurent como um homem dotado de uma perseverança admirável, mas que muitos enxergam como pura teimosia e orgulho, falhando em perceber que são apenas indivíduos irredutíveis como ele que conseguem provocar rachaduras – mesmo mínimas – em corporações que contam com milhões e milhões de dólares apenas para manter seus trabalhadores derrapando nos tribunais.

Interessado em investigar todos os trâmites da complexa situação legal enfrentada pelos trabalhadores, o roteiro acompanha o protagonista e seus companheiros em reuniões de sindicato, passeatas, reuniões frustrantes com políticos e empresários e, claro, em seus raros momentos de lazer. Aos poucos, o que surge é um retrato enlouquecedor de uma sociedade que parece achar lindo quando o Estado oferece milhões de subsídios a empresários e a corporações bilionárias, mas imediatamente protesta quando tenta proteger minimamente o cidadão comum, quando, então, não hesita em condenar o “intervencionismo” que, quando voltado para os milionários, era tão admirável.

Atual e importantíssimo, Em Guerra ainda assim acaba soando cansativo não por qualquer equívoco de seus realizadores, mas justamente por retratar tão bem a natureza ingrata da luta daqueles trabalhadores. E se o espectador mal consegue conter duas horas de irritação, imaginem a dedicação e o esforço que a batalha exige na vida real.

Texto originalmente publicado como parte do Festival de Cannes 2018.

24 de Maio de 2018

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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